Livro Branco

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SEGUINDO EM FRENTE

Por DBacellar

Hermione estava sentada no frio do lado de fora do castelo olhando para as águas plácidas do Lago Negro. Gina aproximou-se devagar, sentando-se ao lado da amiga. Era quase noite e o sol se punha em algum lugar ao oeste, ofuscado pelas nuvens espessas e cinzas. Gina apertou o cachecol ao redor do pescoço protegendo-se do frio do crepúsculo.

— Mione... — Gina falou colocando os braços de forma confortadora ao redor da amiga. — Você tem que superar. Eu sei que dói. Eu também sinto. Eu perdi o meu irmão também Mi. Perdi o grande amor da minha vida. As nossas dores não são diferentes.

— Eu não sou você — Hermione falou entre os dentes de forma ríspida.

— Não me agrida Hermione Granger. Estou tentando te ajudar. Todos estamos. — Gina falou mais forte. Ela não se conformava com a forma que a amiga estava agindo ha meses. Ela mal comia, não respondia mais a nenhuma das perguntas que os professores lhe faziam, tinha as piores notas e não estava se esforçando para melhorar.

— Você não está se ajudando Hermione. Por acaso você acha que era isso que Harry e Ron iriam querer? O que você acha que eles estão sentindo ao verem você definhar desse jeito?! — ela perguntou exasperada, com lágrimas graves nos olhos.

— Eles não estão sentindo nada, absolutamente nada Gina! — a castanha levantou-se impetuosamente. — Porque os mortos não podem sentir. — ela completou a frase voltando para o castelo, deixando sua melhor amiga sem ação.

A ruiva não sabia mais o que fazer. Não havia meio de fazer Hermione reagir.

Os passos largos de Hermione demonstravam que ela não queria companhia. Ela nunca mais queria companhia. Ela queria estar só, estar completamente sozinha o tempo todo. Afastar-se das pessoas era a sua melhor arma. Ah, a solidão a abraçava como uma velha amiga de garras afiadas e de pele enrugada. Quem dera se a mesma solidão à levasse para o mesmo vale escuro onde os seus amigos estavam agora. O vale da morte.

Ela andava pelos corredores do castelo sem cumprimentar ninguém. Ela conseguiu fechar-se em seu próprio mundo, numa redoma de ferro, inalcançável. As pessoas, pouco a pouco, deixaram de nota-la. Há quanto tempo ela não falava? A única pessoa capaz de arrancar-lhe algumas palavras era Gina, mas o resultado final nunca era agradável. Gina estava desistindo. Ela não suportava tentar tirar da lama alguém que preferia chapinhar nela. Hermione estava tentando se punir. Ela culpava-se por não ter conseguido salvar os dois e não havia ninguém que conseguisse demovê-la dessa ideia. Até a professora Minerva tentou ajuda-la, mas Hermione não precisava de ajuda. Ela só precisava esquecer.

Hermione entrou pelo buraco do retrato passando rapidamente pelos alunos que conversavam animadamente no salão comunal da grifinória. Aquilo a irritava. Como eles conseguiam viver quando tudo ao redor dela havia desmoronado?

Ela subiu rapidamente as escadas em espiral e entrou em seu quarto. Jogou-se em sua cama e fechou os olhos. Não demorou muito para que o sono viesse.

(...)

"Eles não estão sentindo nada, absolutamente nada Gina, porque os mortos não podem sentir... Porque os mortos não podem sentir... Porque os mortos não podem sentir".

Hermione abriu os olhos após mais um pesadelo. As palavras ditas por ela mais cedo rodopiavam em sua mente transformando-as em uma ideia. Uma ideia que lhe parecia a cada minuto mais atrativa. Era madrugada. Ela podia ouvir as meninas do sétimo ano ressonando baixinho. Todos seguiam mais tranquilos agora.

— Porque os mortos não podem sentir. — a castanha sussurrou para si mesma testando as palavras. Sorvendo o seu significado. Os mortos não podem sentir. Como ela não havia pensado naquilo antes?

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