t r e z e

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    Tina e eu passamos o resto do fim de semana no quarto, apenas assistindo filmes e pedindo comidas gordurosas, dizendo para nós mesmas que entraríamos na academia assim que a semana começasse. Quando Bea chegou domingo a tarde, queria mais que tudo nos bater, mas graças ao bom Deus, o fim de semana "perfeito" que ela teve com o namorado a fez nos perdoar.

    Na hora que ela nos chamou para arrumar tudo saí correndo para o meu quarto, falando que tinha tarefas para fazer, o que fez Tina me fulminar com o olhar, mas consegui me safar. Estava então andando em direção ao meu quarto quando escuto algo...explodindo? Rapidamente abro a porta do quarto e vejo o desastre. Thaís estava com os cabelos para o alto e com a cara toda preta. No banheiro haviam restos de o que uma vez fora uma chapinha e a torneira da pia havia voado para longe, deixando um grande jato de água jorrando da bancada sem parar.

    —O que que você fez sua maluca?!—digo correndo em direção à Thaís, que não respondia, e apenas olhava para frente em choque, sem se mexer. Depois de uns segundos, a mesma começa a gritar tão alto que tenho que tapar os ouvidos.

    —MEU CABELO!—dito isso, a loira sai correndo do quarto, me deixando sozinha com um tsunami acontecendo no banheiro. Olho para a pequena plateia no corredor, sem saber o que fazer.

    —Vão chamar alguém!—digo e corro em direção à tromba d'água, tentando de algum modo, tapar o buraco onde antes era a torneira.

***

—E o que você tinha na cabeça para ligar uma chapinha 110 em uma tomada 220, senhorita Dias?—A diretora pergunta a Thaís.

Depois do que houve no quarto, um inspetor veio correndo desligar o registro do encanamento, e após isso nos direcionou para a diretoria.

    —Diretora, é porque eu pensei assim: se ele só precisa de 110, 220 dá e ainda sobra—a loira responde, e eu bato a mão na testa. A diretora Rosa, que parece sentir o mesmo desapontamento que eu, deixa o assunto de lado e continua o que estava dizendo.

    —Bom, o grande problema é que quando o encanador veio à escola para resolver a questão, nos disse que havia um problema mais grave na estrutura—Rosa diz com uma expressão séria—Devido à grande quantidade de água que se infiltrou no piso do dormitório, as tábuas ficaram úmidas demais e foram comprometidas. Para resolver o problema, teremos que trocar todo o piso do quarto—ela diz, e a olho preocupada. Eu não esperava que o problema fosse causar tantas repercussões assim—Com isso, terei que realocá-las para outros quartos, e para não atrapalhar os estudos ficaram no novo quarto pelo resto do ano—Vibro por dentro. Isso quer dizer que não terei mais que dividir quarto com Thais—Senhorita Dias, o seu novo quarto será o 512 no mesmo bloco. Aqui está sua chave e você está liberada para ir arrumar suas coisas.

    —Obrigada diretora Rosa, prometo que de agora em diante, vou tomar cuidado com os números da tomada—Thaís diz sorrindo, para logo após se retirar da sala.

    —Já você, senhorita Oliveira...—Rosa começa com sua expressão fechada de sempre e engulo em seco—Devo ser honesta. As vagas no colégio esse ano quase se esgotaram, e os quartos estavam lotados. A última vaga livre nos dormitórios femininos acaba de ser ocupada pela Thaís—ela então me olha receosa.

    —Então você vai me expulsar?—pergunto nervosa—Por favor direto...—começo, mas sou interrompida por ela.

    —O que? Não!—Rosa diz rindo da minha expressão de choque—Como eu estava dizendo antes, os dormitórios femininos estão lotados. Então, nesse caso, vamos abrir uma exceção. A senhorita irá dividir quarto com um dos meninos—após ela terminar, não deixo de soltar o ar que não sabia que estava prendendo desde então—E antes de a senhorita reclame, você viu como a Dias tem uns neurônios a menos, não quero arriscar deixá-la dividir quarto com um garoto, tenho medo do que pode acontecer com o coitado—Rosa fala baixinho, e rio com ela.

    —Está tudo bem, se posso ser honesta, arrisco dizer que qualquer colega de quarto é melhor do que Thaís—digo ainda rindo.

    —Ok então. Esta é a sua chave, o seu quarto é o 307, no bloco C. Qualquer problema, você sabe aonde me encontrar. Está dispensada.

    —Claro, obrigada diretora—digo me despedindo.

***

    —Você já sabe com quem que vai dividir o quarto?—Bea pergunta, enquanto termino de arrumar minhas coisas.

    —Não, mas duvido que seja tão ruim quanto dividir quarto com aquela loira de farmácia—eu digo, agradecendo a deus mais uma vez.

    —Torce para ser algum garoto gato—Tina diz do banheiro. As duas estavam me ajudando a organizar minhas coisas.

    —Claro que não! Se for gato, eu vou querer pegar, e eu não posso me envolver com uma pessoa que vou dividir quarto pelo resto do ano. Vai que o negócio desanda? Iria ser constrangedor.

    —Agora que você falou faz sentido...—Bea diz—Acabei com o guarda roupa, e vocês?

    —As coisas do banheiro já estão prontas!—Tina grita de lá de dentro.

    —Tudo pronto aqui também!—Eu digo da minha cama—Obrigada meninas! Salvadoras.

    —Que nada!—Bea diz balançando a mão—Beijo Mel, até amanhã—ela se despede, seguida de Tina, e eu sigo em direção ao meu novo quarto.

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