Capítulo 19

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Angel

O carro da senhora era tudo, menos potente. E o cheiro de mofo misturado com perfume de gente velha já estava me deixando tonta. Mesmo com os vidros todos abertos e o vento batendo no meu rosto, o cheiro não diminuía. Eu me sentia cansada pela luta, com fome e confusa.

Estava recostada contra o banco, fitando o horizonte que se expandia; um turbilhão de pensamentos invadia a minha mente.

"Como era possível a droga ter esse efeito?"

No começo acreditei que a droga nos faria morrer aos poucos, mas me enganei. Pois, pelo contrário, a junção das duas drogas nos tornou mais forte. Mesmo assim, tendo todo esse poder, agilidade e destreza em meu corpo, eu não queria ser assim para sempre. Queria voltar a ser eu. Sem ficar com ódio de alguém só porque ele está mascando chicletes de uma maneira irritante. Mesmo tudo isso sendo incrível, era algo que eu não queria para mim.

— Jason... a droga verde era nossa cura e a deixamos no outro carro! — disse melancólica. — Perdemos a única chance que tínhamos de voltarmos ao normal.

Jason riu presunçoso, e enfiou a mão no bolso dianteiro de sua calça.

— Eu a peguei antes de sair do carro! Não desperdiçaria a única chance que temos assim. Essa pequena dose é a esperança do nosso futuro. — Explicou e eu suspirei aliviada. — Calma, Angel, vai dar tudo certo. — Jason garantiu.

— Espero que sim.

Paramos ao entardecer para comer algo, e já ficamos por ali mesmo, no hotel que ficava ao lado. Precisava consideravelmente de um banho, comida e uma boa noite de sono. Jason também estava um trapo, sua roupa daria uma excelente fantasia de zumbi, já eu, não ficava para trás com minha calça jeans suja, cabelos arrepiados e olheiras que eu sabia que estavam aparentes.

— Não podemos entrar lá assim. — Falei apontando para o restaurante. — Vão chamar a polícia achando que somos ladrões ou um manicômio.

Jason riu.

— Espera aqui no carro que eu já volto.

Concordei.

Ele saiu do carro que estava estacionando em frente ao restaurante. Ao lado esquerdo ficava o hotel e do outro lado tinha uma loja de roupas e artigos esportivos. O problema era que a loja já estava fechada a essa hora e não tínhamos dinheiro. Jason só havia tido tempo de pegar o frasco com a nossa cura, então, nossas roupas, o celular pré-pago e o dinheiro que tínhamos havia ficado no carro que abandonamos no centro da cidade. Mas Jason tinha um plano, então o observei andar sorrateiramente e entrar em um beco ao lado da loja. Em instantes ele apareceu em cima no telhado da loja. De tão presunçoso e alto confiante que é, chegou até sorrir e me dar um tchauzinho, o que me fez rir. Ele se agachou e desapareceu de repente. Minutos depois, saiu andando pelo telhado novamente agora carregando uma sacola. Jason parou na beira do telhado e pulou, aterrissando em frente à loja. Aflita, olhei para todos os lados para ver se alguém tinha o visto fazer aquilo. Mas, graças a Deus, já estava escuro e não havia ninguém perto o suficiente para ver essa proeza dele.

Ele seguiu em direção ao carro.

— Acho que peguei tudo do tamanho certo. — Ele disse entrando no carro.

— Como você fez aquilo?

Ele riu.

— Foi legal, né?

Ele parecia uma criança que tinha ganhado um doce. Mas sem me responder, abriu a sacola e tirou de dentro peças de roupas.

— Uma legging tamanho 36, um baby look M, e um tênis tamanho 35. Acho que acertei tudo. — disse satisfeito.

Protegendo (terceiro livro da trilogia Salva-me)Onde histórias criam vida. Descubra agora