t r i n t a • e • t r ê s

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•Lara•

    Ando pelo quarto de um lado para o outro preocupada. Lucas estava muito estranho ultimamente. De início estava mais feliz do que usual, com um brilho diferente. Depois do nada, mudou completamente. Não saía do quarto, não me deixava entrar...Enquanto estou no meio de meus pensamentos, escuto uma voz.

    —Pelo amor de deus! Dá para você sentar? Eu quero assistir TV—Bruna grita impaciente.

    Ia fazer o que foi pedido quando uma idéia me veio à cabeça. Se Lucas não me contaria, vou descobrir de outro jeito. Rapidamente saio de meu dormitório e vou em direção ao quarto de Henrique. Bato por uns dois minutos, mas nada dele aparecer. Impaciente, começo a andar em direção a outro dormitório. Um que sempre tentei evitar ao máximo, mas paro em frente à ele mesmo assim.

    —Pelo Lucas—digo baixinho enquanto crio coragem para bater na porta.

    Quando finalmente o faço, a porta se abre, mostrando a morena cacheada que à muito fora minha melhor amiga. Ela parece surpresa ao me ver, mas logo fica seria novamente, cruzando os braços em frente ao corpo.

    —O que você quer?—ela diz e começo a ficar nervosa. Afinal, não falo com ela desde o boato. Mas então lembro do porque estou aqui. Respiro fundo e digo uma única palavra.

—Lucas—ela se mexe, e quase posso ver seu cérebro funcionando. Quando ela parece ter chego a uma conclusão, abre passagem para o quarto e eu entro receosa.

—E porque veio até mim?—Bea fala.

—Pois pensei que você pudesse saber o que aconteceu. Você é amiga dele afinal—a respondo.

—Sim. Mas não sei de nada. Ele tem agido meio estranho ultimamente, e acho que acabamos não conversando muito. E você?—pergunta sentando-se em sua cama e, receosamente, imito seu ato.

—No mesmo barco. Eu não entendi nada e não faço a mínima ideia do que pode ter acontecido. Pensei no fato de ser coisa de escola ou alguma garota mas...—começo.

—...É o Lucas—dizemos juntas e logo rimos. Conforme as risadas diminuíam, a realização de quanto senti saudades disso bateu. Sinto meu rosto molhado e percebo então que estava chorando.

—Ei. O que houve?—Bea pergunta, e posso claramente notar a preocupação em sua voz, o que me faz me sentir ainda pior.

—Foi você?—pergunto honestamente, e ela franze o cenho—Foi você que espalhou aquilo pela escola?—esclareço para ela, e seus olhos escurecem.

—Não. Você sabe que não—ela responde e levanta. Levanto rapidamente em seguida, seguindo-a, mas paro quando ela vira para me encarar—Você sabe que eu nunca faria algo assim, mas você preferiu acreditar naquela lá—ela descarrega e eu dou uns passos para trás. Reviver aquilo tudo de novo não era o que eu queria, mas sabia que precisávamos esclarecer as coisas.

—Eu não queria acreditar. Não acreditei a princípio. Mas Bruna me mostrou provas Bea. E eu estava tão magoada com aquilo tudo, que apenas acreditei em tudo o que ouvia. Eu estava me sentindo traída, e ela era a única que estava lá para me apoiar. Você nem se incomodou em tentar me ver para explicar toda a situação—desabafo.

—Como!? Naquele dia, eu fiquei horas sentada em frente a sua porta, assim como nos dias seguintes, mas Bruna só me dizia o quão decepcionada você estava comigo e que nunca mais queria ver minha cara. Eu sei que o que você passou foi horrível, mas não esqueça que eu também tenho sentimentos, e também me senti um lixo naquele dia, mesmo não tendo feito nada de errado—Bea conta enquanto seca suas lágrimas.

—Pera, o que? Bruna nunca me contou sobre você ter tentado me procurar. O que me fez realmente acreditar que fora você, foi isso. Na minha cabeça, ou pelo menos o que Bruna botou nela, você não me procurou pois se sentia culpada e não queria me encarar.

    —Eu nunca faria algo tão baixo a esse nível Lara, e se fizesse iria falar na sua cara o motivo, não ficar me escondendo. Você me conhece, então sabe que é verdade. E eu sei que a gente estava meio brigada na época pelo fato de você estar confiando na Bruna daquele jeito, mas nunca teve motivo para eu espalhar mentiras sobre você. Você era minha melhor amiga—Bea fala e sua voz quebra no final, me fazendo derramar ainda mais lágrimas com aquilo tudo. Ficamos em silêncio durante um tempo, processando tudo aquilo. Depois de uns minutos, viro para ela.

    —Bea?—ela me olha e eu respiro fundo tomando coragem—Você me desculpa?—pergunto baixinho, e algo em seu olhar se amolece—Eu nunca devia ter te culpado sem ao menos te dar uma chance para se explicar. Eu sinto muito de verda...—não consigo terminar, pois enquanto falava, ela já estava em cima de mim, me abraçando com tudo o que tem.

    —Me desculpa também? Você estava passando por algo complicado e eu estava descontando tudo em você, sendo que a culpa de verdade era da Bruna e você só precisava de um ombro amigo!—Bea diz, apertando seu abraço em cada palavra.

    —Amigas?—pergunto, me afastando para ver sua expressão.

    —Amigas!—Reponde sorrindo e logo estende a mão para mim—lembra do nosso toque?—Apenas a olho com uma cara óbvia e estendo a minha, pensando no grande peso no coração que se esvaiu a partir do momento em que bati naquela porta.

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