Capítulo 17 - P.O.V Jennifer Scallet Targane

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Eu não sei o que está acontecendo comigo.

As memórias antes vinham aos poucos, agora são um turbilhão delas. Maori mandou que eu as apagasse tomando o soro mas eu não consegui. 

Não sei o que Maori vai fazer comigo quando souber. Mas ele não é de todo aquele monstro. Eu sei que não.

Ele não me mataria.

Embainho a espada nas costas. Ponho minha máscara de porcelana e sinto um calafrio me percorrer a espinha.

Ele não é um monstro. Maori não é o que todos pensam. Sei disso. Eu confio nele.

Confio.

Meu uniforme é negro, com uma fênix renascendo no lado direito do peito. Munições estão enfileiradas em duas faixas na minha cintura.

Eu deveria estar no Castelo do Solar agora, juntamente com as Tropas Imperiais, pronta para colocar qualquer um na linha. Pronta para destruir aquele lugar.

Mas estou aqui e fui designada à matar nosso melhor informante de lealdade duvidosa.

William.

Caminho lentamente pela grande fortaleza cinzenta que me acolheu durante todos esses anos: Invictus. Os guardas me acompanham com os olhos, eles sabem que não devem se meter no meu caminho apesar de desejarem muito.

Ouço o grito agonizante vindo do corredor central. O grito ressoa na minha cabeça como eco. Odeio aquele corredor, e odeio mais ainda para onde ele leva. Wáleri Storm deve estar se divertindo muito. Afinal, ela concordou com a proposta.

Diferentemente de mim. Eu acho.

Não tenho como saber. Minhas memórias são fragmentos. Eu concordei com isso? Em fazer parte desse plano calamitoso? Em apagar toda a minha memória e me refazer?

Eu concordaria agora. Mas não sei se minha Eu de antes o fez.

Me forço a afastar tais pensamentos e ignorar os gritos da mulher.

Continuo meu caminho em silêncio. Os dormitórios são o lado mais silencioso do Forte. Se William disser um "ai", todos aqui vão ouvir.

Uso a chave-mestre e destranco a porta do quarto dele, ela abre sem nenhum ruído e eu entro com cautela. O garoto dorme tranquilo na cama baixa e sem conforto. A mexa roxa de seu cabelo cai sobre o rosto.

Ele não faz idéia de que está prestes a morrer.

Tapo a boca dele com as mãos e os seus olhos se abrem subitamente, encontrando com os meus. Ele grunhe assustado e eu apenas ponho meu dedo indicador sobre os lábios pedindo silêncio.

- Fique calado, senão... - digo sem emitir nenhum som, passando o dedo sobre a garganta ao imitar uma faca.

Ele assente rápido. O levo para a floresta. Caminho com o cuidado de não deixar rastros, ando em zigue-zague e entre as plantas para não formar uma trilha.

Empurro William. Ele cai no chão desajeitado com as mãos amarradas nas costas.

- Eu dei tudo que vocês queriam! -ele grita e cospe no chão furioso. - Dei o reino à vocês! Dei a princesa! Os príncipes! E vocês não pensaram em sequer me dar o que eu queria! A única coisa que eu queria o tempo todo!

- Eu não dou as ordens, garoto. - retruco. - Eu as sigo. Por isso estamos aqui.

Ele me encara arfando e suando, o ódio parece se transformar em frustração e a frustração em decepção.

- Vamos logo com isso. - ele range os dentes. - Ande! Corte a minha garganta, faça o que tem que fazer de uma vez.

Dou um passo na direção dele. O garoto tem mais coragem do que eu pensava. Desembainho a espada e ele continua me olhando nos olhos.

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora