Capítulo 32 - P.O.V Jay

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Meu coração palpita. Os túneis atrás de nós se fecharam. A fonte começa a entrar no piso, as paredes começam a se mover.

- Rápido! - grito. - Precisamos sair daqui!

Começo a correr. Tão rápido que mal sinto meus pés tocarem o chão. Seguro as barras do maldito vestido de noiva, que logo será minha mortalha e corro como um veado caçado. As paredes começam a se fechar, prestes a se tornarem nosso túmulo.

À minha esquerda, Nona corre como um lobo. As orelhas abaixadas, os olhos totalmente animalescos, mostrando um medo não-humano, feito puramente de instinto.

Quando estamos prestes a alcançar o único túnel de saída que ainda não fechou, ela agarra meu tornozelo e me puxa para trás. O túnel se fecha num estalo, nossa única saída.

Não tiro os olhos da parede à minha frente. Ofegante, percebo que Nona salvou minha vida, aquilo teria me esmagado.

- Talvez você não me odeie, afinal. - murmuro.

- Precisamos de você pra sair daqui.

Linda e Marco chegam atrás de nós. Olho para os lados, procurando uma nova saída. Mas não há, estamos presos, e as paredes estão se fechando.

Marco respira fundo, seus olhos se movendo rápido, o pânico tomando de conta do seu corpo.

- Precisamos sair daqui agora. - repito isso umas cinco vezes enquanto giro nos calcanhares, procurando qualquer coisa que possa nos tirar daqui.

As paredes se fecham cada vez mais. Eu estou assustada. Mas sou treinada. E não posso deixar isso me dominar.

- Estamos no vigésimo primeiro dia. O labirinto está mudando, e se não sairmos daqui; vamos morrer. - esclareço. - Não há tempo para pegar sua amiga. Temos que cair fora agora.

- Você ta me dizendo que Josh vai morrer? - Nona rosna. - É isso? Por que nos trouxe para esse inferno, estão?!

- Eu não sabia, droga! Acha que eu arriscaria minha vida se soubesse?

- Calem a boca e façam silêncio! - Eu vou nos tirar daqui! - Linda grita. Quando nos viramos, a vemos sentada no chão, de olhos fechados, enquanto Marco chora encolhido e as paredes se fecham.

Nos calamos e esperamos.

As paredes se fecham cada vez mais, em torno de vinte metros uma da outra. Dez metros. Cinco metros. Dois metros.

De repente uma lança enorme negra se materializa no ar. Entre as duas paredes, tão forte que pode segurá-las até sairmos daqui.

- Isso Linda! - grita Nona quase saltitando.

Linda se levanta, servindo de apoio para Marco. - Vamos. Antes que esse labirinto realmente nos mate.

Esse é o poder dela, então. Materializar armas.

Linda começa a correr em direção a parede, ela materializa uma bola de canhão, que fica suspensa no ar. Quanto mais Linda corre, mais ela gira a bola no ar. Quando ela chega perto o suficiente, ela solta a bola, quebrando a parede do labirinto.

- Não vai conseguir nos matar. Não hoje. - ela murmura para o labirinto enquanto ultrapassa o buraco que acabara de criar. Ela olha para nós por cima do ombro e sorri. Nona vai até ela e segura sua mão, apertando com força. Linda a observa com intensidade antes que todos nós comecemos a abrir nossa própria saída deste labirinto infernal.

O vigésimo primeiro dia não é mais uma ameaça.

***

Abrimos nosso cominho nas paredes, dou as direções para Linda assim que percebo qual labirinto está se formando. Corremos como cães loucos e desesperados, quebrando todos os obstáculos, passando por cima de qualquer coisa.

Então eu avisto, ao longe, uma construção metálica enorme que imita uma caixa de ferro. É ali. O lugar onde o velho eu morreu e onde Três nasceu. Um arrepio gelado desce pelas minhas costas e eu tenho uma lembrança terrível:

"NÃO!" Eu gritava. "Nããão!!! Por favor!" Meus braços estavam suspensos, eu estava sendo arrastada, tudo o que conseguia ver eram meus pés tentando refrear no chão cinza metálico. O lugar fedia a sangue e antisséptico. Eu estava no Forte. Me debatia, chorava, gritava, mas era como se em todo o lugar só existisse eu e os homens que me arrastavam. "Me deixem! Eu não vou participar disso! Não!" Então entrávamos em uma sala, e uma porta pesada era fechada. "Eu não sei de nada! Eu não vou agir contra a minha própria irmã!" Esbravejo. Um dos homens esbofeteia meu rosto, sinto a dor do novo corte na minha bochecha. "Por favor, faça silêncio. Eu e você sabemos que você não vai conseguir sair daqui." Uma nova voz diz. É Maori. Ele aparece no canto da sala, no escuro. Eu cuspo sangue e saliva nele.

"Que falta de modos." Reclama. Os homens me agarram e me forçam contra uma mesa frígida, prendem meus braços e pernas. Eu grito. "Eu vou ter que te ensinar a ter educação com os anfitriões." Ele se aproxima e acaricia meu rosto. Me retraio. Ele abre minha boca e põe um pedaço de pano nela. Tento cuspir mas ele segura minha boca. Sinto conectarem algo às minhas têmporas, uma ventosa, fios. Meu coração acelera. "Vamos ensinar bons modos para nossa convidada." Maori gargalha como um louco.

Ele liga a máquina. Sinto como se cada célula do meu corpo estivesse queimando. As descargas elétricas perpassam meu corpo e a dor me faz gritar e morder o pano. Se não o tivesse, provavelmente quebraria meus dentes. Esse foi só o começo. A partir desse dia, eu fui me tornando familiar e estranha; e ninguém ao mesmo tempo. Me tornei uma arma, uma assassina, uma boneca que pode falar com a própria voz mas nunca com as próprias palavras.

- Ei. - saio aos poucos dos meus lapsos de memória, trazida de volta por um chamado repetitivo. - Está acordada? O que houve?

Os três estão à minha volta. Eu devo ter desmaiado. Sinto um dedo leve passar pela minha bochecha, limpando... lágrimas. Eu estava chorando.

Me levanto sem delicadeza nenhuma. Limpo o pó imaginário das minhas roupas e finjo que nada aconteceu.

- É ali... - hesito, mas não por falta de certeza. - É ali que sua amiga está.

Nós seguimos calados. Ninguém comenta o acontecido. Estou indo direto para o lugar dos meus pesadelos.

Quando estamos perto o suficiente, minha cabeça começa a doer e o meu coração palpitar. A parte destruída do meu rosto arde, como se se lembrasse do lugar e pedisse para não voltar.

- Vamos entrar em silêncio. Não quero accionar as medidas de segurança daqui. - digo a Linda antes que ela prepare uma nova bola de canhão.

Marco fecha os olhos e faz um círculo no ar com o indicador. O portal se abre assim que ele fecha o círculo, o pequeno buraco-negro se expande até ter o meu tamanho. Vamos entrando, um a um, e desaparecendo na escuridão, para dentro do Laboratório Maldito.

Marco tinha razão, a primeira vez é sempre a pior. Quando saímos do portal, meu estômago não se embrulhou, tive apenas uma leve dor de cabeça e nada mais.

O portal se abriu em uma plataforma alta, uma das muitas que se estendem nesse lugar, levando aos muitos andares.

- Pelos Cósmicos, o que é aquilo? - sussurrou Marco estupefato.

Quando olhei para baixo, quase caí com a visão. Um exército. Um exército imóvel, enfileirado, como soldadinhos de chumbo. Todos vazios. Como bonecos. Como eu.

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Olá meus amores! Sentiram saudades?

Fiquei muito triste por ninguém querer participar do concurso. Mas recebi vários elogios e pelo título do livro estar bom. E agradeço muito.

Vocês bem que podiam deixar de ser fantasminhas e votar e comentar 🙄🙄

Beijinhos até o próximo capítulo

As Crônicas de Rayrah Scarlett - Esperança Em Arnlev [RETIRADA EM 25/08/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora