Capítulo 13: Escuridão

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— Coma.

— Estou sem fome. — dei de ombros.

Ezazel empurrou o prato que continha pães e frutas secas em minha direção e franziu seu cenho, irritado.

— Coma. — repetiu.

— Já disse que estou sem fome!

— Vou te dar duas opções. — fuzilou-me de forma bruta. — Ou você come agora, ou eu enfio toda essa comida goela abaixo em você.

Pisquei, enfurecida.

— E por que eu comeria?! — rangi meu dentes.  — Quer que eu me mantenha saudável pro seu "Senhor"? — fiz aspas com os dedos. — Afinal, você quer me entregar pra ele, não é mesmo?

— Suas feridas estão em fase de cicatrização e... Arrgh! — rosnou aborrecido. — Você é extremamente insuportável!

— Fale logo o que você quer comigo! — esbravejei sobressaltada. — Já disse que não tenho dinheiro, seu imbecil!

— Do que você me chamou?! — Ezazel fez menção de levantar-se de sua cadeira e avançar em minha direção, mas um garoto baixinho surgiu repentinamente no ambiente e o chamou, fazendo Ezazel congelar seus movimentos.

— Ez, Gadrel está lá fora e pediu para que eu te chamasse. — anunciou o rapaz que, até então, eu não havia visto anteriormente.

— Tudo bem. Cuide dela pra mim e faça essa garota irritante comer. Volto já. — e, dito isso, Ezazel lançou-me um olhar mortífero e se retirou do cômodo a passos pesados, mostrando toda a sua irritabilidade.

Assim que ele abriu a porta, tentei visualizar o que tinha do lado de fora, porém, estava uma profunda pernumbra, impedindo que eu pudesse avistar algo.

Pela ausência de Ezazel, finalmente pude libertar o ar que estava enclausurado em meus pulmões. Observei melhor o local onde me encontrava e um bolor se formou em meu estômago:

Eu estava em uma espécie de sala, bem pequena. No lado direito, havia uma mesa de madeira crua com apenas duas cadeiras, que era exatamente onde eu estava. No canto, uma lareira demasiadamente velha estava acesa, sendo a responsável por deixar o local aquecido e evitando, dessa forma, que eu tremesse de frio.

Minhas orbes percorreram até o centro e notei que havia um sofá tingido de vermelho que já encontrava-se desbotado por conta do tempo e, de frente para o mesmo, continha uma mesinha bastante desgastada e empoeirada. Nela, havia um vaso de flores branca com desenhos em relevo que pareciam ser de pássaros voando, mas não havia uma única flor sequer no jarro, o que me deixou angustiada.

Tudo nessa casa era de aspecto puído, como se ela tivesse sido abandonada há anos e, não ter o conhecimento de onde estou exatamente, fazia o meu corpo estremecer de medo.

O garoto, que até então eu desconhecia, puxou uma cadeira e sentou-se me observando com curiosidade em suas íris.

— Olhe, você apanhou bastante. Ainda está com o corpo frágil e precisa se alimentar para ficar melhor. Para suas feridas cicatrizarem, você necessita de nutrientes. Então coma para se sentir bem. — explicou de forma doce.

O fitei com os meus olhos arregalados diante de tanta mansidão em suas palavras.

Seus cabelos, que tinham uma tonalidade castanha escura, eram encaracolados e seus olhos possuíam a mesma coloração de suas madeixas. Diversas sardas preenchiam suas maçãs do rosto e seu delicado nariz, oferecendo-lhe um ar de doçura. Assim como Ezazel e Gadrel, ele estava trajado todo de negro e carregava um colar dourado em seu pescoço.

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