Quando você voltar

Outro dia depois de amanhã

Tem dias que a gente acorda assim, sentindo um pouco de agonia no peito, o coração parece que vai sair pela boca, e o suor nas mãos.
Tem dias que a gente acorda assim, e é só acordar, eu estava me esperando acordar, levantar da cama e sorrir, mesmo que as vezes o sorriso tivesse ficado entalado bem no fundo da garganta, depois de algumas partidas a gente fica assim meio engasgado, meio entalado.
Eu já te disse inúmeras vezes que a vida é assim, que a gente é assim, sempre espera o dia depois de amanhã, sempre procura no amanhã o que poderíamos e deveríamos buscar hoje,  não é a vida o privilégio de viver o presente como um presente ?
Como posso continuar sentindo o gosto amargo do ontem, e o gosto ácido do amanhã? Sendo que o hoje é doce, é doce como fruta fresca e madura colhida direto no pé.
O outro dia depois de amanhã foi o dia em que eu decidi me livrar disso, estava vivendo o presente a passos curtos por que vivia me enchendo de futuro, nós que vivemos correndo por todos os cantos nos enchemos de que se não de pressa e orgulho?
Eu sei que um dia a gente vai se arrepender amargamente de ter visto a vida correr livre e solta pela janela enquanto de dentro de casa olhamos ela passar.
O outro dia depois de amanhã é certamente o dia em que vou saber que se tivesse mais um único segundo teria segurado a sua mão antes de atravessar a rua, e também antes de atravessar as tempestades, mas é assim, é sempre o dia depois de amanhã.