Capítulo 4: Confusão Mental

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Eu definitivamente não estou bem. Eu jurava que... Eu jurava que aquilo que tinha ocorrido lá fora havia sido fruto de minha imaginação, mas...

Ele está aqui, bem na minha frente.

Me esforcei para chamar o Nathan para perguntar o que estava acontecendo com ele, porém, antes de abrir meus lábios, o professor Jones tomou a palavra novamente:

— Então, senhor Collins, poderia falar um pouco mais sobre você para a turma? É uma forma de nos conhecermos melhor.

Com grande dificuldade, levantei meu olhar para o garoto que, dessa vez, estava encarando o professor com a cara fechada e com suas mãos dentro dos bolsos da calça jeans preta. Ele rolou os olhos e se virou para turma com um aspecto de poucos amigos e, de repente, sorriu para os alunos. Seus dentes eram brancos e totalmente alinhados, porém, por mais que ele possuísse um sorriso belo, não era sincero.

Era de escárnio.

— Como vocês já sabem, me chamo Ezazel. Tenho dezessete anos assim como a maioria de vocês e... — ele fez uma pausa, sorrindo com escarnecimento novamente. — Só vim para essa escola com um único objetivo.

Essa voz...

Mais uma vez ele repousou seus olhos em mim e uma nova onda de calafrios tomou o meu corpo para si. Olhei de soslaio para Nath e senti ele se contorcer em sua carteira, assim que o garoto de negro me fitou.

— Qual, senhor Collins? — Jones parecia interessado em sua resposta.

O garoto, ainda me observando com frieza, respondeu com um grande entusiasmo:

— Me formar no ensino médio, é óbvio.

Sua voz era rouca e... Reconhecível.

Em resultado de sua declaração, diversas risadinhas ressoaram pela turma. Alguns rapazes pareciam curiosos com a presença do garoto de negro, já outros, aparentavam-se estar incomodados. Provavelmente deveria ser pelo fato de ele estar chamando atenção de muitas por aqui.

Os demais cochichavam alegando que seu nome era tanto um pouco excêntrico, diferente... Enquanto as meninas, não se contendo com o garoto dos cabelos compridos, soltavam pequenos gritinhos eufóricos entre elas.

Em meio ao burburinho, jurei ter escutado a Samantha dizer para suas amiguinhas que adoraria realizar um ménage selvagem entre ela, Ezazel e o Nath em um quarto de um motel.

Revirei os olhos enojada.

Garota estúpida.

Meus pensamentos se dispersaram momentaneamente assim que Mellanie, parecendo incrédula, girou seu corpo de maneira lenta para trás. Fazendo uma pausa dramática, ela levou uma de suas mãos até sua boca, tapando-a.

— Meu Deus... Os boatos estavam certos. Ele é um gato! — exclamou. — Parece até um deus grego!

Forcei um sorriso.

Tentei libertar o ar que se formava feito um nó em minha garganta, mas estava praticamente impossível. Em um ato de enervamento, comecei a batucar a caneta que eu segurava na mesa, enquanto minha amiga ainda me observava com um semblante de surpresa.

— Você está vendo como as meninas estão? — indagou Melly cochichando, com o intuito de não chamar a atenção do professor. — Só faltam avançarem no pescoço dele! E com razão... Porque olha... — aparentando-se não notar meu nervosismo, seu olhar se voltou para o garoto novo.

O moreno, depois de responder o Jones gloriosamente, se virou com um sorriso zombeteiro para o professor como quem diria: "Satisfeito?", e o senhor Jones, parecendo não se agradar muito da atitude do possível motivo do meu mal estar, ordenou para que ele se sentasse. Quando seus pés começaram a se movimentar em minha direção, fazendo as pequenas correntes presas em suas botas saculejar, meu coração gelou. Meu corpo estremeceu, fazendo gotículas de suor brotarem em minha testa.

Droga! Que diabos estava acontecendo comigo?

Minhas mãos começaram a vacilar, fazendo o pequeno objeto que eu segurava ganhar impacto ao cair no chão. O garoto de cabelos negros se aproximou mais ainda atravessando o vão entre as mesas e interrompeu seus passos, parando ao meu lado.

Engoli em seco.

Por soslaio, vi ele se agachar e apanhar a caneta, observando, em seguida, ele se levantar. Ele esticou sua mão na altura de meu rosto, segurando entre os dedos o objeto cilíndrico.

— Acho que isso é seu, princesa. — um pequeno sorriso se formou no canto de seus lábios.

— O-obrigada. — agradeci abalada ainda sem olhá-lo.

Sem o encarar nos olhos, peguei a caneta de sua mão sentindo levemente sua pele quente tocar a minha. Meus pelos se eriçaram pela extensão do meu corpo, fazendo-me arrepiar por inteira com aquele pequeno toque. Uma onda de calor tomou conta de mim sorrateiramente, e algo me dizia que eu já havia escutado sua voz em algum lugar.

Será que ele é o...?

Não... Isso é impossível. Todas aquelas aparições são frutos da minha mente extremamente fértil. Não teria como ser ele.

Ou teria?

O garoto, ainda de pé em minha frente, deu de ombros com um pequeno sorriso no rosto. Ele prosseguiu sua caminhada até o fundo da sala, parecendo se jogar de maneira espalhafatosa na cadeira, fazendo com que arrancasse suspiros das meninas que pareciam devorá-lo com os olhos.

Melly virou-se novamente e lançou-me um olhar malicioso em relação ao garoto, estreitando seus olhos negros enquanto me encarava zombeteiramente.

— Parece que ele gostou de você. — sussurrou ela. — Que sorte a sua! Imagine ter um garoto gostoso desse na minha cama?

Sorri, outra vez, de maneira fraca na tentativa de disfarçar o nervosismo que me assombrava.

Ainda anestesiada pelo momento, continuei pressionando a caneta tentando aliviar o estresse que me circundava. Senhor Jones deu início a aula ordenando que abríssemos os livros em uma determinada página, fazendo todos retornarem em seu estado habitual aos poucos.

Com minha mente em transe, senti uma mão macia tocar meu braço de maneira assustada. Era Nathan. Seus olhos cor de mel que costumavam ser tão vivos, estavam escuros e pareciam imersos de preocupação.

— Você está bem? — indagou preocupado.

Depositei minha outra mão em sua pele afável e o acariciei com a ponta dos meus dedos de forma sôfrega. Balancei a cabeça positivamente tentando digerir o que acabara de acontecer. Nathan assentiu sem tirar seus olhos de mim parecendo não muito convencido da minha afirmação.

Redirecionei meu olhar para o professor que articulava sobre células super entusiasmado. Nath me tocou de forma intensa novamente com o intuito de chamar minha atenção, fazendo-me despertar e o fitar outra vez. Seu corpo ainda estava contraído junto de sua mandíbula.

Com seu olhar banhado em angústia, ele abriu seus lábios emitindo um sussurro terno:

— Skyler, precisamos conversar.

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