CAPÍTULO 22

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Minhas pernas doem e latejam. Minha respiração está pesada e sinto o suor tomando conta de todo o meu corpo. Eu corro e não paro, nem olho para trás. Minhas pernas se movimentam rapidamente, ignorando o protesto dos meus músculos. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas não perco tempo secando-as. Minha única prioridade é alcançar Alex. A mochila sacode nas minhas costas, mas não me atrapalha realmente. É madrugada e as ruas estão vazias. Não sei quanto tempo levo para chegar ao meu destino, mas quando ouço a primeira sirene, meu coração começa a bater ainda mais rápido. Fecho os olhos com força e então me obrigo a correr mais rápido.

Quando viro a esquina três ruas depois, travo na calçada, observando todo o caos em que se encontra a rua tomada por carros de polícias, bombeiros e ambulâncias. De onde estou, vejo pessoas correndo de um lado para outro, gritando, chorando, assustadas e desesperadas. Bombeiros, policiais, paramédicos, pessoas sujas andando de um lado para o outro e a fumaça, muita fumaça. A rua está tomada por uma névoa cinza e mesmo de longe, consigo sentir o odor forte da fumaça. Então, quando uma ambulância passa por mim, disparada, é como se isso ativasse algo dentro de mim, que me faz lembrar o motivo por estar aqui, por isso obrigo minhas pernas a voltarem ao trabalho e corro novamente, em direção aonde se encontra o caos.

Quando me aproximo da pequena multidão que toma conta da rua, desacelero, tentando voltar a respirar. Meus olhos vasculham todos os lugares e por um minuto, entro em choque outra vez. Meus joelhos tremem e acho que vou desabar a qualquer instante. Me sinto como se estivesse no centro de um tornado e tudo parece girar a minha volta. Há fumaça para todos os lados, pessoas correm e gritam, bombeiros e policiais dão ordens para que todos se afastem, mas acho que ninguém realmente ouve. Eu giro, como se precisasse ver tudo ao meu redor. Então vejo pessoas sujas, sentadas nas calçadas, muitas delas sem roupas, outras feridas. Os paramédicos ajudam, mas não há gente o suficiente. Mas eu giro rapidamente para trás quando ouço o barulho de um baque forte, como se algo estivesse desabando e mais gritos surgem. Automaticamente, me misturo em meio as pessoas que se acotovelam para saber o que está acontecendo e quando finalmente consigo chegar até a frente, é como se nada disso fosse real.

O prédio cor de rosa está tomado por fumaça e mesmo que eu não as veja, posso ouvir as chamas de dentro do lugar. Não há janelas, não há saídas de ar. A nuvem preta que se espalha pela rua está saindo pela entrada da boate. Pessoas entram e saem em meio a fumaça, correndo, tombando, algumas carregadas, outras... desacordadas. Homens seminus e bombeiros com máscaras arrastam corpos para foram e gritam, mas não consigo assimilar qualquer palavra. Então eu finalmente descubro de onde vem o barulho. Do outro lado, na parede ao lado da entrada principal da boate, um grupo de homens está com marretas, acertando a parede, um movimento atrás do outro, sem parar.

- Alex! – o sussurro sai dos meus lábios assim que a ligação do meu melhor amigo vem a minha mente. – Alex! – repito outra vez, já tirando meu celular do bolso e entrando no meio da pequena multidão, voltando para trás. Aperto o aparelho contra o ouvido, tentando ouvir algo, mas é impossível, por isso desisto e quando consigo sair do meio das pessoas, olho em volta, tentando raciocinar e decidir para qual lado procurar, mas minhas pernas se movem sem que eu nem mesmo perceba. Corro entre as pessoas, desviando, aturdido e começando a sentir meus olhos arderem. Quando consigo chegar ao outro lado da rua, onde tudo parece um pouco mais calmo e menos barulhento, descubro o motivo disso. Uma ânsia de vomito me invade, e arregalo os olhos quando encaro a cena diante de mim, chocado.

Corpos estão espalhados pela calçada. Muitos corpos! Dezenas deles! Homens e mulheres, alinhados numa fileira, sem vida... mortos! Minhas pernas se movem devagar e meus olhos se fixam nos corpos enquanto caminho, sentindo meus lábios tremerem. Meu coração bate forte e o medo de reconhecer alguns dos corpos está presente. Todos estão sujos, largados, com peles tomadas pela fuligem. O cheiro de queimado nesse lado é mais forte e quando vejo a cena de uma mulher debruçada sobre o corpo de outra, chorando desesperada, gritando por ajuda, o primeiro soluço escapa da minha garganta.

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