t r i n t a • e • q u a t r o

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•Melissa•

Cansada de sentir pena de mim mesma, decido dar uma volta pela praia para espairecer um pouco. Olho pela janela e já enxergo as primeiras estrelas aparecendo no céu. Quando termino de me vestir, aviso Tina que ia dar uma volta e pego o elevador. Já estou na rua quando me deparo com uma figura conhecida no barzinho ali perto, e logo me aproximo.

—Malu?—A chamo, e a mesma se vira ao ouvir seu nome. No mesmo momento, noto seus olhos vermelhos.

—Oi Mel!—Ela diz com um sorriso forçado, tomando mais um gole de sua bebida.

—Ei...—digo enquanto sento ao seu lado e peço uma bebida para mim.—Eu não sei o que houve, mas sei que não gosto de te ver triste assim—Digo, pondo a mão em seu braço, e a mesma me olha com lágrimas nos olhos.

—Ai Mel, você é um anjo. Vai me fazer chorar de novo—ela conta rindo, e a acompanho.

—Se quiser desabafar, eu estou aqui tá?—deixo claro, e ela me olha um pouco apreensiva no começo, mas logo suspira.

—Eu sei que é ridículo, mas é por um cara—ela solta uma risada irônica—Sabe o Mica?—balanço a cabeça, afirmando—Então...Todos nós do grupo sempre fomos muito amigos, nada mais que isso. Eu e Mica nunca tivemos a amizade perfeita, sempre alfinetando um ao outro. Até que teve um dia onde estávamos todos em uma festa, já meio alterados pelo álcool—ela da uma pausa—Eu estava dançando colada num carinha qualquer, e Mica apareceu do nada, batendo no mesmo. Enfim, fomos postos para fora da boate e começamos a discutir. Depois disso, a única coisa que lembro é de acordar nua no meu apartamento com Mica ao meu lado.—ela explica e suspiro fundo, lembrando de uma certa situação parecida—Desde então estamos agindo como se nada tivesse acontecido, e não sei o que faço, pois acho...acho que sinto algo por ele. Ai, minha vida está muito confusa!—Termina com as mãos na cabeça.

—Olha...—começo apreensiva—Relacionamentos não são meu forte, mas acho que você deveria se abrir com ele. Deixar ele saber como você se sente. As vezes ele sente o mesmo que você, mas está com medo de ser rejeitado e estragar a amizade—olho para ela, que parece pensar no que eu disse.

—Acho que você está certa. Se eu não me abrir só vou ficar me torturando sozinha, sem saber o que ele sente ou pensa sobre nós—ela para, pensando sobre tudo—Mas definitivamente, preciso fazer isso sóbria—ela diz, levantando a garrafa já vazia e concordo rindo. Depois de um tempo em silêncio, solto uma risada.

—O que foi?—pergunta.

—É engraçado o fato de eu estar dando conselhos amorosos, com a pior vida amorosa possível—digo, apoiando a cabeça nas mãos.

—Me conta tudo, minha vez de brincar de psicóloga—Malu diz, com um sorriso no rosto. Retribuo o sorriso, e então começo a explicar para ela todos os acontecimentos entre Lucas e eu.

—Nunca imaginei que ia achar alguém tão fodida quanto eu—Malu diz rindo e a olho em reprovação—foi mal—ela diz, sem nem um pingo de arrependimento—Vamos lá...—ela pensa—Você disse que nunca rotularam a relação, certo?—balanço a cabeça, concordando—E que você sempre se mostrava apreensiva quando ele dava um passo a mais no relacionamento—Faço que sim novamente e ela se cala por um tempo—Você viu se ele correspondeu ao beijo?

—Como assim?—Pergunto.

—O beijo dele com a vaca...ops, Bruna—Malu diz, com um pequeno sorriso mas logo voltando a ficar séria—Ele correspondeu?—me olha, esperando minha resposta.

—Acho...acho que não. Mas foi muito rápido—digo, entendendo aonde ela quer chegar.

—Você acha que não, ou você só não quer acreditar na minha teoria de que talvez ela tenha forçado o beijo para te ver mal e você na verdade tenha entendido tudo errado?—Ela diz me encarando profundamente e fico muda por um instante—Posso ser bem sincera?—ela pergunta e balanço a cabeça—Eu acho que o que está te incomodando não é o beijo, já que foi forçado e não foi traição já que vocês não assumidos—ela para e eu a olho esperando continuar—Acho que na verdade, você está usando isso como uma desculpa para o afastar—ela diz e franzo o cenho—você mesma disse que nunca esteve em um relacionamento sério, e que sempre foi muito rígida em relação à barreiras nesse sentido. Eu acho que você esta inconcientemente se auto-sabotando, e usando o beijo como desculpa para não precisar encarar Lucas e seus sentimentos por ele.

—Pesado Malu—digo, absorvendo cada palavra dita. Depois de um tempo calada, me viro para ela, usando meu último argumento—Mas ainda tem a possibilidade de ele ter algo com ela...—digo receosa.

—E qual o único jeito de descobrir a verdade...?—Malu pergunta óbvia, mas quando vê que eu não tenho uma resposta, me olha indignada—Deixa ele se explicar!

—E se eu não gostar da resposta?—digo, nervosa.

—Então pelo menos você vai saber a verdade—Malu termina e mordo a língua, não tendo como contrariá-la, sabendo que é o certo a se fazer.

Logo, o garçom para na nossa frente, nos entregando dois shots.

—Por conta da casa—diz com um sorriso, e se vira para atender o proximo cliente. Malu apenas pega o copo, e o levanta.

—À psicologia—fala animada, e concordo com a mesma virando o meu copo.

***

—Mel. Mel!—acordo com Tina me balançando, e resmungo, apoiando a mão na cabeça—Não acredito que você saiu para beber sabendo que tinha que acordar cedo no dia seguinte—ela resmunga enquanto sai do quarto. Deito novamente suspirando quando ela desiste, achando que poderia dormir mais, porém logo sinto água gelada sendo jogada em mim e me levanto em um pulo.

—Mas o que...Tina! Isso era mesmo necessário?—pergunto, a encarando.

—Bem feito—ela diz contente—Levanta e arruma suas coisas. O táxi chega em meia hora—avisa, e sai do quarto em seguida, me deixando molhada, com ressaca e puta da vida.

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