Capítulo 13

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Angel

Uma chance.

Uma chance era tudo o que tínhamos.

Quatro dias haviam se passado desde que deixamos o corpo de Pepe no hotel. Tivemos que sair de lá às pressas antes que os capangas acordassem. Provavelmente a polícia, ao encontrar o corpo de Pepe, o registrariam como indigente, já que ele não tinha documentos, e nem sequer sabíamos seu nome verdadeiro. Jason disse que ele nunca contou, que ele não queria que seu antigo nome fosse um lembrete da família que ele havia deixado para trás.

Dirigi o caminho todo com Jason ao meu lado. O jeito como ele estava rígido, perdido em pensamentos, estava me deixando com medo. Nunca tinha o visto assim antes, tão fechado.

— Ei, você quer parar para comer? — Perguntei a ele, que nem me olhou, só continuou fitando o horizonte fora da janela do passageiro, quando me respondeu:

— Sim, acho que seria bom.

Suspirei tristonha, pois não sabia o que fazer. Jason estava lidando com seu luto da sua maneira e, eu, nada podia fazer.

Sete quilômetros à frente paramos num restaurante de beira de estrada. Eu nem sabia que dia da semana era e nem me importava com isso para falar a verdade, mas o restaurante estava cheio, o que, provavelmente, indicava ser domingo.

— Bom dia, fiquem à vontade! O Restaurante Belvedere agradece a sua escolha. — O garçom que aparentava ter no máximo 15 anos nos saudou. E nos levou até uma mesa retirada.

Nos acomodamos, entretanto enquanto Jason fazia o pedido, eu me dirigi ao banheiro. Peguei o celular pré-pago que Allen tinha nos dado e liguei para mamãe.

— Oi, mãe!?

— Oi, Angel, sou eu, Allen.

— Ah, sim, claro!

— Como vocês estão?

— Estamos bem, mas os capangas nos encontraram num hotel, tivemos que fugir. Pepe está morto. — disse num lamento. — Você poderia usar seus contatos e levar o corpo dele para a cidade de Coyoacán no México, para que a família dele o enterre. Não quero que ele seja enterrado como indigente.

— Sinto muito por Pepe. Farei o que puder, Angelina. Sua mãe está aqui. Vou passar o celular para ela.

— Ok, Allen, obrigada.

— De nada.

— Oi, filha, como você está?

— Bem mãe. E vocês?

— Estamos bem, Allen está nos protegendo. Pôs seguranças para nos vigiar e não sai de perto de mim. Mia também está sendo escoltada por um segurança, ela achou isso o máximo. Disse que é a nova Rachel Marron do filme "O Guarda-costas".

Eu ri.

— Só Mia para me fazer rir.

— Allen me contou sobre Jason. Então eles são irmãos. Isso é estranho e... fantástico ao mesmo tempo, não é?

— Sim, é.

— Quando você poderá voltar, filha? Sinto tanta saudade.

— Também sinto saudades, mãe, mas não sei quando retornarei, acredito que não será logo. — Antes que dissesse algo que me fizesse desistir de tudo e voltar correndo para casa, mudei de assunto. — E Mia?

— Ela veio aqui ontem para ver se tinha notícias suas, Jeremy veio com ela. Acho que eles estão juntos, mesmo com o guarda-costas. — Ela riu.

— Fico feliz por eles.

— Vou dizer a ela que ligou.

— Diga a ela que logo nós sairemos juntas e tomaremos muitos milk-shakes de morango.

Minha mãe riu. Seu riso abafando pela linha telefônica, mas genuíno. O que causou ainda mais tristeza em mim em não poder estar com ela agora.

— Eu te amo, filha.

— Também te amo, mãe.

Saí do banheiro, e voltei para a nossa mesa, mas ao avistá-la percebi que Jason não estava mais lá. Procurei por entre as pessoas no restaurante cheio, mas haviam muitas famílias, amigos e crianças reunidas no local, e Jason não era visível em lugar algum. De longe avistei Jason no estacionamento do lado de fora, escorado no carro com a cabeça baixa. Saí em disparada pela porta indo em direção a ele.

— O que foi? — Perguntei preocupada, ao parar na sua frente.

Ele me olhou nos olhos, mas seus olhos verdes que eu tanto amo, estavam tristes, vazios.

— Não posso ficar lá! — disse-me. — Tudo lá me dá raiva, ódio. Pois eu deveria ter tudo o que aquelas pessoas têm, Angel. Eu deveria ter uma vida, uma família, amigos e por causa daquele crápula, eu não tenho nada disso. Não tenho vida. — Ele sorriu tristemente. — Porra, eu não sei o que é viver!

A tristeza tomou conta de mim ao vê-lo tão abatido assim; se martirizando por coisas que foram tiradas dele. Eu podia entendê-lo, o que houve com ele foi uma baita de uma injustiça e talvez nada fosse capaz de recuperar e apagar esses anos perdidos que foram tirados dele.

Me aproximei e o abracei.

— Tudo vai ficar bem, Jason. Nós temos um ao outro e seu irmão, minha mãe e Mia esperam por nossa volta. Temos pessoas que nos amam. Eu te amo! — Falei com convicção e afaguei suas costas.

Ele me apertou em seus braços e sussurrou no meu ouvido.

— Ainda bem que eu tenho você. Eu te amo.

Com um suspiro de alívio ele me soltou e o encarando, eu disse:

— Certo. Vamos embora então! — Falei sorrindo.

— Nosso almoço já está no carro. — Falou e sorriu para mim.

— Perfeito.


Protegendo (terceiro livro da trilogia Salva-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora