Me levanto num salto. Meu coração dá uma pontada, como se alguém o tivesse puxado e ele tivesse voltado para o lugar, como um elástico. Não pode ser...
Arregalo os olhos e me levanto da cama, está no meio da noite mas eu preciso convocar uma reunião com as sacerdotisas agora.
Desço as escadas do Templo e bato na porta do quarto de Lince com fervor.
- O que você quer, estúpida? - Lince abre depois de alguns minutos de insistência. Os cabelos dela estão soltos e espalhados, o nariz vermelho. - Se for um pesadelo saiba que estou pouco me ferrando, eu tenho os meus também.
Quando ela olha para meu rosto ela se cala.
- O que há de errado? - Lince põe a mão em meu ombro me confortando. - Aconteceu alguma coisa?
Ponho as mãos sobre o rosto, esperando me acalmar para poder contar.
- O Coração de Évbad. - murmuro, minha voz embargada. - Eu estou sentindo-os morrer. Dezenas.
- O quê?!
- Eu também não sei. Eles estão se desconectando. Não estou mais sentindo os batimentos, não estou sentindo nada. Mas é como se não estivessem mortos.
É diferente. Morte seria como um fio cortado, mas isso é como se o fio fosse esticado até estar fora do meu alcance, não importa o quanto eu puxe.
Lince me abraça. Eu devo estar parecendo prestes a desabar.
- Será que Maori começou a exterminar Évbad? - soluço. - O que ele quer com isso? O que...
- Shhh. - ela afaga meu cabelo. - Calma. Está tudo bem. Você mesma disse que eles não parecem estar mortos, que é outra coisa.
- Mas... - os soluços se apoderam da minha fala e eu não consigo terminar. Eu tenho medo. Eu nunca havia sentido isso antes. Às vezes, até mesmo esqueço que sou o Coração de Évbad. Mas agora isso é errado, doloroso e avassalador.
Agora eu entendo o porquê minha mãe teve tanto medo de perder o Coração, de que ele enfraquecesse. E de como ela precisava que eu suprisse a falta ficando no Palácio. Porque eram parte dela, ela não suportaria perder seu povo, ela os amava.
É isso que eu sinto agora.
Estou conectada ao meu povo da forma que nenhum rei ou rainha antes de Alyah esteve. Da forma que Maori nunca estará. E é por isso que eu devo ser a rainha.
- Lince, por favor, me ajude a convocar as sacerdotisas. - me desprendo de seu abraço, ela me fita com seus olhos felinos. - Talvez elas saibam o que está acontecendo, elas conhecem o Medalhão de Arasabeth. Devem saber o que está acontecendo com a Genus Lapis também.
Ela assente e me diz para descansar, eu cedo, me sentando na cama dela. A pontada no meu peito não diminui. É como se alguém amarrada e um fio às minhas costelas e me pendurasse, puxando e puxando.
Quando as líderes sacerdotisas chegam, nos encontramos no salão de reuniões, elas não sabem o que dizer da minha condição, ou do que pode estar acontecendo em Évbad. Me informam que as tropas de Maori pararam de avançar e que os soldados estão sitiando Arnlev desde o pôr do Sol.
É então que me lembro. Os soldados de Maori não são humanos. Eles são algo assustador que paira entre morte e vida, que não sente dor e nem medo. Eles são como Kadash era da última vez que o vi. Eles não eram de Évbad antes de se tornarem isso.
E se Maori estiver transformando o meu povo naquilo? E se for por isso que eles não parecem mortos, mas nós não estamos mais conectados?
De repente os meus pulmões se comprimem. O pensamento suga meu ânimo e eu cambaleio um pouco, minha cabeça ficando pesada. Isso não pode ser verdade. Eu preciso estar errada.
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As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]
General Fiction*É recomendável ler o 1° e o 2° livro antes de ler esta sinopse* O trono foi tomado. Évbad e Mondian estão em completo caos. Rayrah Scarlett foi dada como morta. Josh e Charslie tentam sobreviver à perseguição do exército do rei, vão precisar prot...