Isso é suficiente

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(...)

Hermione não sabia exatamente o que sentir. Uma explosão de sentimentos ruins a invadiam de uma forma que ela não conseguia expurgar. Fantasmas, memórias ruins, dores, culpa. Tudo misturava-se de uma maneira cruel dentro da castanha e por um minuto ela sentiu-se como se fosse rachar ao meio. Ainda olhava para Tom sem conseguir piscar. Olhava-o atônita demais para conseguir seguir uma única linha de raciocínio e as lembranças continuavam chegando, ocupando um espaço de sua mente outrora vazio.

Ela ofegava enquanto piscava os olhos nublados pelas lágrimas grossas. Como não chorar diante daquilo?

Seu corpo tremia levemente enquanto outras memórias eram absorvidas por ela. Estava nos braços de Tom e ele lhe sorria cúmplice. Lembrou-se de uma declaração de amor que fora feita tão sinceramente que era impossível que coubesse dúvidas. Ele chorara... Admitira um sentimento tão extenso quanto o que ela mesma carregava em seu peito. E ela continuou ali, olhando-o, enquanto a expressão de raiva era logo substituída por dor. Porque o destino havia lhe sobrecarregado com um amor tão grande, se em seguida lhe negaria o prazer de vive-lo? Ela não era tola. Não podia negar. Ela amava aquele garoto. O amava com cada célula de seu corpo. Amava-o pura e simplesmente. E não percebeu quando a sua mão abaixou e seu corpo cedeu derrotado ajoelhando-se ao chão.

Sua alma quebrava naquele instante e algo murchava em seu coração. Suas mãos trêmulas tocaram o chão de forma espalmada e ela fechou os olhos. Era um pesadelo. Um pesadelo do qual ela queria acordar.

Sentiu um bolo subindo por sua garganta e ouviu ao longe um grito áspero e desesperado sem se dar conta que era ela mesma quem estava gritando...

...

Tom não podia, não queria vê-la assim. As lágrimas constantes, os soluços altos e o desespero angustiante. Olhava para ela desejando poder trocar de lugar se isso significasse que ela não estaria sofrendo daquele jeito. Merlin... Ele a amava. Percebeu um tanto transtornado que Minerva e Abraxas saíram da cozinha entendendo que aquele momento pertencia somente a eles dois. Não precisavam de expetadores, não queriam. E relutantemente Minerva deixou a amiga ali, sabendo que ela nunca teria a capacidade de atentar contra a vida do homem que amava. Independente de qualquer atrocidade que possivelmente ele tenha feito. Abraxas a guiava, abraçando-a pela cintura, enviando a Tom um olhar consternado.

Hermione ainda apontava-lhe a varinha, mas o foco dos seus olhos nem de longe estavam no garoto sentado a sua frente. Ela encarava algo muito além, muito mais profundo em sua cabeça. Via cenas de sua própria vida no futuro e aquilo causava-lhe uma dor indescritível.

E ele viu quando ela abaixou a varinha... E ele viu quando o corpo dela cedeu e ela caiu ao chão, ajoelhada, vencida... E ele viu quando ela gritou. E o seu grito, a pura expressão do seu estado sentimental, fez com que ele se movesse. Ele aproximou-se devagar e a abraçou. Ela não recuou, não o empurrou, apenas deixou-se permanecer cativa dos braços fortes que traziam-lhe a sensação de que com ele era possível resistir a todas as dores que a vida já havia lhe imposto. Ela precisava daquilo. Precisava daqueles braços e daquele amor. Se não o tivesse, se fosse afastada, ela sabia que não resistiria, que sucumbiria e que partiria ao meio.

Mas ele não poderia permanecer ali. Não podia deixa-la naquela cozinha daquele homem deplorável. Abraçado firmemente à ela, ele aparatou.

Estavam em Hogsmeade agora, na casa dos gritos.

Ela somente permaneceu mais abraçada a ele, aconchegando-se, sentindo o cheiro dele.

— Eu a amo... — ele falou novamente. A voz rouca próxima ao ouvido da castanha e dessa vez não esperou a resposta. Ele precisava falar. Precisava falar tudo o que o atormentava naquele instante. — Eu sei que no seu futuro eu sou um monstro... — a sua voz ainda soava incrivelmente rouca. — E sei que sou responsável por toda a sua dor... Eu vi... E isso eu não posso mudar. Não posso mudar Hermione. Não posso devolver as vidas que por causa de mim lhe foram tiradas, não posso ressarcir todas as percas que você sofreu, mas eu lhe prometo... Não serei essa pessoa. Não serei. — ele fechou os olhos sentindo a verdade de sua promessa. Nunca havia sequer imaginado que o seu sonho e o seu plano havia tomado uma proporção tão grande e lastimosa. Não poderia dizer que havia mudado tão rapidamente, não, não fora uma mudança rápida. Mas foi algo sutil. Como não percebera antes? Como não notara que já se questionava mesmo antes de Hermione aparecer em sua vida? Mas fora a sua presença o grande diferencial, foi o amor, o sentimento que ele não se julgava ser capaz de sentir, que lhe indicou que havia um outro caminho.

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