CAPÍTULO 32

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Mas agora eu estou dentro de mim (olhando para fora, porquê)
Eu estou de pé nas chamas
É um belo tipo de dor
Incendiando o ontem
Ache a luz, ache a luz, ache a luz
(beautiful pain - Eminem / ouve a musiquinha)

CALLYEN

Sigo para o interior da cabana, notando que ela era bem aconchegante mesmo sendo modesta. Sinto a presença de Azriel, sinto seu olhar formigando em minha nuca, mas não atrevo a me virar para olhar. Havia uma sala um tanto espaçosa, com dois sofás em frente a uma lareira de terra vermelha, e mais frente o que parecia ser a cozinha, que devido a mesa grande com seis cadeiras disponíveis e projetadas para acomodar asas confortavelmente. Uma pia, armários e um fogão a lenha. Ao fundo na parede, uma janela coberta por um cortina.

Desvio meu olhar e vejo uma escada, para o andar de cima, onde provavelmente ficariam os quartos. Viro-me, vendo que realmente o olhar de Azriel estava sobre mim.

— Os quartos ficam no andar de cima. O banheiro no final do corredor. Tem toalhas e roupas extras no armário em frente a porta. Eu vou depois de você. — ele simplesmente diz, parecendo cansado. Esgotado na verdade, mesmo que ele permaneça com o semblante sério.

— Você preço de cuidados, suas asas estavam machucadas...

— Já estão melhor. — ele me corta, negando a oferta. — Não atingiu nenhum local crítico, e ação do veneno já saiu completamente do meu sistema. Aliás, obrigado por isso.

Pisco algumas vezes. E então eu solto o ar balançando a cabeça em afirmação.

— Ainda assim indico que veja um curandeiro. — digo retirando o dardo de dentro do bolso e o estendo a minha frente para que ele o pegue. Azriel estende a mão, e eu deposito o dardo em sua palma, afastando a minha antes que eu pudesse ter algum tipo de toque com sua pele. O receio de ser novamente sugada para dentro dos muros negros de sua mente. — Peguei isso com um dos soldados, verifique se pode ser útil de alguma forma.

Eu não espero por uma resposta, passo por ele seguindo para a escada e subo para o outro andar, sigo diretamente pelo corredor, onde portas se acomodado três de cada lado e no final uma única que, segundo Azriel, deveria ser o banheiro. Sigo para lá, ao lado da porta um pequeno armário de madeira escura, com gavinhas de sombras pintadas nas duas pequenas portas, estrelas e as fases da lua nas gavetas. Seguro o puxador e a imagem enche minha mente. A Grã Senhora suja com tinta enquanto estava sentada no chão, pincéis sobre o suporte enquanto ela pacientemente descansava as gavinhas de sombras, as luas e o círculo com as montanhas e três estrelas brilhantes no topo do meio. Vejo os outros andando pelo pequeno espaço, a cabana era grande e modesta, e talvez, a melhor dentre as outras ali.

Engulo as sensações que esse lugar abriga e puxo um toalha de dentro do armário e procuro por um novo conjunto de roupas, e encontro uma calça preta junto com uma camisa de manga comprida da mesma cor, entro para o banheiro.  Eu estava horrível, a trança que em meu cabelo estava quase desfeita, deixando vários fios fora do lugar, meu rosto sujo de sangue seco, assim como meu pescoço. A manga da blusa que estou está rasgada onde o dardo me atingiu de raspão e do outro lado, a mancha de sangue no buraco onde eles conseguiram acertar.
Recordo-me das sensações, minha visão novamente é levada para meu encontro com Ykner. Eu ainda tentava entender como aquele desgraçado havia conseguido entrar na minha mente. Desço o olhar para minha mão direita, onde o pedaço de pano da bainha da camisa de Azriel estava amarrado. Puxo o jo do tecido, desenrolando-o da palma, com a esperança de que aquilo tenha sido apenas uma visão implantada na minha mente por Ykner. Solto um xingamento, vendo a crosta de sangue seco grudado ao pano, o ferimento, o pequeno furo que ele tinha feito ali. Um lembrete. Um maldito lembrete que ele estava em minha mente, e que ele realmente conseguiu me ferir através disso. 

Príncipe das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora