CAPÍTULO 23

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CALLYEN

Eu sentia como se meu corpo tivesse sido chegado ao fogo. E não de uma maneira boa, se é que a sensação de estar queimando de dentro para fora possa ser, de alguma forma, uma boa sensação.

Aguente firme.

As palavras suaves sopraram contra mim, enquanto eu sentia minhas entranhas queimarem e meu peito arder.

O veneno desenvolvido por Ykner e seus capachos de feiticeiros, era uma combinação pura do veneno criado pelo pai, ele conseguiu refinar até a pureza transformando o veneno em algo ainda mais rápido e mortal que antes. Eu sabia disso, porque ele tratava pequenas doses durante as pesquisas em mim testando simultaneamente meu fato de cura como a eficácia gradativa do veneno. E então quando finalmente atingiu a porcentagem máxima de pureza ele testou no peito do feérico que o orientou, o macho morreu em dez minutos.

Doeu abrir meus olhos, quando a claridade atingiu em cheio minha retina eu tive que fechar novamente, com força, para acostumar e abrir novamente. Minha bochecha arde e eu sinto as ataduras apertando minha barriga onde eu havia sido ferida. Reclamo com a dor ao tentar me mover na cama, mas as mãos parcialmente coberta com as manoplas negras com pedras sifões azul cobalto me impediram de levantar.

— Sabe, está ficando repetitivo essa mania de acabar ferida em uma cama. — ouço a voz de Azriel perto demais de mim. O hálito quente e convidativo até demais, soprando em minha bochecha boa quando ele falou.

Franzo o cenho para suas palavras, e para o tom com o qual ele falou. Involuntariamente, um sorriso repuxou meus lábios, de modo instantâneo eu reclamei com a fisgada de dor na outra bochecha, a qual reparei estar coberta com um curativo.

— Bem... não sabia que você abrigava algum senso de humor, encantador de sombras. — digo, sentindo minha garganta queimando. Olho ao redor e percebo que não estou no quarto para o qual fui modificada depois de destruir o anterior durante o sono.

Não. Esse era igual aos demais em tamanho, enorme, mas haviam coisas que demonstravam que alguém habitava ali. Como uma estante com livros entalhadas diretamente na parede de pedra da lua, em outra parede um quadro com um mapa das terras de Prythian e locais circunvizinhas. Cortinas negras como a noite estavam esvoaçando pelas janelas abertas do chão ao teto do outro lado; a cama na qual eu estava, enorme o bastante para acomodar asas. Então eu percebi, o cheiro dele — de sombras, terra e vento, algo bom e desconhecido — estava impregnado no lugar, demonstrando que ele passava muito tempo nesse aqui...

— Quanto tempo dessa vez? — murmuro sob seu olhar atento.

— Um dia. Feyre ajudou a retirar o veneno do seu sistema sanguíneo antes que ele chegasse ao seu coração. Depois disso o sangue dela agiu como um fator de aceleração para sua cura. Você dormiu desde então. — ele diz.

O observo pelo canto do olho. Sua expressão mesmo fechada, encoberta pelas sombras que passavam pelo semblante, ele parecia cansado, frustrado. Eu sabia os motivos para aquele semblante, inspiro profundamente, inalando seu perfume a medida que a intenção era pegar ar.

— Reúna todos. Sei que querem respostas e darei isso a vocês. — digo, vendo seus olhos dourados se fixarem em mim. Sua mandíbula se move firmemente, como se ele estivesse segurando as palavras.

— Não precisa se esforçar tanto...

— Eu estou bem e sei que preciso me explicar, Azriel. Não quero que pensem mal de mim.

— Ninguém disse isso. — ele refurta e eu o olho incrédula.

— Mas pensam... Por favor... — novamente o vejo trincar a mandíbula, mas dessa vez ele não fala nada e sai.

Príncipe das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora