Capítulo 15: Surpresas

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Pacto?

A vontade de colocar tudo para fora se intensificou e, Ezazel, parecendo saber o que eu estava prestes a fazer, afastou-se de mim, oferecendo-me espaço para vomitar. A queimação e os enjoos avançavam cada vez mais e senti minha garganta se contrair aflitivamente.

Debrucei-me sobre meu corpo, colocando, por fim, tudo para fora.

Enquanto eu sentia, novamente, um gosto de ferro dançar abundantemente pelo meu paladar, meus olhos se arregalaram ao ver que eu não estava vomitando o líquido no qual Ezazel havia me obrigado a beber, e, sim, o meu próprio sangue.

Uma poça do fluído rubro foi surgindo no chão, a medida em que eu sentia meu estômago arder e se contorcer diante da queimação e mal-estar que me consumia abrangentemente. Nunca imaginei que, a sensação de ter seu sangue transpassado pela sua garganta e ser impulsionado para fora, fosse completamente desagradável e desesperadora.

Quando não havia mais nada para o meu organismo expelir, senti minha garganta relaxar e um alívio me preencher parcialmente, porém, a fraqueza ainda me dominava e uma onda de cansaço preencheu-me, fazendo minha cabeça girar.

Otto, estando inquieto, apressou-se e apanhou uma cadeira que estava localizado ao lado da mesa e a trouxe rapidamente até a mim, e, com cuidado, enlaçou seus braços nos meus, erguendo o meu corpo e posicionando-me na mesma, fazendo-me sentar.

Traguei o ar lentamente e, para o meu desafogo, a dor foi se dispersando. A queimação, finalmente, havia se diluido em um rompante e pude sentir o oxigênio atravessar os meus pulmões de forma libertadora.

Assim que sentei, tombei minha cabeça para frente e apoiei-a em uma de minhas mãos. Podia estar sentindo-me melhor, mas a exaustão ainda tomava conta do meu cérebro e dos meus membros.

Tateei meu pescoço e notei que o terço estava imóvel. Tentei tirá-lo, arrancá-lo, entretanto, o objeto não se mexia, fazendo Ezazel achar graça das minhas tentativas inúteis.

— Por que... Por que você... — balbuciei, ainda inerte. — Por que você me fez beber isso?

Ezazel cruzou seus braços.

— Para que nenhum daqueles seres celestiais malditos possam te localizar. — respondeu. — A partir do momento que meu sangue adentrou em seu organismo, seu cheiro e suas energias foram sobrepujadas, omitidas. Dessa forma, ficará mais fácil atravessar o portal. Sem perturbações, sem incômodos.

Portal?

Eu ouvi direito ou...

Um estrondo ecoou na parte de fora da casa, fazendo todos paralisarem seus corpos, atônitos. Levantei minha cabeça como reflexo e a senti latejar por conta do movimento súbito, porém, o medo que percorria em minhas veias era maior do qualquer outra dor.

Eu já estava me afogando em um oceano tempestuoso de problemas e, lidar com mais um, seria demais pra mim. Eu não aguentaria.

Mais um ruído.

Um sonido de galhos grossos se partindo perpetuou pela floresta, bem a próximo a pequena residência. Meu coração parou de bater por um milésimo de segundo e me encolhi, amedrontada.

Olhei atormentada para os lados na tentativa de saber de onde havia surgido o sonido, mas as janelas estavam fechadas e apenas a pernumbra da noite atravessava as minúsculas frestas das decrépitas aberturas de madeira.

Ezazel e seus subalternos enrijeceram seus membros em sinal de alerta. O silêncio e a tensão no ambiente eram tão densos que tornaram-se palpáveis, angustiantes.

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