Não sei bem o que estou fazendo num sábado à tarde, do outro lado da cidade. Passei a maior parte da manhã dizendo a mim mesmo que sei no que estou me metendo e que não estou sendo nenhum idiota burro. Repito mentalmente que arriscar faz parte, que nós nunca vamos aprender se não rompermos essa barreira do medo e da insegurança, por isso respiro fundo enquanto caminho pelas calçadas do bairro nobre, ainda me sentindo estupido por estar tão nervoso.
Isso não significa nada, Mikael!
Levo apenas alguns minutos para chegar até a casa do Nando e paro diante do lugar, encarando com arrependimento. Fico tão desligado de mim mesmo, que nem mesmo me dou conta quando já estou tocando o interfone. Só quando ouço o barulho é que meu corpo reage e eu arregalo os olhos, sentindo o pânico começar a me invadir lentamente.
- Quem é? – a voz rouca já conhecida ecoa pelo interfone e sinto meu coração quase sair pela boca. – Mikael? – pulo de susto ao escutá-lo dizer meu nome e me pergunto como diabos ele descobriu que sou eu quem está ali, até erguer os olhos e encontrar a câmera apontada para mim. Abro um sorriso tenso e forçado.
- Oi Nando. – é a única coisa que consigo dizer.
- Achei que ia me dar um bolo, amiguinho! – ele diz, alegremente. Tento não fazer careta ao ouvi-lo com sua mania de usar diminutivos. O pensamento de que Alex me zoaria por causa disso vem à cabeça, mas a culpa vem junto e me obrigo a manter o foco.
- Estava meio ocupado pela manhã. – minto, sem querer dizer que na verdade, estava com medo e nervoso.
- Fica paradinho aí, que já vou te buscar! – Nando fala e em seguida ouço o barulho de telefone no ganche. Olho para trás, para a rua, tentando calcular mentalmente quanto tempo tenho para desistir dessa loucura e fugir, mas lembro que matemática não é minha amiga e quando menos espero, o portão é aberto e preciso aprender a respirar novamente quando vejo Nando parado diante de mim, usando apenas um minúsculo short de nylon florido. A maior parte das suas pernas estão de fora e seu peio e barriga de nadador estão expostos.
Queria muito ter um maldito balde para aparar a minha baba!
- Oi Mikaelzinho, entra! – Nando diz, com um largo sorriso no rosto, mas fico imóvel, o encarando. – Tá tudo bem? – ele pergunta e engulo o seco, me obrigando a parar de ser tão esquisito.
- Claro! Só estava admirando a vista. – digo, sorrindo, mas ao olhar para as sobrancelhas do Nando arqueadas, percebo a idiotice que acabei de falar. – Digo, o seu jardim é muito bonito! – me apresso em dizer, já esticando minha cabeça para dentro da sua casa. Nando ri e então me puxa pelo braço, fazendo com que eu entre e feche o portão atrás de mim.
- Relaxa Mika! Só estamos nós dois. Meus pais não estão em casa. – ele fala e o encaro apenas por um segundo, tentando decidir se ele diz isso para tentar me tranquilizar ou apenas para me deixar ainda mais paranoico, mas não identifico nada no seu rosto que poça me dizer algo, por isso desvio os olhos e observo a mansão do Nando. Tá! Talvez não seja lá uma mansão, mas é uma casa enorme e maneira, que deixa claro o quanto nós somos diferentes, socialmente falando. O lugar tem um jardim na frente que está repleto de flores e que faz o ambiente parecer muito familiar. A fachada da sua casa é toda na cor de madeira, com vidros escuros, fazendo parecer algo muito moderno e elegante.
- Casa maneira. – falo, apenas para tentar parecer distraído.
- Não vamos ficar aqui parados, vem! – Nando diz, já caminhando em direção a sua casa. Encaro suas costas largas e a sua bunda um instante, mas sacudo a cabeça rapidamente e me apresso para acompanhá-lo.
Foco, Mikael. Foco!
O interior da casa do Nando também é muito bonito, espaçoso e chique. Eu tenho até medo de esbarrar em qualquer coisa e quebrar algum objeto, pois tenho certeza que nem um salário inteiro seria capaz de pagar por eles, por isso ando sempre com as mãos enfiadas no bolso da bermuda, com os braços colados no corpo. Nando então me leva até a sua parte preferida da casa, nos fundos, onde fica a sua piscina semiolímpica. Ela é enorme e talvez até maior que a piscina da escola. Ver a fachada da casa dele não me fez ter ideia de que eles guardam essa maravilha nos fundos da casa.
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Stay
RomanceMikael é um garoto de dezessete anos que está iniciando seu último ano no ensino médio. Ele é bolsista numa pequena escola particular da sua cidade, onde também trabalha meio período como bibliotecário, para ajudar nas despesas de casa. Mika, como é...