18 - AMELIA PART IV FINAL.

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Abri os olhos lentamente, um peso estranho e uma dor lancinante pulsando na minha cabeça. O ambiente ao meu redor estava nublado e eu mal conseguia processar as imagens, como se estivesse tentando ver através de uma névoa espessa. Tentei mover meu corpo, mas a dor foi imediata, intensa, e eu não pude evitar o gemido de desconforto que escapou de meus lábios. Meu corpo estava pesando como se cada movimento fosse um esforço colossal.

De repente, a figura de minha mãe surgiu em meu campo de visão, seu rosto preocupado e com os olhos lacrimejando, como se estivesse aliviada por me ver despertar. Eu mal conseguia distinguir se era realidade ou um pesadelo, e ela parecia tão distante, tão nebulosa em meio ao turbilhão de sensações.

— Mamãe... Onde estou? Como vim parar aqui? — minha voz saiu fraca, abafada pela dor e confusão, e os sons ao meu redor pareciam abafados, como se eu estivesse dentro de uma caverna. A dor na minha cabeça estava latejando, constante, como se tivesse batido com força contra algo sólido. Cada centelha de luz parecia cortar mais profundamente dentro de mim.

Ela se inclinou, o olhar profundamente preocupado, e sua resposta parecia vinda de um distante eco.

— Você não lembra de nada do que aconteceu? — sua voz era suave, mas com uma ponta de surpresa. Eu tentei me concentrar, forçar minha mente a trabalhar, a lembrar de algo, mas tudo o que surgia eram flashes desconexos: uma leitura de testamento, o som de passos apressados, o rosto de Lucien... e então um vácuo profundo. Nada fazia sentido.

Eu fechei os olhos por um instante, tentando organizar as peças dessa memória fragmentada. Minha mente estava confusa, e as imagens não se encaixavam.

— Eu só me lembro de ter ido com Lucien para a leitura do testamento... E depois... depois voltei para casa... — a voz me falhou no final da frase, e um calafrio percorreu minha espinha. Como poderia estar aqui agora, em um hospital, se tudo o que lembrava era de uma simples ida ao escritório do advogado? Eu devia estar com ele. Tinha que estar com ele. Eu tinha que terminar de preparar minhas coisas para ir embora com Lucien. A viagem. Ele.

Minha mãe parecia hesitar por um momento, antes de se aproximar um pouco mais, seu olhar mais sério.

— Querida, fique quieta... Você sofreu um acidente. Uma queda muito forte. Bateu a cabeça e foi levada para o hospital depois de se cortar com os vidros. — ela falou devagar, como se tentasse me explicar algo que eu já devia saber, mas que estava tão distante da minha compreensão. Ela apontou para a minha cabeça com uma leve tristeza no olhar. — A abertura foi grande. Eles precisaram cortar um pouco do seu cabelo para conseguir costurar.

Eu levei a mão à minha cabeça automaticamente, e o curativo grande e espesso me fez estremecer. A sensação era estranha, pesada, e ao tocar na ferida, senti o tecido úmido de onde a dor ainda estava cravada. Olhei para o meu corpo, coberto de marcas e cortes, como se tivesse sido atingida por fragmentos de vidro. Eu tinha agulhas na veia, algo que eu não reconhecia, uma sensação de fraqueza tomando conta de mim. Como eu iria fugir com ele agora, nessas condições? Como conseguiria acompanhar Lucien, com meu corpo em frangalhos?

A preocupação crescente em meu peito aumentou. Eu precisava vê-lo, precisava saber dele. O que havia acontecido com ele? Onde estava? Eu só queria encontrar algum vestígio dele, de sua presença, de suas promessas.

— O Lucien sabe do que aconteceu? Ele está aqui? — a pergunta escapou dos meus lábios antes que eu pudesse pensar melhor. Minha voz estava quase quebrada, e minha mente ainda estava tentando entender a realidade ao meu redor. Ele teria vindo me visitar, certo? Ele precisava saber o que tinha acontecido. Ele não podia simplesmente ir embora... não assim, não sem me procurar.

Minha mãe parecia hesitar ainda mais dessa vez, o silêncio entre nós se estendendo como uma parede invisível. Quando ela finalmente falou, o peso de suas palavras me atingiu como uma marretada.

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