t r i n t a • e • c i n c o

78.7K 6.7K 4.7K
                                        

•Lucas•

No dia seguinte, Henri e eu já nos encontrávamos animados para nossa rotina pré-excursão.

—Sério!?—ele diz, quando vê a imensa fila do mercado—Nós vamos mesmo assim—diz ele me puxando até as prateleiras de doces, depois a de salgadinhos, em seguida para as geladeiras de refrigerante.

—Henrique! O ônibus só sai 12:00, relaxa—digo rindo de sua impaciência. Desde que acordou, ele não para de falar o quão ansioso estava.

—Certo, certo—diz, finalmente se acalmando—Já sabe o que vai dizer a Mel?—pergunta mudando de assunto.

—Sério Henri? Eu to tentando melhorar sua ansiedade, e em retorno, você piora a minha?—falo indignado e ele encolhe os ombros, me lançando um olhar arrependido.

Suspiro passando as mãos no cabelo, tentando pensar em outra coisa. Logo chega nossa vez no caixa e Henrique se vira para me encarar.

—Esqueci minha carteira no carro. Você paga essa—ele diz, e logo em seguida se retira com as compras, me deixando para trás.

—Ótimo...—digo suspirando e entrego o cartão para a caixa que não parava de me encarar desde que chegara nossa vez na fila.

—Nenhuma aliança—ela diz, observando minha mão—Isso significa que posso te levar para sair qualquer dia desses?—pergunta, se inclinando em minha direção.

—Sem aliança mas indisponível. Com licença—pego gentilmente o cartão de sua mão e dou as costas, saindo do supermercado esfregando minhas têmporas.

    —Eu acabei de negar uma mulher sem nem olhar para ela duas vezes—digo assim que encontro com
Henrique no táxi.

    —E...? Pera, foi por causa da Melissa?—diz, já com um sorriso se formando em seu rosto.

    —Para com isso—digo o batendo, tentando esconder o vermelho que subia pelas minhas bochechas—Eu não sei, simplesmente não dei bola. Mel não passou pela minha cabeça diretamente, mas eu apenas não tive interesse em olhar para a caixa.

    —Nossa, tu virou cadelinha mesmo—diz Henri, caindo na risada e não posso fazer nada a não ser rir com ele dizendo que é bobagem, porém com vários pensamentos rondando minha mente.

•Melissa•

    —Tina, chegamos—digo cortando a mesma, que não calou a boca um minuto durante todo o trajeto, contando todos os seus planos e expectativas para a viagem—Nem no ônibus gente está e você já está toda animada—digo rindo.

    —Ai Mel—diz revirando os olhos—Deixa de ser chata. Vai ser incrível. Vamos—diz me chutando para fora do táxi.

    Quando andamos em direção ao ponto da embarcação do ônibus da excursão, esbarramos em Bea e Edu. Enquanto minha amiga cacheada é esmagada por Tina, cumprimento seu namorado e logo volto para ela, a abraçando forte.

    —Senti sua falta—Digo quando me afasto.

    —Também senti!—ela diz, mas logo sua expressão se fecha, enquanto a mesma desfere um tapa em meu braço e me afasto chingando—Isso é por não ter me contado sobre você e Lucas. Tive que ficar sabendo por Henrique—diz séria, e a olho envergonhada. Porém, logo a mesma volta com seu sorriso habitual e eu reviro os olhos, já prevendo as palavras que sairiam de sua boca—Eu. Te. Avisei—diz pausadamente, cruzando os braços convencida.

    Revirando os olhos, deixo o grupo para trás e faço meu caminho até o ônibus. Chegando lá, rapidamente vejo Henrique, Lucas e Lara no meio da multidão. Meus pés logo travam, me impedindo de avançar ou recuar, sem saber o que fazer. Enquanto fico parada como uma retardada no meio da calçada, vejo a cabeça de Lucas virar em minha direção, com um olhar carregado de sentimentos.

    —Nem precisa de uma placa para dizer que ele está caidinho por você—me assusto com Bea, que apareceu subitamente ao meu lado.

    —Você acha?—pergunto antes que possa me conter, não conseguindo segurar o esboço de sorriso que ameaçava se expandir em meu rosto com a afirmação da morena.

    —Eu não acho, eu tenho certeza—Diz dando de ombro e seguindo para dentro do veículo.

    Respiro fundo e vejo meus pés se movimentando em direção ao cara que estava em todos os meus pensamentos sem que ao menos eu pudesse impedir.

—Oi—dizemos juntos e deixo escapar um sorriso envergonhado quando paro em sua frente.

—Mel, sobre o que você viu...—ele começa tentando se explicar mas o corto, querendo falar primeiro.

—Lucas, eu devia ter te deixado se explicar quando tudo aconteceu. Me desculpe—digo sincera, e vejo seus olhos se arregalando em surpresa.

—Você é por acaso um clone? Pois não pode ser a Melissa que eu conheço falando isso—fala com um sorriso no rosto e lhe dou um tapa no braço.

—Eu estou tentando ser razoável aqui. Não abusa—digo sorrindo também. Depois de alguns segundos de silêncio apenas nos encarando, Lucas volta a ficar sério, me olhando nervoso.

—Naquela tarde, depois de você chegar na mesa do refeitório com o braço machucado, resolvi ir tirar conclusões com Bruna. Aquilo já estava passando dos limites. Tentei horas fazer a mesma entender isso, que não tínhamos mais nada, e no final ela parecia finalmente aceitar. Eu devia saber que era só atuação. Aquela garota não desiste do que acredita ser "dela". Não sei nem como comecei a me envolver com a mesma...

—Porque ela é gostosa—o corto direta e ele me encara rindo.

—Ainda não me acostumei com o fato de você não ter filtros. Mas enfim, quando finalmente concluímos a conversa, saí do quarto, e a próxima coisa que lembro foi dela colando seu corpo e lábios aos meus, e você no fim do corredor—ele dá um suspiro—Eu sei que você não tem porque acreditar em mim, mas...

—Lucas—O interrompo novamente e ele me olha apreensivo—Eu confio em você—falo supreendendo ambos, e naquele momento vejo todos os seus músculos relaxarem.

—Mesmo?—diz esperançoso

—Sim—digo sorrindo para o assegurar—Uma amiga me ajudou a chegar à conclusão de que tudo o que falei na sexta foi meio que uma auto-sabotagem—ele me olha confuso e suspiro, pronta para quebrar de vez todas as minhas barreiras e abaixar o resto de minhas cartas. Como já dizia um grande filósofo, "faz a merda e se arrepende depois"—Eu costumo ser sempre muito racional, e fazer as coisas com a cabeça, não o coração. Mas quando estou com você—faço uma pausa abaixando meus olhos, incapaz de manter contato visual—eu não tenho...

—Controle de nada—falamos ao mesmo tempo, e sinto sua mão em meu queixo, levando meu olhar ao seu.

—Como sabia o que eu ia falar?—pergunto, o olhando confusa.

—Pois é exatamente como me sinto também—diz, antes de fechar a distância entre nós, selando nossos lábios.

Colegas de Quarto ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora