Capítulo 3

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Lince grita, puxa meu travesseiro e me acorda. Foi uma péssima escolha tê-la feito capitã. Ela sai e grita às portas acordando a todos às seis da manhã quando o sol mal nasceu.

Se ela fizer isso todos os dias eu mesma farei um motim nesse navio.

Esfrego os olhos, ainda com a mente anevoada pelo último pesadelo, onde apareceu-me o rosto desfigurado do rei Maori sorrindo diabólicamente.

- Ande, temos um navio a conduzir, Scarlett. - ela rechaça me cutucando com o pé. Temos. Fui escolhida como primeira imediata, cuidarei das coisas tanto quanto ela.

Levanto devagar, a visão demora a se estabilizar. Ando dormindo na cabine de Lince. Não consigo dormir só. Quando a luz se apaga tudo volta, minha mente me teletransporta para uma noite gelada na Prisão e o medo me envolve.

Lince percebe que estou divagando e pergunta: - Está tudo bem?

Levanto o olhar para ela e minto. - Está. Só estou preocupada com Prometheus.

Ela me analisa, sabe que estou mentindo, mas prefere não me pressionar.

Saímos da cabine em direção ao convés. Muitos dos tripulantes já foram acordados por Lince, nenhum de nós está acostumado à rotina, todos sonolentos mal nos firmamos com o balanço das ondas.

- Ei! Imediata! Lembre esses preguiçosos das suas funções. - Lince grita para mim com um sorriso matreiro no rosto.

- Não estamos num navio pirata, Lince. - resmungo.

- Farei dele um. - ela rechaça. - Rover! - grita para o navegador; ele cuida dos mapas e da rota a seguir. O homem baixinho e peludo vêm até ela prontamente. - Preciso que trace o caminho mais seguro até o Arquipélago dos Mortos.

- Que nome lindo. Vamos tirar férias? - murmuro irônica. Lince me dá uma cotovelada nas costelas, atinge o osso e eu perco o ar.

Todos vão assumindo seus postos. A única que ainda parece não ter assumido a função sou eu. Confesso que estou um pouco perdida, mal sei o que fazer. Lince me manda subir, ela se apóia na grade da proa.

- Fique de olho neles, Scarlett. - ela diz observando o trabalho. Todos correm de um lado à outro, verificando as velas, turbinas, armas, guardando os mantimentos, observando o radar e o mar, estabilizando os flutuadores, partes ovais que ficam rentes ao casco do navio para diminuir o balanço e estabilizar o curso e entre outras menos importantes.

Ela me empurra um balde de água fria com sabão e uma escova.

- Arranje alguém para o serviço.

- Tem alguém não fazendo nada? - pergunto à ninguém em específico.

Uma jovem de cabelos escuros acena para mim. Ela uma das médicas do navio. Sabe curar, Lince diz que ela não faz mais do que isso. Não lhe
sobrou nenhuma função em específico no momento.

Lhe dou o balde com a mesma delicadeza da capitã. Ela sorri com escárnio, põe o balde no chão e põe a palma das mãos em direção ao mar. Uma onda se ergue lentamente e cai logo à minha frente molhando o convés e toda minha roupa.

Um calafrio me sobe a espinha por causa do cheiro salino. Lhe lanço um olhar de repreensão e dou as costas indo para perto de Lince.

- Você vai deixar ela fazer isso? - Lince rosna. - O que houve naquele castelo? Amansaram você como a um cavalo?

Me viro para ela num rosnado magoado. - Não fale do castelo.

- Você está criando uma rebelião. Você é a líder. E eles nem sequer respeitam você. - Lince diz. Aquilo de alguma forma fere meu orgulho. - Sua aparência não ajuda. Pelo menos exija respeito.

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora