Quando abro os olhos, sei automaticamente que algo está muito errado. Meu corpo está tremendo e levo um tempo para descobrir que o motivo disso, é a porta da sacada, que está aberta, fazendo o vento congelante da noite fria entre no quarto. Permaneço imóvel por alguns segundos, tentando voltar a respirar, tentando absorver tudo a minha volta. Minha barriga dói de um jeito quase insuportável. Meu corpo está de bruços e com meus dedos, aperto a colcha da cama com força e é como se isso finalmente me fizesse respirar. Todo o ar escapa da minha boca com força e, imediatamente, um soluço forte escapa da minha garganta. Enterro meu rosto no tecido da colcha e então grito com toda a minha força, mas o som é abafado. Isso não impede que eu continue chorando e que meus ombros chacoalhem com força.
- Não, não, não... por favor Deus, não... – soluço, sentindo uma dor forte no meu peito. Recolho minhas pernas sobre o colchão e as agarro, ficando tão encolhido, que tudo o que mais desejo é sumir. O vento atravessa a porta da sacada com força e atinge minha pele. Estou sem camisa, tremendo, chorando e soluçando como uma criança perdida. Não sei quanto tempo levo para me sentir forte o suficiente para me sentar na cama. Quando meus pés tocam o chão, preciso me esforçar para não cair num choro profundo novamente. Olho em volta, perdido, confuso e me sentindo completamente... derrotado.
Caminho devagar até a porta de correr da sacada e a fecho. Isso faz com que o quarto se torne ainda mais assustador e silencioso. Por um minuto inteiro, varro o lugar com os olhos, balançando a cabeça lentamente, me negando a acreditar em tudo isso. É nesse momento que vejo meu celular e minha carteira em cima da cama e quando isso acontece, é como se um clique surgisse na minha mente e sinto minha respiração acelerar. Só levo um segundo para obrigar minhas pernas a se moverem.
- Filho! – sussurro, correndo e saindo do quarto com todo o meu desespero e quando atravesso o corredor, meu corpo fica paralisado quando paro diante da porta. A encaro, sentindo minha pulsação acelerada. Respiro fundo várias vezes e ignoro as lágrimas que escorrem pela minha bochecha. Olho para a porta diante de mim e com a mão trêmula, levo a mão até a maçaneta. A impressão que tenho é que atrás dessa porta estará a coisa mais assustadora do mundo, por isso fecho os olhos e os aperto com força quando a abro.
O quarto está silencioso e o único barulho vem da central de ar. Meus olhos demoram um pouco a se acostumar com a escuridão, mas mesmo com pouca luz, ainda consigo vê-lo, deitado na sua cama, exatamente como o havia deixado. Meu filho está dormindo. Me aproximo lentamente da sua cama, ligo o abajur e me ajoelho, levando uma das minhas mãos até minha boca, para impedir o soluço que ameaça escapar. Levo minha outra mão até sua cabeça e percebo com meus dedos tremem quando faço carinho no seu cabelo macio. Agora que estou perto o suficiente, consigo ouvir sua leve respiração e consigo sorrir quando noto a quão tranquila e serena parece a sua expressão.
- Oi meu bebê. Papai está aqui. – sussurro, me aproximando e beijando seu rosto. Ele se contorce um pouco na cama quando sente meu toque e se encolhe ainda mais na cama. Esse simples gesto faz com que eu volte a chorar automaticamente, mas um choro contido e silencioso. Por alguns minutos, apenas fico sentado ao lado da sua cama, velando seu sono tranquilo. – Eu te amo, filho. – digo, depois de beijá-lo novamente, dessa vez na cabeça. Em seguida, levanto e de repente, é como se tivesse corrido uma maratona inteira, pois sinto meus braços e minhas pernas muito pesados. Volto para meu quarto me sentindo completamente derrotado. Quando entro, olho mais uma vez em volta, mas dessa vez, me obrigo a ser forte e respiro fundo, trazendo minhas mãos até o rosto. A frustração me atinge com força, mas não a deixo que me domine. – Foi tudo um sonho. – digo, para mim mesmo, ignorando o quanto sinto meu coração partido nesse momento.
Quando ligo o chuveiro e deixo a água quente cair sobre meu corpo, o alívio é quase imediato. Cada centímetro dos meus músculos parece começar a relaxar. Minha respiração é pesada e minhas mãos estão espalmadas na parede de azulejo. O calor da água faz com que o vidro do boxe fique borrado. Passo as mãos pelo cabelo, jogando-o para trás quando deixo a água quente cair no meu rosto. Passo vários minutos assim, sentindo minha pele arder com o calor e tentando associar todas as minhas lembranças e o quanto elas parecem confusas. Mas em algum momento, tenho a impressão de ouvir o barulho de um choro de criança e isso faz com que eu me concentre para tentar ter certeza do que ouvi. Desligo o chuveiro e fico atento, mas nada acontece. Tudo agora está no mais profundo silêncio.
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Stay
RomanceMikael é um garoto de dezessete anos que está iniciando seu último ano no ensino médio. Ele é bolsista numa pequena escola particular da sua cidade, onde também trabalha meio período como bibliotecário, para ajudar nas despesas de casa. Mika, como é...