Lembrança roubada, memória lembrada

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Hermione abriu os olhos. Olhou o teto branco por longos e intermináveis minutos sem que um único pensamento pairasse sobre sua cabeça. Vazio. Era tudo o que ela sabia sentir naquele instante. Ela tocou em seu coração, as mãos de repente tremendo e ela sentiu como se faltasse um pedaço do seu próprio corpo. Um pedaço de sua vida. Um pedaço da sua alma.

Sentou-se na cama. Onde estava? A sua respiração ficou difícil porque ela não conseguia lembrar e ela sabia que precisava, ela precisava ter a recordação do que faltava em sua vida, porque ela sabia que de algum modo aquilo era imprescindível. Sem que ela tomasse realmente conhecimento, as lágrimas começaram a jorrar por seus olhos âmbares.

Ela levantou-se da cama com muita dificuldade. Não conhecia aquele quarto. Oh céus. Ela precisava lembrar. Um soluço alto e involuntário subiu por sua garganta e ela deixou-se cair ao chão. As lágrimas desciam ininterruptas, doídas e os soluços ficavam mais altos. Colocou as mãos em sua cabeça e puxou alguns fios na tentativa frustrante de saber, ao menos, o motivo pelo qual sofria tanto. Era uma dor tão real, profunda e excruciante, algo que ela não podia medir ou descrever.

Eu não sei onde estou... Estou parada aqui atrás... Estou cansada de esperar... Estou esperando aqui constantemente... Espero que eu encontre o que eu tenho perseguido...

Não importava quem ou o que estava faltando em sua vida, ela entendia a magnitude que aquela falta representava.

Eu atiro pro céu... Estou cravada no chão... Então, por que eu tento? Eu sei que vou cair.

Deitou-se ao chão, sentindo o piso frio colado à sua bochecha. Trazia uma sensação em meio ao sofrimento inexplicável.

— Eu preciso lembrar... — ela sussurrou para si mesma como se a sua vida dependesse disso.

Ouviu a maçaneta da porta do quarto onde estava girar e levantou os olhos um pouco. Viu a sombra dos pés da pessoa que estava do outro lado. Havia muita luz ali. A luz do sol, forte e clara que vinha da janela do lado de fora que estava aberta deixando uma brisa amena entrar, havia o reflexo dos objetos nas paredes brancas, os móveis eram em madeira branca e de aparência e clássica. Era tudo claro e tudo deveria lhe passar paz, mas ela não conseguia obter aquele sentimento naquele instante. Era tudo o que ela precisava e ela não sabia o motivo de não tê-la. Ela só sabia que era impossível. Era impossível estar em paz com aquele buraco em seu peito.

Eu achei que podia voar... Então porque eu me afoguei? Eu nunca vou saber por quê. Estou caindo, caindo e caindo.

A porta abriu-se, lentamente. Tão lentamente que ali, para ela, deitada naquele chão levemente frio, fez-lhe sentir impaciente. Pés e parte da canela. Era tudo o que ela tinha. Estava do outro lado da cama e o móvel não lhe permitia a visão do resto do corpo. Ela sentiu esperança, mas não sabia o porquê de senti-la. Talvez estivesse sonhando e quando acordasse aquela dor cessaria. Mais lágrimas. Vazio. Vazio eterno e constante. Canelas brancas. E femininas. Arrastando-se como se o fato de estar em pé fosse extremamente dispendioso. As sandálias frágeis se arrastavam em direção a ela e ela virou de barriga para cima, para encarar a pessoa que havia entrado no quarto. Os olhos verdes encaravam-na confusa enquanto ela se apoiava na cama. A castanha pensou que sua amiga parecia doente naquela camisola de algodão. Os cabelos estavam soltos, passados pelos lados de seus ombros, um tanto sem brilho. Olheiras profundas e bolsas enfeitavam-lhe a face e Hermione pensou por um segundo que provavelmente ela mesma ostentava a mesma aparência deplorável.

— Você... — Minerva começou, mas não sabia como prosseguir. — Eu sinto... Eu sinto como se... — ela tocou o coração enquanto respirou profundamente — É difícil respirar... — os olhos verdes inundaram de lágrimas. — Algo falta. Falta aqui. — ela apontou para o próprio coração e as lágrimas desceram. Ela deitou, com dificuldade, ao lado de Hermione no chão. Olharam para o teto branco. Maldito teto branco que trazia uma falsa sensação de paz, como se estivessem presas em um sonho que deveria ser bom, mas não era. Não com um pedaço de suas vidas faltando.

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