.𝟐𝟖.

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Foi diferente essa manhã.

Todas as coisas que pareceram possíveis na noite anterior, no escuro, pareciam piadas ruins com o sol no céu, mesmo dentro da minha cabeça. Aquilo aconteceu mesmo? Eu me lembrava das palavras direito? Ele tinha mesmo dito aquelas coisas para mim? Eu fui mesmo corajoso o bastante para dizer as coisas que achei que tinha dito?

Eu estava surtando por dentro,eu não queria que isso realmente verdade... Queria que fosse mais do tipo uma história sendo lida através de um celular, por uma plataforma...

Do lado de fora da minha janela, havia neblina e estava escuro, absolutamente perfeito. Ele não tinha motivos para não ir à escola hoje. Coloquei camadas de roupas, lembrando que não estava com o casaco e torcendo para não ficar encharcado até conseguir recuperá-lo.

Quando desci, Charlie já havia saído; eu estava mais atrasado do que tinha percebido. Engoli uma barra de cereal em três dentadas, empurrei para dentro com leite bebido direto da caixa e corri porta afora. Com sorte, a chuva daria um tempo até eu poder encontrar Jared. Com sorte, meu casaco ainda estaria no carro dele. A neblina estava muito densa; o ar era quase fumarento. A bruma era gelada onde tocava no meu rosto, e eu mal podia esperar para ligar o aquecimento da minha picape.

Era uma neblina tão densa que eu estava a pouca distância da entrada de veículos antes de reparar que havia outro carro ali; um carro prata familiar. Meu coração deu aquele salto duplo esquisito, e torci para não estar desenvolvendo nenhum problema na aorta. A janela do passageiro estava abaixada, e ele estava inclinado na minha direção, tentando não rir da minha cara de posso estar tendo um ataque cardíaco.

— Quer uma carona para a escola? — perguntou ele. Apesar de estar sorrindo, havia incerteza na voz dele. Ele não queria que eu fizesse nada por ímpeto, queria que eu pensasse no que estava fazendo. Talvez até quisesse que eu dissesse não. Mas isso não ia acontecer.

— Quero, obrigado assim eu economizo na minha gasolina — eu disse, tentando parecer casual. Quando entrei no carro, percebi uma jaqueta caramelo pendurada no banco do carona. — O que é isso?

— A jaqueta de Yoongi. Eu não queria que você pegasse um resfriado nem nada.

Coloquei a jaqueta com cuidado no banco de trás. Ele não parecia se importar de pegar as coisas dos irmãos, mas quem sabia o que eles achavam? Uma das imagens confusas que eu lembrava do acidente de carro, mesmo tendo sido semanas antes, era dos rostos dos irmãos olhando de longe.

A palavra que melhor resumia a expressão de Lisa e principalmente de Yoongi era de pura fúria. Eu podia ter dificuldade de ter medo de Jimin, mas achava que não teria o mesmo problema com Yoongi.

— Estou bem — falei, e bati com o punho no peito duas vezes. — Meu sistema imunológico está em ótima forma.

Ele riu, mas eu não sabia se por me achar engraçado ou ridículo. Ah, tudo bem. Desde que eu a fizesse rir. — Puta merda eu sou muito gado clã. — Ele dirigiu pelas ruas envoltas de névoa, sempre rápido demais, mal olhando para a pista. Também não estava de casaco, só com um suéter lilás com as mangas puxadas. O suéter era grudado no corpo, e tentei não ficar olhando. O cabelo estava úmido, desgrenhado, com mechas caídas para todo lado, e a forma como exibia o pescoço esguio também era uma distração.

Senti vontade de passar os dedos por aquele pescoço... — Não querendo ser esquisito mas já sendo. — Mas eu tinha que tomar mais cuidado, como ele me avisou na noite anterior. Eu não sabia direito o que ele quis dizer, mas faria o melhor que pudesse, porque era uma coisa que ele precisava de mim. Eu não faria nada que fosse assustá-lo.

𝐓𝐰𝐢𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭 | 𝐕𝐦𝐢𝐧 𝐕𝐞𝐫𝐬𝐢𝐨𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora