CAPÍTULO 22

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“Hoje assisti Orgulho e Preconceito. Mal os créditos do filme apareceram e eu já estava voltando do início para ver mais uma vez. Que sensível obra de arte! Isso sem falar da fotografia e trilha sonora. Eu com certeza tocarei 'Liz on top of the world' no piano depois do jantar. Vovô vai ficar boquiaberto.”

Diário de Amélia, 13/09/2014


Amélia


Felizmente, a chuva não tinha conseguido nos deixar em um estado tão deplorável antes de entrarmos no carro. No fim, com a opção lado de fora agora riscada da lista de lugares onde poderíamos passar o tempo, Sebastian e eu fomos até a nova livraria – que também servia café – que havia sido aberta recentemente no mesmo bairro onde estávamos. Da minha parte, o lugar tinha sido a alternativa perfeita, mas o meu parceiro de fuga não parecia achar a mesma coisa.

— Não acredito que matamos aula para ficarmos presos numa biblioteca — ele resmungou, bebericando o expresso que havia pedido assim que entramos no estabelecimento. — Não acredito que teve que chover logo hoje.

O observo com o canto do olho, notando sua expressão aborrecida enquanto finjo estar muito ocupada lendo a sinopse de um livro. Sebastian tem sobrancelhas bonitas. Elas não deveriam parecer tão bonitas quando ele está franzindo o cenho desse jeito, mas ainda assim são. Suspiro, pondo o livro de volta no lugar.

Não é o que estou procurando.

— Você está estranho desde que saímos do parque — comentei, indo para a próxima prateleira, tendo vaga consciência de que Sebastian está me seguindo pra lá e pra cá. — Foi por causa da conversa que tivemos?

Isso parece atingi-lo de alguma forma, porque ele nega com veemência.

— É claro que não. Fiquei feliz de ter falado com você.

Sorri, olhando-o por cima do ombro.

— É. Também fiquei feliz de você ter falado comigo — confesso, comemorando internamente quando o franzido de irritação na testa de Sebastian desaparece. — É bom se abrir com outras pessoas sobre algo que te incomoda.

— Por falar nisso — ele disse — Quando é que você vai me contar mais sobre você?

— Como assim? O que é que você quer saber? — perguntei, já sentindo meus ombros ficarem tensos.

— Tudo. Por exemplo, qual é a data do seu aniversário? Qual a sua cor favorita? De que signo você é?

Ri, aliviada e um tanto surpresa pelo teor das suas perguntas.

— Você acredita em signo?

— Eu não sei. Mas acho legal. E você?

— Também acho legal. Sou canceriana, a propósito. Minha cor favorita é lilás. Nasci dia 20 de julho.

— Dia 20 de julho? Uau, isso é perto. Muito perto — ele diz, pensativo.

Dou de ombros.

— Tanto faz. Agora é a sua vez. As três coisas.

Relatos de uma garota que não liga pra você Onde histórias criam vida. Descubra agora