Decisões e revelações

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SEGUINDO EM FRENTE

Por DBacellar

(...)

Tom aos poucos foi se deixando ser levado pela letargia do sono. De alguma forma, o sonserino sabia, no fundo de si, que aquele era o lugar onde a castanha deveria estar. Em seus braços.

Era fácil tolerar que ela fosse uma maldita grifinória, mas ele sentia-se traidor de suas próprias ideologias ao ter deitado com ela. Sangue ruim. Era o que ela era. Nada mudaria aquele fato asqueroso, mas enquanto mantivesse aquele fato omisso, enquanto ninguém soubesse de sua ascendência trouxa, então era seguro. Era seguro continuar aproveitando daquele desejo lascivo e pungente. Ele sabia que após aquela noite, por mais que ele quisesse, não teria capacidade de controlar-se. Não como homem. Havia algo entre eles, muito mais forte do que uma mera atração física. Era impulsivo e instintivo, como se fossem dois animais que agiam segundo a vontade do corpo ao invés de tomar decisões racionalmente e isso o irritava em níveis profundos.

Talvez devesse transfigura-la em algo disforme, só assim o desejo deixaria de fluir em cada mínimo poro do moreno. Ele não estava satisfeito de ceder como um grifinório qualquer que segue o coração e os instintos. Ele não era um maldito leão corajoso e burro. Era uma serpente ardilosa, sedutora, fria e inteligente.

O moreno suspirou em meio à enxurradas de pensamentos e se concentrou no corpo nu, quente, macio e cheiroso em cima do seu corpo frio. Colocou todos os pensamentos de lado e fez o que nunca fizera em toda a sua existência. Deixou tudo pra depois.

(...)

A castanha abriu os olhos assustada. Piscou algumas vezes até conseguir se situar. Aos poucos, imagens da noite que tivera a invadiu com a força de uma catarata. Tom beijando-a. Tom tocando-a intimamente. Tom subjugando-a. Tom a fodendo. Porque foi exatamente isso que fizeram. Não fizeram amor. Não houve romance, não houve promessas. Nada. Foram só dois corpos rendendo-se a um desejo irracional.

Seu coração disparava dentro do peito enquanto a castanha percebeu aonde estava. Nos braços dele. Oh Merlin! Sentiu um arrepio ao fitar o rosto adormecido do moreno. Ele parecia tão sereno agora. Os lábios entreabertos, os cabelos normalmente penteados estavam gostosamente desgrenhados e havia o movimento rítmico de sua respiração abaixo dela. Tão desprotegido. Ela não acreditava que havia permitido entregar-se de forma tão fugaz. Ela sabia, e mesmo que não se lembrasse do resto de sua vida, ela sabia que não era esse tipo de garota. Tão logo, a culpa a corroeu e lágrimas graves inundaram seus olhos âmbares. Mas, então, mesmo sentindo culpa, porque não conseguia sentir-se arrependida?!

Aquilo era exatamente o que o seu corpo queria e não o que a sua mente lhe dizia para fazer. Havia um aviso, um alerta que piscava em sua cabeça informando-lhe que havia um perigo em tudo aquilo. Um perigo muito maior do que ela poderia medir ou imaginar. Ela deveria se afastar.

Seu coração apertou-se em seu peito e a garganta secou e apertou em um nó incômodo quando a decisão formou-se forte em sua cabeça.

A castanha levantou-se tomando cuidado para não acordá-lo. Supôs que era por volta das 3h00min da madrugada e o céu estava pontilhado de estrelas brilhantes. Dava para ver através da única janela do cômodo largo. Pegou sua varinha e com um simples aceno suas roupas apareceram em seu corpo. Evitou olhar para o moreno enquanto fazia pijamas verdes e confortáveis aparecerem em seu corpo másculo e perfeito. Sentiu o ardor entre suas pernas a fazendo lembrar novamente de seu ato inconsequente e com maior força de vontade suprimiu a memória. Não. Ela não era esse tipo de garota. Não poderia ser. Não queria ser.

A castanha conjurou um lençol quente e cobriu o moreno, agachando-se ao lado do garoto e passando as mãos em seus cabelos sedosos e macios muito suavemente para que ele não acordasse. Aproximou-se mais ainda e selou os lábios no dele, esperando ardentemente que fosse capaz de manter a promessa que acabara de fazer a si mesma.

— Adeus, meu menino bipolar. — ela falou entre uma riso e uma lágrima.

A castanha levantou-se rapidamente fugindo de perto dele a passos decididos

(***).

A castanha chegou facilmente ao corredor do terceiro andar que a levava até a sala comum compartilhada para os dormitórios de monitores-chefes da sonserina e da grifinória. Tinha que fazer uma última coisa antes de se jogar de forma derrotada em sua cama como planejava fazer.

Em tudo, não queria que o moreno fosse pego por Filch ou por algum outro professor que eventualmente resolvesse fazer ronda pelo castelo.

Com coragem e determinação bateu na porta do quarto de Tom. Não demorou muito para que um loiro de olhos cinzas e sonolentos a atendesse. Ele ficou confuso por um tempo.

Hermione evitou olhar para o corpo semidespido do loiro que vestia somente as calças de um pijama verde. Os cabelos impecavelmente lisos do garoto estavam soltos e caiam ao redor do seu rosto formando uma cortina dourada enquanto ele olhava para baixo, para a garota pequena e determinada a sua frente. Ela manteve os olhos no dele, enquanto tentava manter a expressão tão serena quanto podia.

— Desculpe acordá-lo a essa hora, mas queria informar que o seu amigo acabou adormecendo na torre da astronomia. Sugiro que vá apanhá-lo. Não seria de bom grado que um monitor-chefe fosse apanhado fora do dormitório a essa hora da madrugada. Ele poderia ser prejudicado. — a castanha parou quando percebeu que estava praticamente fazendo um discurso. Abraxas continuou encarando a castanha com olhos insondáveis.

— Tom sabe se virar... — ele falou com a voz rouca pelo sono. — Ele nunca é pego. — ele completou e por um segundo a castanha imaginou que aquilo era muito mais profundo do que ela podia interpretar no momento.

— Mas o que me intriga... — Abraxas continuou com a frieza que lhe era característica. — É o fato de você, srtª Granger, saber exatamente aonde ele está e o que ele está fazendo. Até onde eu sei, aquela região não corresponde a sua área de monitoria.

A castanha respirou profundamente e sentiu-se corar. Estava tentando ser educada com o bruxo loiro, mas ela simplesmente não gostava dele. Resolveu que responderia a única coisa na qual ele não acreditaria, na verdade, na qual nem ela mesma acreditava que tinha realmente acontecido.

— Meu caro Abraxas... A sua curiosidade beira a impertinência, mas você já parou para pensar que talvez, só talvez, eu tenha ido até o seu amigo, aquele que sofre de múltiplas personalidades, e então fizemos amor loucamente até que ambos estivéssemos exauridos de tanto cansaço e que adormecêssemos romanticamente nos braços um do outro. Então eu acordei e desci habilmente me desviando de qualquer coisa que pudesse me levar a uma detenção, e resolvi te alertar só por cortesia. — ela exibia um sorriso cínico no rosto enquanto encarava os olhos cinzas e a face surpresa do loiro.

A castanha virou-se nos calcanhares e entrou rapidamente no seu dormitório, mas o que ela não sabia era que Abraxas era tão bom legilimente quanto Tom e manter a ligação do olhar havia sido o seu atestado de verdade. Inevitavelmente, ele acreditara em todas as palavras que ela havia dito.

O loiro respirou profundamente. Pelo visto, o moreno desta vez estava realmente encrencado e aquilo só poderia significar uma coisa... Tom Riddle, mesmo que não soubesse ou se negasse tal fato, estava irrevogavelmente apaixonado pela garota do futuro e isso seria um grande problema.

Abraxas sacudiu a cabeça e sentou-se na poltrona da sala comunal olhando perdidamente para a lareira. Ele precisava conversar com o moreno antes que aquela relação destruísse tudo o que eles haviam planejado por tantos anos...

(***)

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