CAPÍTULO 34

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“Sempre tive vergonha de ir à praia. As cicatrizes deixadas pelos cacos de vidro que perfuraram o meu braço quando o meu pai quebrara uma garrafa de cerveja contra mim eram muito ruins, e apesar de terem melhorado bastante com o tempo, eu não queria que as pessoas olhassem para mim e se perguntassem o porquê da minha pele ser cheia de marcas. Eu usava apenas blusas de mangas longas por isso: porque sair de braços nus sempre acabava sendo terrivelmente estressante. As pessoas olhavam, tiravam suas próprias conclusões e faziam com que eu me sentisse feia, vulnerável e triste.”

Diário de Amélia, 07/05/2016


Amélia



— Você não vai falar nada? — minha mãe perguntou, depois de passar mais de quinze minutos que estávamos dentro do carro – que ela pegara emprestado de vovô, – e eu ter me mantido em silêncio.

Encostei a cabeça no vidro da janela do veículo, suspirando. Sebastian não queria que eu fosse para casa com ela, e eu também não estava animada com a ideia, mas se Eloise havia vindo até aqui eu supus que era porque estava determinada a me levar de volta, e a última coisa de que eu precisava era criar uma cena no meio do estacionamento do Instituto.

Então aqui estávamos nós.

— Filha?

— Desculpa, o que você disse? — questionei, olhando de relance para ela, sem ter prestado atenção no que estava dizendo.

Eloise sorriu. Era estranho vê-la com essa expressão facial. Em nada se parecia com as poucas lembranças que eu tinha da pessoa que ela costumava ser.

— Eu só comentei a respeito de você estar muito calada.

Encolhi os ombros.

— Sinto muito. Eu não sou o tipo que fala pelos cotovelos. — expliquei, me sentindo um tanto culpada por não interagir, mesmo sabendo que esse era um total direito que eu tinha.

Ela olhou para mim por um instante, parecendo divertida.

— Sério? Quando eu te vi saindo da escola com o seu namorado parecia que você estava bastante falante.

— Ele não é meu namorado. — falei, abraçando a mochila em meu colo.

— Você não precisa mentir. A sua avó já me contou.

— Vovó gosta de aumentar as coisas. Somos só amigos — então franzi a testa: — E se ele fosse meu namorado, por que eu mentiria?

Ela deu de ombros.

— Talvez você pensasse que eu não fosse gostar.

Quase ri da total improbabilidade da sua suposição.

— Como se depois de dez anos sem nem dar um telefonema a sua opinião ainda contasse.

O meio sorriso que havia no rosto de Eloise morreu, mas eu não me senti culpada. Ela tinha que ser mesmo uma tremenda cara de pau para ter a coragem de sugerir que eu esconderia alguém tão importante na minha vida só por achar que ela não o aprovaria. E ainda mais se tratando dela, a mãe desnaturada que me abandonara no momento em que eu mais precisava que ela ficasse ao meu lado.

— Eu esperava que pudéssemos tentar, ao menos antes de chegarmos em casa, ter uma conversa tranquila — disse Eloise, pigarreando.

Olhei para ela uma vez, incrédula, antes de dizer:

Relatos de uma garota que não liga pra você Onde histórias criam vida. Descubra agora