𝐓𝐰𝐢𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭 | 𝐕𝐦𝐢𝐧 𝐕𝐞𝐫𝐬𝐢𝐨𝐧

.𝟑.

Enquanto eu andava pelo corredor para me apresentar ao professor e conseguir que assinasse minha caderneta, eu a observava, tentando disfarçar. Assim que passei, ele de repente ficou rígido em seu lugar. Ele me olhou tão rápido que fui pego de surpresa, encontrando meus olhos com a expressão mais estranha do mundo — era mais do que zangada, era furiosa, hostil. O olhei de volta e o encarei por alguns segundos, ele continuou me olhando e me venceu na minha competição imaginária de que desvia o olhar primeiro. — Droga — . Porém de uma coisa eu estava certo sobre os olhos. Eram pretos — pretos como carvão.

A Sra. Michaels assinou minha caderneta e passou um livro, sem nenhum dos absurdos das apresentações e sem mencionar meu nome completo. Consegui perceber que íamos nos dar bem. — Quero ver esses filhos da puta agora rir da minha habilidade de falar inglês.— É claro que ela não teve alternativa a não ser me mandar para o lugar vago no meio da sala. Mantive os olhos baixos enquanto fui me sentar ao lado dele, querendo saber o que podia ter feito para ganhar o olhar hostil que ele me lançou. O encarei novamente ao colocar os livros na carteira e tomar meu lugar, e vi sua postura mudar. Ele estava inclinado para longe de mim, sentado na ponta da cadeira, e desviava o rosto como se sentisse algum fedor. Discretamente, dei uma fungada. Minha camisa estava com cheiro de sabão em pó. Como isso podia ser ofensivo?

— Esquisito — Murmurei olhando para minha enquanto puxava a cadeira para a direita, dando o máximo de espaço possível a ele, e tentei prestar atenção à professora.

A aula era sobre anatomia celular, uma coisa que eu já estudei isso. De qualquer modo, tomei notas cuidadosamente, sempre olhando para frente, esquecendo a existência do ser humano ao lado. As vezes de espiar o garoto estranho ao meu lado de vez em quando.

Durante toda a aula, ele não relaxou um minuto da postura rígida na ponta da cadeira, sentando-se o mais distante possível de mim. A mão estava fechada em punho em cima da coxa farta, os tendões sobressaindo por baixo da pele clara. Isso também ele não relaxou.

Estava com as mangas compridas da blusa branca puxadas até os cotovelos, e os antebraços eram surpreendentemente rijos e musculosos sob a pele clara. Não consegui deixar de reparar no quanto a pele era perfeita. Não havia nenhuma sarda, nenhuma cicatriz. A aula parecia se arrastar mais do que as outras. Seria porque o dia finalmente estava chegando ao fim, ou porque eu esperava que o punho dele relaxasse? Não aconteceu: ele continuou sentado tão imóvel que nem parecia respirar. — Qual era o problema dele? Será que era seu comportamento normal? — Questionei a avaliação que fiz da amargura de Jared no almoço. Talvez não fosse só ressentimento.

Isso não podia ter nada a ver comigo. Ele nunca tinha me visto na vida. A Sra. Banner devolveu alguns testes quando a aula estava quase acabando. Entregou um para mim, para eu passar para o garoto. Olhei para o nome do garoto que estava escrito na folha... e logo a informação estava errada sobre o nome completo dele. Era Jimin K. Park, não Kim Jimin. Olhei para ele quando fui entregar o teste e me arrependi na mesma hora. Ele estava me olhando de cara feia, os olhos pretos e longos cheios de repugnância.

— Perdeu alguma coisa em mim garoto? — Questionei olhando ele. Sua expressão ficou extremamente intensa, como se com um olhar ele pudesse me matar.

Naquele momento, o sinal tocou alto, fazendo-me pular, e Park Jimin saiu da carteira. Ele se movia como um dançarino, com cada linha perfeita do corpo levemente magro em harmonia com o resto, de costas para mim, e saiu pela porta antes que qualquer outro tivesse saído da carteira. Fiquei paralisado no meu lugar, com um olhar vazio voltado para o local por onde ele saiu. Ele era tão grosseiro. Comecei a pegar minhas coisas devagar, tentando bloquear aquele sentimento ruim que se espalhavam em mim. Por que eu devia sentir culpa? Ou triste? Não fiz nada de errado. Como poderia? Eu nem fui apresentado a ele. — E nem quero, espero que ele morra.