Capítulo 14

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Nona gira a alavanca e em poucos segundos lá embaixo se torna um caos. Colocamos as máscaras e Marco abre um portal que nos leva para o salão.

Os guardas avançam contra nós e Linda conjura doze facas e as lança, os guardas restantes nos atacam.

Vejo o soldado que segurava Olyver levá-lo para longe e sumir num corredor. Tento ir mas dois soldados entram na minha frente.

Luto contra eles, defendendo-me dos golpes ao mesmo tempo, meu olhar se encontra com o de Maori, ele sorri para mim e na distração um dos guardas me acerta na perna e abre um ferimento vertical. Grunho e tento me manter de pé.

Sinto o poder correndo pelas minhas veias. Queimando e ardendo como fogo. Implorando para ser liberado.

Minha espada é envolta por gelo e uma camada negra de toque mortífero. Sinto meus olhos ficarem brancos e minha visão dos guardas se tornar sombras e silhuetas envoltas de névoa.

Sinto o bater dos corações de cada um aqui, posso sentir suas respirações como vento fresco em minha pele. O poder pulsa em mim, eu sou feita dele.

Ergo a mão direita e lanço os soldados que atacam Linda e Nona para longe. Um dos soldados que luta comigo avança e eu o golpeio no braço. O corte fica escuro e não sai sangue, sua pele vai se desfazendo enquanto ele grita de dor, o meu poder devora o corpo dele aos poucos.

O outro soldado observa vacilante. Não quer o mesmo destino.

- Corra. - ponho muita Manipulação nas minhas palavras. Ele corre como se não tivesse controles sobre os próprios pés. Olho para o chão, apenas o que resta do outro soldado é um esqueleto seco como se estivesse morto há anos.

Fecho a garganta dos guardas que lutam contra Marco, eles caem no chão sem ar, esperneando e tentando respirar sem sucesso.

Marco olha pra mim, os olhos dele me fitam como dois buracos negros, surpreso, com um meio sorriso.

Me viro, meu olhar se cruza com o de Maori. Ele está... sorrindo. Como se soubesse que eu estaria aqui, que eu estava viva. Mesmo eu estando prestes a dizimar sua legião ele parece genuinamente realizado.

Não importam seus planos. Vou matá-lo.

Estou indo direto para ele.

Meus cabelos brancos voam em todas as direções, eu marcho em linha reta e cada passo meu é uma batida do coração

Os guardas tentam me parar e eu os lanço contra as paredes, o lustre começa a piscar e cai se quebrando em milhares de pedaços, uso os cacos para rasgar as gargantas do restante dos guardas, até que reste apenas Maori bem à minha frente.

- Senti saudades, querida. - ele diz com os olhos cintilando. - Eu realmente tinha achado fácil demais acabar com você.

- Não acabou comigo. E nunca terá a chance! - avanço contra ele, saco Red Fox e ele saca sua espada.

- Eu não quero acabar com você. - ele se desvia dos meus golpes com destreza e rapidez. - Eu quero que você sofra. - Nossas espadas se atracam e ele força-me para baixo, a lâmina bem perto do meu rosto. - Porque olhar pra você me dá nojo. Você é a maldita cópia fiel e perfeita da mulher que me roubou minha felicidade, meu reinado e minha beleza.

Giro Red Fox e bato na espada dele, soltando faíscas e o empurrando. Me afasto respirando ofegante.

- Então é tudo sobre isso? Uma mulher morta? - Red Fox parece pesar na minha mão.

- Não. Querida. Não... - ele meneia a cabeça. - É sobre reconstruir esse mundo. Começar do zero. Sem nenhum traço do passado.

- E esses traços incluiam Kadash, Prometheus e eu? - o ódio me consome aos poucos, saindo pela minha voz, me fazendo segurar a adaga com firmeza.

- Você não faz as perguntas aqui. Está nas regras do jogo. - ele ri brincando com a própria espada.

- Não estou jogando seu jogo.

- Claro que está. Está jogando desde que chegou ao mundo. Eu sabia que Alyah não aguentaria seu poder se igualando ao dela e paguei a Guardiã para levar você para Mondian. Você estava jogando quando levou Will para o Castelo da Lua. Estava jogando quando correu para salvar sua amiga de asas de anjo. Estava jogando quando esteve na minha prisão. Quebrou as regras quando forjou sua morte, sim isso me pegou de surpresa... - ele ri consigo mesmo. - Mas voltou a jogar quando veio para o Palácio do Solar salvar o príncipe.

