CAPÍTULO 9

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"Querido diário, sentada sozinha em um dos poucos lugares não lotados da escola, me pego observando as outras garotas andando de braços dados com suas amigas e rindo juntas, parecendo felizes e confiantes. Em meu íntimo, penso se algum dia eu serei capaz de ter esse tipo de relacionamento com um outro alguém. No entanto, a ideia é risível. Quem iria querer ser amigo de uma pessoa tão fechada?"

Diário de Amélia, 30/03/2017

Amélia



- Eu ainda não sei se foi a realmente a decisão certa a se tomar. - digo a vovó, enquanto seguro com um pouco de força demais a caneca de chá de camomila e leite que ela havia me dado assim que eu chegara para tomar café da manhã.

- E por que não seria? - questionou, pegando com o garfo um pedaço do bolo de laranja em seu prato. - É só uma carona, querida. Não é nada de extraordinário.

Suspiro, bebericando meu chá.

Na noite do dia anterior, quando veio ao meu quarto ouvir os detalhes a respeito de como Sebastian e eu acabamos nos falando no pub e todas as outras coisas que aconteceram depois disso, vovó se mostrou extremamente frustrada por: número um, eu não ter aceitado a oferta dele de irmos à escola juntos e, número dois, eu ainda não ter ligado para ele.

O desfecho dessa conversa? Vovó tinha me convencido com toda a sua psicologia e tom de voz sábio que eu não só deveria ligar para Sebastian como também dizer a ele que havia mudado de ideia sobre a carona que me oferecera.

- Concordo com sua avó. - disse vovô, enfiando uma colher de iogurte com granola na boca. - Não há nada de mais em ir com o garoto para o colégio. Além de que, você não disse que ele queria ser seu amigo há anos? É muito natural que queira recuperar o tempo perdido agora que finalmente conseguiu falar com você.

- O senhor fala como se fosse um ganho e tanto para ele. - comento, achando graça.

- Não sei quando você começará a dar um pouco de crédito a si mesma. - ele olha para mim por sobre os óculos. - Você é uma garota incrível, Amélia.

Dou-lhe um pequeno sorriso em resposta.

Parecendo satisfeito, meu avô limpa a garganta antes de perguntar, como quem não quer nada:

- Então... Soube que a banda que se apresentou no pub era dele. Eles são bons?

- São muito bons. - confirmo, a lembrança da música, da voz de Sebastian e da harmonização dos meninos juntos no palco voltando à minha mente de forma vívida. - Ele é o vocalista. Não fazia ideia de que ele cantava, muito menos de que tinha uma banda. O que já era de se esperar, visto que sou uma alienada total.

- Entretanto, se decidir parar de se isolar do resto do mundo e aproveitar as boas companhias ao seu redor, nada disso importará mais. - diz vovó, esticando sua mão para tocar a minha. - E isso não é tão difícil. Pode começar simplesmente com dando a Sebastian a chance de conhecer a garota maravilhosa que você é.

Penso sobre as palavras dela e vejo que tem razão. Mesmo que eu não fosse tão maravilhosa assim, por que afastar a única pessoa que já quis ser minha amiga?

Mas então há aquela voz no fundo da minha consciência. Que sempre me para, que me agarra e faz com que eu estanque no lugar.

Relatos de uma garota que não liga pra você Onde histórias criam vida. Descubra agora