Angel
Apertei a mão de Jason que estava apoiada em minha perna por debaixo da mesa, ele retribuiu o aperto como se fosse um sinal para me dizer que tudo ficaria bem e que estava comigo.
Allen já não tinha mais seu olhar presunçoso e seu jeito arrogante que sempre aparentava ter. Algo nele até me lembrava de Jason, não apenas pelos cabelos escuros e olhos verdes, mas algo no jeito. Não pude compreender.
Ele suspirou e olhando diretamente para Jason começou a falar:
— Tudo mudou a vinte e um anos atrás, quando o terremoto de Stantland devastou a cidade e matou muitos.
Eu me lembro do terremoto, estudamos ele na aula de geografia. Foi a maior catástrofe que a nossa cidade já sofreu. O terremoto matou milhares de pessoas e destruiu centenas de casas, prédios e construções. Por sorte, eu não era nascida, não presenciei o caos e nem sofri as consequências. Mas, Jason, sim.
— Aquele dia, meus pais morreram. — Allen falou e me compadeci pelo olhar triste que o assombrou. Eu sabia qual era a dor de perder um pai, sabia exatamente qual era dor que Allen sentia.
— Sinto muito. — Eu disse.
Ele me encarou e assentiu.
— Mas eu tinha um irmãozinho que se perdeu no meio da confusão. — Prosseguiu.
Aquelas palavras me fizeram trancar o ar nos pulmões. "Irmãozinho?" Jason pressionou minha mão fortemente na sua, e seu corpo se tensionou.
Allen prosseguiu, falando calmamente.
— Não pude salvá-lo, ele se perdeu de mim em meio ao caos. Eu tinha apenas quinze anos, e não soube o que fazer. Tinha perdido meus pais e tanta gente morria e gritava ao meu redor que eu acabei desmaiando e acordando somente no hospital. Disseram-me que não encontraram o corpo do meu irmão de quatro anos. Eu o procurei em todos os hospitais, em todos os abrigos e não o encontrei. Morei até meus dezoito anos na casa de adoção e depois saí à procura dele novamente, nunca perdi as esperanças e procurei por anos. Mas nada me levava a lugar algum, até chegar a um nome: Robert Petrova. Um rapaz mais velho que cursava a faculdade e já tinha se tornando um dos meninos mais ricos de Stantland, ele tinha um amigo chamado William Dobrev que eram inseparáveis. Comecei a estudar na mesma faculdade e a frequentar os mesmos lugares que eles, até que, me infiltrando, consegui suas amizades. Eu sabia que eles sabiam onde meu irmão estava, sabia que escondiam coisas e que faziam coisas ilegais, eu só não conseguia provar. Eles sempre me mantinham fora. Mas então, apareceu a doce Maysa Baetes e seu sorriso me distraiu do meu propósito. Maysa era apaixonada por Will, mas Robert também a queria, então nos transformamos em um quarteto amoroso muito estranho. Onde os três queriam a mesma mulher. Porém sua mãe só tinha olhos para seu pai — ele me encarou e sorriu — e, eu, ao invés de lutar por ela, me afastei. Já Robert somente fazia de conta que estava bem com o fato de o amigo ter ganhado a garota, ele começou a agir diferente depois disso. Acabei percebendo que não conseguiria nada deles e fui embora. Anos depois, eu apareço aqui de novo para ir ao enterro do meu antigo amigo, William, e vejo Robert Petrova e sua mãe. Descobri que ela havia tido uma filha. E que essa filha havia sido sequestrada pelo seu próprio pai. Mas William jamais faria isso, ele era a bondade em pessoa. Eu tinha certeza que você estava mentindo, a história que você inventou para a polícia estava muito mal contada. Infiltrei-me como detetive na polícia de Stantland para que pudesse descobrir mais sobre você, e quando você me chamou de Sombra da Noite sabia que você sabia de tudo. Que sempre me escondeu algo. Descobri que você poderia me levar ao meu irmãozinho. — Ele encarou Jason agora, seu olhar cheio de agonia. — Jason, eu nunca quis soltar sua mão naquele dia, nunca quis que você sofresse como sofreu e passasse por tudo o que passou. Nunca quis nada disso. — Ele suspirou. — E quando eu descobri que meu pequeno irmão Adrien Carter estava vivo, e que Angelina sabia onde ele estava, eu senti que a esperança ainda me levaria até você.
Lágrimas brotaram de meus olhos, rolando por minha bochecha. Eu podia sentir o corpo de Jason estremecer ao meu lado. Allen olhava para ele com olhos marejados e o corpo tenso esperando por uma resposta.
— Então meu nome é Adrien? — Jason indagou.
Allen sorriu e se levantou ao mesmo tempo em que Jason. Os dois se abraçaram e eu não pude conter a alegria que me invadiu. Chorei vendo que Jason/Adrien tinha encontrado uma parte de sua vida novamente, talvez, até mesmo, de seu coração.
Quando nossas bebidas chegaram, já tínhamos conversado muito. Jason me explicou que não lembrava como era seu nome verdadeiro e que foi uma moradora de rua que começou a chamá-lo de Jason e que o sobrenome que ele dizia ter, era apenas um modo de parecer mais real. Mais uma pessoa de verdade e não um monstro. Allen nos contou sobre seus pais, que se chamavam Alicia Mare Carter e seu pai Evan Carter. Allen já sabia da prisão do Sombra da Noite e como Jason havia sido transformado. Ele disse que anos de pesquisa e investigação levaram ele a descobrir coisas horríveis que Robert era capaz de fazer.
Horas passaram e nós estávamos ali, naquela mesa de bar, descobrindo sobre o passado, vivendo um presente conturbado e tendo a esperança de um futuro melhor.
— Você pode cuidar da minha mãe? — Perguntei a Allen.
Agora que já sabíamos de toda a verdade, só Allen poderia proteger minha mãe.
— Claro, farei o possível para mantê-la segura. Angelina, apesar de tudo, eu nunca deixei de amar a sua mãe. — Ele confessou, seu olhar se iluminando e eu sorri.
— Estamos pensando em uma armadilha para pegá-lo. — Jason falou.
— Vocês não entendem, o Sombra da Noite não é a presa aqui, vocês são. Ele quer vocês e fará tudo para conseguir. Eu já vi o que esse homem pode fazer e vocês não vão querer arriscar para ver. O melhor a fazer seria fugir. — Allen falou preocupado.
— Não. Não podemos passar a vida inteira fugindo. Temos que matá-lo. — Esbravejei.
— Vocês até podem ter superpoderes, mas não são imortais. Você mesmo disse que Jason quase morreu. Não quero perder meu irmão de novo, Angelina. Ou você acha que uma cabeça decapitada volta pro lugar?
Concordei entendendo o que ele queria dizer. Allen fez seu ponto. Não adiantava o que tentássemos fazer, o Sombra da Noite ainda era o gato e nós os ratos encurralados em uma gaiola sendo manipulados pelas suas garras que só queriam brincar antes de nos devorar.
Nós três saímos do bar tarde da noite. Depois de Jason e Allen conversarem e relembrarem de pequenos fatos que viveram juntos, Jason estava feliz, o que me deixava mais feliz ainda. Eles se despediram e depois Allen me abraçou; foi um abraço contido, modesto, mas o início de algo. Apesar de não gostar de Allen no começo, só o usei esse meu desprezo por ele, como desculpa para ele ser o Sombra da Noite e não meu adorado tio. Eu me enganei muito com as pessoas desde o princípio. Odiei meu pai sem que ele merecesse, confiei no meu tio o qual é o culpado de tudo e desconfiei de Allen, o único que estava fazendo tudo isso pela família. Que só estava nisso para achar o irmão. Agora entendo quão fácil é de acreditar no que queremos. No começo achava que Jason era o vilão e que meu tio era o mocinho. Mas, no começo, eu não sabia nem da metade das coisas que sei agora.
O que uma volta no tempo faria num momento como esse, tudo poderia ser diferente.
— Ei! — Parei bruscamente na calçada.
— O quê? — Jason indagou confuso. Ele estava entrando no carro roubado.
— Agora não sei como devo te chamar, Jason ou Adrien? — perguntei o encarando.
Jason riu.
— Nem eu sei, mas passei tanto tempo sendo Jason, que será difícil desacostumar.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Protegendo (terceiro livro da trilogia Salva-me)
Mystery / ThrillerPara salvar seu amado Angel precisou fazer uma escolha. Uma escolha que a mudou completamente. Agora ela precisará lidar com a fera que há dentro do seu ser. Contudo, Jason e Angel descobrirão verdades, enfrentarão o perigo e terão que correr contra...