Capítulo 14: Entre Conflitos e Dores

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Meu corpo, finalmente, havia respondido aos meus comandos e dei um passo cambaleante pra trás, quase caindo no chão.

O semblante de Ezazel continuava neutro, como se ele estivesse aguardando para ver qual seria a minha reação. Para minha sorte ou não, a profundidade escurecida, que assemelhava-se a um abismo interminável, havia desaparecido dos seus olhos, sendo, assim, substituídas pelas suas íris acizentadas que possuíam um ar magnetizante.

Permaneci estática, completamente pasma.

Estava tentando, fracassadamente, digerir o que havia acabado de ocorrer diante dos meus olhos, mas era impossível. Então é tudo verdade... Eles não são loucos ou muito menos estão drogados, e sei que não estou alucinando.

Ezazel levou seus olhos até a taça e, posteriormente, me encarou. Ainda fixando suas orbes em mim, ele fez um movimento com o braço e esticou a taça com mais intensidade, como quem diria: "Ande! Beba logo!".

Pisquei diversas vezes e entreabri meus lábios, mas nenhum som foi propagado pela minha garganta. Eu estava tão abalada que não era capaz de exprimir uma única palavra sequer. 

Meus olhos recaíram sobre a taça repleta do líquido negrume e, estando em um completo estado de abalo, dei mais passos para trás ainda encarando o recipiente, como se aquilo pudesse surrupiar minha vida em questões de segundos.

Ezazel revirou seus olhos, impaciente, enquanto o líquido ainda escorria abundantemente de seu braço ferido. Ele suspirou pesadamente e se aproximou ainda mais de mim, mirando o cálice prateado que cintilava perante as chamas da lareira, em minha direção.

— Vamos. — sua voz, para minha surpresa, havia saído em um tom cordial. Ele parecia compreender a minha reação diante de tudo que havia ocorrido. — Preciso que beba. Não temos tempo.

Não respondi.

Apenas continuei paralisada, ainda observando o objeto em sua mão. Em seguida, minhas íris fizeram um trajeto até o seu braço que estava tingido pelo fluído soturno. Ezazel acompanhou meu olhar e, seguidamente, me fitou irritadiço.

— Bora, garota! — ordenou aborrecido. Seu humor havia se alterado grosseiramente. — Eu não tenho tempo!

— Ez, pega leve com ela. — Gadrel se pronunciou enquanto assistia a cena. — As coisas estão acontecendo rápido demais na cabeça dela. É muita coisa pra híbrida processar. Seja mais maleável.

Híbrida...

— Gadrel tem razão. — agora, era vez de Otto falar. Sua voz saiu de forma doce enquanto seus olhos acastanhados me observavam preocupados. — Ela está muito assustada ainda.

Ezazel bufou.

— Eu não vou beber isso! — praguejei, adquirindo coragem para, finalmente, falar algo. — Que porra vocês são?! Suas aberrações!

Um sorrisinho cínico surgiu no canto dos lábios de Ezazel.

— Você vai beber ou quer que eu te dê na boquinha? — deboche estava estampado em sua face perfeita. Seu humor completamente instável me dava nos nervos.

— Se você encostar em mim, eu juro que te...

— O quê?! — ele arqueou uma de suas grossas sobrancelhas negras. — Você irá me matar? — exibiu seus dentes alinhados com escárnio. — Bem, em relação a isso, eu realmente não duvido que você possa fazer. Mas, por enquanto, isso não acontecerá. Pelo menos, não agora.

O que ele quis dizer com isso?

Semblantes de dúvida e confusão se apoderaram nos rostos de Gadrel e Otto diante das palavras de Ezazel e, quando o grandalhão, posicionado não muito longe do meu algoz, estava prestes a se pronunciar — provavelmente para perguntar o porquê do moreno ter declarado tal discurso.  —, Ezazel se prontificou de apressar seus passos em minha direção, impossibilitando que o mais alto pudesse prosseguir.

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