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Fiquei sentado ali em silêncio, observando seu rosto enquanto os olhos em brasa olhavam para a frente, até que o carro subitamente parou. Olhei em volta, mas estava escuro demais para ver alguma coisa além do contorno vago de árvores negras na lateral da rua. Não estávamos mais na cidade.

— Tae? — perguntou ele, a voz dura e controlada.

— Sim? — Minha voz ainda estava rouca. Tentei dar um pigarro baixo.

— Você está bem? — Ele ainda não olhava para mim, mas a fúria tomava todo o seu rosto.

— Estou — resmunguei suavemente.

— Me distraia, por favor — ordenou ele.

— Desculpe, como é?

Ele suspirou com força.

— Tagarele sobre alguma coisa insignificante até que eu me acalme — esclareceu ele, fechando os olhos e apertando a ponte do nariz com o polegar e o indicador.

— Hmmm. — Revirei meu cérebro em busca de alguma coisa banal. — Estou pensando em atropelar a Kristen amanhã antes da aula.

Ele ainda estava de olhos bem fechados, mas o canto da boca se retorceu.

— Por quê?

— Ela tentou me chamar de Oppa, meu deus que menina sem noção... E ainda disse que queria que eu me sentisse melhor, então ela começou a estudar um pouco dos costumes coreanos, pra usar comigo. Mas então eu disse pra ela que não precisava daquilo tudo. Porém agora eu sou obrigado a chamar de Noona... Isso é realmente irritante aquela garota... — tagarelei.

— Eu soube disso. — Ele parecia um pouco mais composto.

— Você soube? — perguntei, descrente, minha irritação anterior cintilando. — Se eu falasse pra ele que sou gay ou que ela não faz meu tipo, que eu prefiro as garotas asiaticas... Daria errado pois aí a Erica talvez viria atrás de mim, é melhor falar que eu sou gay— murmurei, refinando meus planos. Jimin suspirou e por fim abriu os olhos. — Melhor?

— Na verdade, não.

Esperei, mas ele não voltou a falar. Ele encostou a cabeça no banco, olhando o teto do carro. Seu rosto estava rígido.

— Qual é o problema? — Minha voz saiu em um sussurro.

— Às vezes tenho problemas com meu gênio, Tae. — Ele também estava sussurrando e, enquanto olhava pela janela, seus olhos se estreitaram em fendas. — Mas não seria de utilidade nenhuma para mim voltar e caçar aqueles nojentos... — Ele não terminou a frase, desviando os olhos, lutando por um momento para controlar a raiva de novo. — Pelo menos — continuou ele — é do que estou tentando me convencer.

— Ah. — A palavra parecia inadequada, mas eu não conseguia pensar numa resposta melhor. Ficamos sentados em silêncio de novo. Olhei o relógio do painel. Eram seis e meia.

— Jared e Alan vão ficar preocupados — murmurei. — Eu devia me encontrar com eles.

Ele ligou o motor sem dizer nada, virou silenciosamente e acelerou de volta à cidade. De repente estávamos debaixo dos postes de rua, ainda seguindo rápido demais, costurando com facilidade os carros que passeavam lentamente junto ao calçadão. Estacionou paralelamente ao meio-fio em uma vaga que eu teria achado pequena demais para o Volvo, mas ele deslizou para o local sem esforço na primeira tentativa.

— Como você sabia onde...? — comecei a dizer, mas depois só sacudi a cabeça. Ouvi a porta se abrir, virei-me e o vi saindo.

— O que está fazendo? — perguntei.

— Vou levar você para jantar aqui perto. — Ele sorriu de leve, mas seus olhos eram duros.

Ele saiu do carro e bateu a porta. Eu me atrapalhei com o cinto de segurança, depois corri para sair do carro também. Ele esperava por mim na calçada. Ele falou antes que eu pudesse.

— Detenha Jared e Alan antes que eu tenha que segui-los também. Não acho que vou poder me controlar se me deparar com seus outros amigos de novo.

— Do que você está falando seu merdinha?

— Faça o que estou mandando.

— Jay! Alan! — gritei.

Eles não estavam longe. Os dois se viraram, e acenei com o braço livre acima da cabeça. Eles correram até mim, o alívio no rosto dos dois passando a surpresa ao verem o carro ao lado do qual eu estava. Alan olhou para dentro do carro e seus olhos saltaram de reconhecimento.

— O que aconteceu com você? — perguntou Jared. — Achamos que você tinha ido embora.

— Não, eu só me perdi. E depois, encontrei o Jimin.

— Ah, oi... Jimin— disse Alan.

— E aí, Jimin— disse Jared na direção dele; em seguida, olhou para mim. Eu devia estar estranho, com a mão segurando a porta aberta, mas sem soltar. — É que... o filme já começou, eu acho.

— Desculpe por isso.

Ele olhou no relógio.

— Ainda deve estar nos trailers. Você... — Ele olhou para minha mão no carro. — Você ainda quer ir?

Eu hesitei e olhei para o Jimin.

— Você também gostaria de ir...Jimin? — perguntou Alan com educação. Jimin se inclinou sobre o capô e mostrou as covinhas num sorriso. O queixo de Jared caiu.

Essa yag tinha uma queda pelo Jimin! Mas quem não teria?!

— Já vi esse filme, mas obrigada, Alan — disse ele. Alan piscou várias vezes e pareceu esquecer como falar. Fez com que eu me sentisse um pouco melhor por sempre agir como idiota perto dele. Quem conseguia evitar?

— Em uma escala de um a dez, quanto você quer ver esse filme agora? — murmurou ela.

Cinco mil negativos,

— Hã, nem tanto assim — sussurrei para ele.

Ele sorriu diretamente para Jared.

— Vou estragar a noite de vocês se eu fizer Tae me levar para jantar? — perguntou ele. Jared só balançou a cabeça. — Obrigada — disse ele. — Dou carona para Tae até em casa. Ele voltou para o carro. — Entre no carro, Tae.

Alan e Jared ficaram me olhando. Dei de ombros rapidamente e entrei no banco do passageiro.

— Mas que diabos? — eu ouvi Jared murmurar quando bati a porta. Não pude olhar melhor a reação deles. Jimin já estava se afastando em disparada.

— Você quer mesmo jantar? — perguntei a ele. Ele me olhou com dúvida nos olhos. Estaria pensando o mesmo que eu estava pensando, que nunca a vi comer nada?

— Achei que você talvez quisesse — disse ele.

— Estou bem — falei.

— Se você preferir ir para casa...

— Não, não — acrescentei, rápido demais. — Podemos jantar. Eu só quis dizer que não precisa ser isso. O que você quiser. 

𝐓𝐰𝐢𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭 | 𝐕𝐦𝐢𝐧 𝐕𝐞𝐫𝐬𝐢𝐨𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora