Protegendo (terceiro livro da trilogia Salva-me)

Capítulo 1

Angel

Há quatro meses, meus únicos objetivos na vida eram: Me casar com Trevor, cuidar dos meus cabelos e odiar meu pai. Tanta coisa mudou que se alguém me dissesse que minha vida mudaria tanto assim em quatro meses, eu praticamente teria dado uma boa gargalhada irônica e dito: "Corta essa!".

Quem diria que o cara que me perseguia e que eu mais temia iria se transformar no amor da minha vida? Quem diria que Robert Petrova, meu tio querido, que sempre esteve ao meu lado, é apenas um manipulador, maluco e assassino? Foram tantas descobertas, tantas mudanças que me sinto totalmente diferente, e não apenas porque agora me sinto mais forte e poderosa, mas também me sinto corajosa e capaz de, pelo menos uma vez na minha vida, fazer a diferença.

Meu corpo todo tremia, como se ondas de raiva tivessem atingido cada célula, cada nervo e gota de sangue do meu corpo. Eu podia sentir o poder se expandido e fluindo através de mim, correndo por minhas veias. Sentia o mal em mim, como se eu fosse feita somente dele. Todos têm um lado mau, mas o meu estava se manifestando da pior maneira possível. A droga me transformou no pior que eu poderia ser. Pois ao descobrir que fui enganada pelo meu tio, uma das únicas pessoas no mundo que mais amei, e de perceber que estou perdendo Jason para sempre, isso só fez com que a raiva e o poder da droga se alastrassem mais rápido e mais intensamente pelo meu corpo.

— Seus olhos! — O Sombra da Noite, também conhecido como Robert Petrova, me encarou curioso. — O que você fez? — Indagou perplexo.

Sem respondê-lo, joguei um olhar de morte para ele e trinquei os dentes, pronta para acabar com tudo. Pronta para acabar com o Sombra da Noite até que não sobrasse um fio de cabelo seu. Eu deixei que todo meu ódio se focasse na única pessoa que havia causado tudo isso. No entanto, antes que pudesse seguir em direção de Robert e matá-lo, o suspiro enfraquecido que saiu dos lábios de Jason me chamou a atenção. Parei no caminho e girei minha cabeça em sua direção, ele me encarava desacreditado e eu pude ouvir as batidas do seu coração soando lentamente; cada batida agonizante, se indo, diminuído e me deixando. Uma tortura para meus ouvidos, pois eu sabia que ele estava usando toda sua força para fazer seu coração bater.

"Jason estava morrendo".

"Jason estava morrendo por tentar me salvar".

Eu precisava tirá-lo daqui. Salvá-lo antes que fosse tarde demais.

Rasguei a saia do meu vestido vermelho até a altura do joelho. O tecido, apesar de fluído e leve, me atrapalharia em ser rápida. Foi tão fácil rasgar o tecido, como se ele tivesse se desmanchando em minha mão; mas o barulho do tecido sendo rasgado penetrou no meu cérebro, fazendo meus miolos doerem. Um ruído grave e agonizante que me fez trincar os dentes. Não estava conseguindo controlar minha audição. Tudo era aumentado. Tudo intensificado.

Larguei o tecido de voal vermelho que escapou lentamente de meus dedos e foi caindo ao meu lado, formando um amontoado de tecido vermelho ao chão. Por um instante, pareceu-me uma poça de sangue vermelho aos meus pés. Tirei meus sapatos de salto alto, um de cada vez e os atirei para longe. O tintilar dos saltos no piso de mármore soaram como tiros sendo ecoados dentro da sala pequena. Seria mais fácil lutar sem eles para me atrapalhar. Entretanto, era uma pena acabar com meu vestido de baile. Um baile que eu nunca iria ir, por sinal.

Enquanto eu fazia tudo isso, ao me redor, entretanto, tudo parecia parado. Calmo. Como se eu tivesse dado pause na cena diante de mim. Eu podia perceber cada detalhe, cada respiração no ambiente, os cheiros, as luzes, tudo era inexplicavelmente mais forte, mais intenso. Então percebi que estava me movimentando e fazendo aquilo tudo com uma agilidade e rapidez anormal. Senti-me incrível.