Salto sobre ele com Red Fox em mãos, gritando. Ele se defende. De novo e de novo enquanto eu o ataco cegamente.

- Eu vou matar você e vou recuperar meu trono. Vou vingar Kadash e Wei-Wei, vingar todos eles. - giro em mim mesma e ataco, dou um chute no seu abdômen e ele bate contra um vaso de porcelana que se quebra, os cacos sob ele têm gotas de sangue.

- Você provavelmente deveria manter sua linda boca fechada. - ele chuta os cacos na minha direção, tomo cuidado de não pisar neles. - Pois é como sua mãe. Poderosa e cruel, mas na hora da verdade você fraqueja. Você hesita. - ele finalmente ataca dando dois golpes tão fortes, um pela esquerda e o outro pela direita, que me fazem cair logo após me defender.

- Você não faz idéia do que eu sou capaz. - me levanto e continuo a atacar.

- Claro que sei. - ele desvia com facilidade. - Filha de Alyah, neta de Moriesh, o mago mais poderoso do Velho Reino e o verdadeiro pai das gêmeas. É a Princesa Perdida, a Guardiã de Alyah, O Coração de Evbád. - ele não ataca, apenas defende meus golpes, conversando comigo como se tomássemos um café. - Você quer ser uma heroína, Rayrah, mas eu vou te transformar na vilã.

Num segundo ele baixa a guarda e Red Fox vai de encontro com seu abdômen. Fecho os olhos. Ela entra e sai, rápida.

Mas ela não acertou o falso rei.

Solto a adaga de súbito e me arrasto para longe com as mãos sobre a boca. A mancha vermelha no peito de Prometheus apenas aumenta e aumenta.

Os olhos dele estão suplicantes mas ainda me observando como se não sentisse dor. Me arrasto até ele e tento pôr as mãos trêmulas sobre o sangramento.

- O que você fez com ele!? - meus olhos se enchem de lágrimas.

- O que eu fiz? - ele põe as mãos sobre o coração dramaticamente, como se houvesse se ofendido. - Eu não fiz nada. Foi você.

O corpo do menino nos meus braços é leve. Ele está morrendo. Eu o matei.

- E claro, Ionny, Josie, seja como for, muito obrigado. Garanto que poderá fazer o que quiser com o Olpiste. - Ele agradece e eu viro a cabeça. Lá está Josie Bruschietta, a criminosa Manipuladora Mental que eu havia colocado na prisão. Os cabelos loiros estão mais longos e os olhos pretos estão brilhando em vermelho como quando ela usa seus poderes.

- Josie...? - pergunto abraçada ao corpo de Prometheus, ele é tão pequeno e está tão frio. - Estava o controlando? Como pôde?

- Desculpe, Rayrah. - ela baixa a cabeça. - Eu não podia passar metade da vida na prisão por causa de outra pessoa.

- Mas pôs sua vingança acima da vida de uma criança... - o corpo do príncipe parece mais leve, como se a alma houvesse ido embora e agora ele pesasse uma pena.

Soldados aparecem segurando Marco, Linda e Nona. Eles estão algemados com as mesmas algemas que eu usava na Prisão de Vidro.

- Eu disse que você estava jogando. O jogo só acaba quando eu quiser. - Maori diz para que apenas eu ouça. - Sabe o que vai acontecer agora? O povo vai saber que a princesa de Évbad, num desejo louco pela coroa, havia orquestrado o ataque rebelde no Castelo da Lua, onde morreram as rainhas, forjou a própria morte para culpar-me e veio até Mondian matar o príncipe Prometheus e...oh! - ele faz uma voz de tristeza por cima do escárnio - Eu não consegui impedir a morte do principezinho.

- Ninguém vai acreditar em você! Seu monstro! - grito pulsando de ódio.

Ele se afasta me olhando de cima.

- É verdade. - sorri. - Mas com certeza acreditarão no primogênito de Hill, o herdeiro do trono que sobreviveu ao ataque rebelde.

Josie sussurra algo e quem vejo me faz soltar o corpo inerte de Prometheus e me levantar.

Kadash.

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Lidem com isso!

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora