Capítulo 12: Um Segredo Sombrio Nas Entrelinhas

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Despertei, lentamente, sentindo um tecido embebido de água quente tocando em meus lábios de maneira delicada. Ainda sem forças para abrir minhas pálpebras por completo, um toque de uma pele abrasadora percorreu um caminho pela minha boca e trajetou até o meu pescoço, projetando uma leve força.

Tentei me mexer por consequência da reação involuntária e gemi em desconforto assim que constatei que meus membros estavam doloridos. Uma queimação tomou conta das minhas costas, fazendo com que eu abrisse, finalmente, os meus olhos em um rompante.

Uma surpresa mesclada com desespero frutificou rapidamente em meu coração. Mesmo estando debilitada, uma adrenalina começou a ser produzida em abundância em meu organismo ao notar a pessoa que se localizava logo a minha frente:

Ezazel.

Ele estava sentado ao lado do meu corpo e seus olhos acizentados continuavam, como de costume, vazios e metálicos como uma lâmina cortante. Suas compridas madeixas negras estavam amarrados em um coque e apenas alguns fios caíam na lateral de seu rosto, marcando ainda mais o seu maxilar. Ele, dessa vez, trajava um longo sobretudo negro ao invés de sua costumeira jaqueta de couro.

— O q-que...?

— Cale a boca. — seu tom de voz, apesar de ter saído de forma autoritária, foi propagado baixinho, quase como um sussurro. — Eu preciso te lim...

— Não toque em mim! — me esquivei e, em um ato involuntário, dei um tapa em sua mão que estava prestes a entrar em contato novamente com meus lábios.

Sua expressões, que a princípio encontravam-se suaves, haviam enrijecido e suas sobrancelhas se uniram, evidenciando seu demasiado aborrecimento. Porém, não fiquei com medo, apenas permaneci irredutível e assumi uma postura de defesa.

— Pode gritar o quanto quiser, garota. — rebateu irônico. — Ninguém vai te escutar.

O quê?

Meus olhos fizeram uma varredura em busca de ajuda e entrei em pânico ao perceber que eu estava presa em um pequeno quarto. As tintas das paredes estavam descascadas e uma mancha de mofo se formava no decrépito teto. Estava praticamente vazio, sem vida. O cômodo possuía apenas um modesto criado-mudo feito de madeira velha que localizava-se ao lado da cama onde eu estava deitada e, nela, havia uma pequena lamparina, que era a responsável por iluminar parcialmente o ambiente claustrofóbico.

A janela, para minha infelicidade e aumento da minha aflição, estava fechada e empoeirada, impedindo que o local pudesse ser arejado e impossibilitando a visão do lado de fora.

Céus... Ele... Esse louco me sequestrou!

Como um trovão, as temíveis e medonhas lembranças percorreram pelo meu cérebro em céleres flashes, fazendo minha cabeça doer com tamanhas informações que retornaram de maneira completamente estarrecedora pra mim.

A tentativa de estupro.

Os dois corpos caídos no chão sem suas cabeças.

Ezazel me salvando.

Ezazel...

— O que você está fazendo aqui?! — indaguei sobressaltada. Fúria e confusão borbulhavam em minhas veias. — Onde eu estou?! O que está acontecendo?!

— Já disse que não adianta berrar. — ele endireitou o seu corpo e devolveu a compressa de volta em uma pequena vasilha com água fumegante. A naturalidade de seus movimentos diante da situação era absurda.

— Me explique o que está acontecendo agora! — em um solavanco, retirei as grossas cobertas que cobriam o meu corpo e inclinei-me rapidamente, porém, uma demasiada vertigem tomou conta de mim e tudo em minha volta começou a girar. Meu corpo sobrecarregou e, antes mesmo que eu pudesse me levantar por completo da cama, Ezazel me impediu segurando-me com força.

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