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Finalmente fomos almoçar. Eu estava tão ansioso para ver não só Jimin, mas todos os Kim, que foi quase doloroso. Precisava compará-los com as desconfianças que me assombravam. Talvez, com todos juntos em um mesmo lugar, eu conseguisse ter certeza de que estava errado, de que não havia nada de sinistro neles. Assim que passei pela soleira da porta do refeitório, senti o primeiro tremor de medo latejar no meu estômago.

Eles conseguiriam saber o que eu estava pensando? E depois, uma sensação diferente me abalou: Jimin estaria me esperando de novo? Como era minha rotina, olhei primeiro para a mesa dos Kim. Senti uma pequena onda de pânico quando vi que estava vazia. Com esperança cada vez menor, meus olhos varreram o resto do refeitório, torcendo para encontrá-la sozinho.

O local estava quase lotado, a aula de espanhol nos atrasara, mas não havia sinal de Jimin nem de ninguém da família dele. De uma hora para outra, meu bom humor desapareceu. Estávamos tão atrasados que todos já estavam em nossa mesa. Evitei a cadeira vazia ao lado de Kristen e fui para outra perto de Alan. Percebi vagamente que Kristen tinha guardado uma cadeira para Jared, cujo rosto se iluminou com isso.

Alan fez algumas perguntas em voz baixa sobre o trabalho de Macbeth, que respondi com a maior naturalidade possível enquanto caía numa espiral de infelicidade. Ele também me convidou para ir com eles à noite, e dessa vez eu concordei, procurando uma distração. E se Jimin soubesse o que fiz no fim de semana? E se mergulhar mais fundo nos segredos tivesse levado ao desaparecimento dele? E se eu tivesse provocado aquilo?

Aquilo estava realmente me matando...

Percebi que me agarrava ao último fiapo de esperança quando entrei na aula de biologia, vi o lugar dela vazio e senti uma nova onda de decepção. O resto do dia se arrastou. Não consegui acompanhar a discussão da aula de biologia, e nem tentei prestar atenção na aula da treinadora Clapp sobre as regras de badminton.

Fiquei feliz por sair do campus, assim eu poderia parar de fingir que estava bem até a hora de ir a Port Angeles. Mas, logo depois de entrar pela porta de casa, o telefone tocou. Era Jared, para cancelar nossos planos. Tentei parecer feliz com o fato de Kriste em ter cconvidado ele para jantar — Pois ninguém merece ela querendo que eu a chame de Noona— , mas acho que só pareci irritado. Ele reprogramou o cinema para terça. Isso me deixou sem distrações. Temperei o peixe para o jantar e terminei meu dever, mas só levei meia hora.

Chequei meu e-mail e percebi que vinha ignorando minha mãe. Ela não estava muito feliz.

엄마, 미안 해요. 사라졌다. 나는 친구들과 해변에 갔다. 그리고 저는 논문을 써야했습니다.

(Mãe, Desculpe. Estive fora. Fui à praia com alguns amigos. E precisei escrever um trabalho.)

Minhas desculpas eram muito patéticas, então desisti delas.

오늘은 맑았습니다. 저도 충격을 받았습니다. 그래서 저는 밖에 머물러서 가능한 많은 비타민 D 흡수 것입니다.

사랑해.
태형.

(Hoje fez sol — eu sei, estou chocado também —, então vou ficar lá fora e me encharcar do máximo de vitamina D que eu puder.

Eu te amo
Taehyung. )





Eu tinha uma pequena coleção de livros favoritos que vieram comigo para Forks, e agora peguei Vinte mil léguas submarinas e uma colcha velha do armário de roupas de cama no alto da escada. Lá fora, coloquei a colcha no meio do ponto mais ensolarado do pequeno quintal quadrado de Charlie e me joguei em cima.

Folheei o livro, esperando que uma palavra ou frase captasse meu interesse, normalmente uma lula gigante ou uma narwhal eram adequadas, mas dessa vez folheei o livro todo duas vezes sem encontrar nada de intrigante o bastante para me fazer começar a ler. Fechei o livro. Tudo bem, tanto faz.

Eu me bronzearia, então. Deitei de costas e fechei os olhos. Tentei argumentar comigo mesmo.

Não havia motivo para surtar. Jimin disse que ia acampar certo?

Talvez os outros planejassem se juntar a ele. Talvez todos tivessem decidido ficar mais um dia porque o tempo estava tão bom. Faltar alguns dias não afetaria as notas perfeitas dele. Eu podia relaxar.

Amanhã eu o veria novamente, sem dúvida. Mesmo se ele ou algum dos outros conseguisse saber o que eu estava pensando, isso não era motivo para sumirem. Eu não acreditava em nada daquilo, e eu não ia mesmo dizer nada para ninguém.

Era burrice. Eu sabia que a ideia toda era ridícula.

Obviamente, não havia nenhum motivo para ninguém, vampiro ou não, reagir com exagero. Era igualmente ridículo imaginar que alguém era capaz de ler meus pensamentos. Eu precisava parar de ser tão paranoico. Jimin voltaria amanhã. Ninguém achava neurose uma coisa atraente, e eu duvidava de que ele fosse a primeiro. Tranquilo. Relaxado. Normal. Eu conseguia lidar com isso. Era só inspirar e expirar.



Quando dei por mim, percebi o som da viatura de Charlie virando no piso da entrada de carros. Sentei-me, surpreso de ver que a luz sumiu e eu estava nas sombras das árvores agora. Eu devia ter adormecido. Olhei em volta, ainda desnorteado, com a sensação repentina de que não estava só.

— Charlie? — perguntei.

Mas consegui ouvir a porta batendo na frente da casa.

Fiquei de pé num pulo, tenso e me sentindo idiota por me sentir assim, e peguei a colcha e meu livro. Corri para dentro a fim de colocar o óleo para esquentar no fogão; graças ao meu cochilo, o jantar sairia atrasado. Charlie estava pendurando o cinto da arma e tirando as botas quando entrei.

— Desculpe, o jantar ainda não está pronto. Eu dormi lá fora. — Dei um bocejo enorme.

— Não se preocupe com isso — disse ele. — Eu queria pegar o placar do jogo, de qualquer forma.

Para ter alguma coisa para fazer, vi TV com Charlie depois do jantar. Não havia nada a que eu quisesse assistir, mas ele sabia que eu não gostava de basquete, então colocou numa série estúpida de que nenhum de nós gostou. Mas ele parecia feliz por fazermos alguma coisa juntos. E foi bom, apesar da minha depressão idiota, fazê lo feliz.

— Só pra você saber, pai — falei durante um intervalo —, vou ao cinema com uns caras da escola amanhã à noite, então você vai estar por sua conta.

— Alguém que conheço? — perguntou ele. Quem ele não conhecia na cidade?

— Jared Stanley, Alan Weber e Logan sei lá qual é o sobrenome dele.

— Mallory — disse ele.

— Se você diz.

— Tudo bem, mas tem aula no dia seguinte, então não exagere.

— Vamos logo depois da aula para não voltarmos tarde. Quer que eu deixe alguma coisa para o seu jantar?

— Tae, eu me alimentei por dezessete anos antes de você vir para cá — lembrou ele.

— Não sei como sobreviveu — murmurei rindo.

[...]



Tudo pareceu menos horrível de manhã, estava sol de novo, mas tentei não me encher de esperanças. Vesti um suéter mais fino, para tempo mais quente, uma peça que eu usava no auge do inverno em Phoenix. Eu tinha planejado minha chegada à escola de modo que mal tivesse tempo para entrar na sala.

Meu humor despencou rapidamente enquanto eu circulava pelo estacionamento cheio, procurando por uma vaga... e também procurando o Volvo prata que claramente não estava ali.

Foi igual ao dia anterior: eu não conseguia evitar que as sementes da esperança brotassem na minha mente, para depois vê-las sendo esmagadas sem dó enquanto eu procurava em vão pelo refeitório e me sentava no lugar vazio na carteira de biologia. E se ele nunca mais voltasse? E se eu nunca mais o visse?

𝐓𝐰𝐢𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭 | 𝐕𝐦𝐢𝐧 𝐕𝐞𝐫𝐬𝐢𝐨𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora