CAPÍTULO 03

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Sexta feira é o meu melhor e pior dia da semana. É o último dia de aulas da semana, o que significa que estarei longe da escola por um final de semana inteiro, para fazer o que bem entender. Mas a sexta é também o dia de educação física e acho que existe um fato sobre mim que todos precisam saber: eu odeio, com todas as minhas forças, educação física. Sou o cara dos livros e esportes não combina nenhum pouco comigo, por isso, quando levanto da cama e coloco meu uniforme dentro da mochila, é como se o meu humor daquela manhã fosse uma prévia de todo o meu dia.

- Aula de educação física? – minha mãe pergunta quando entro na cozinha de manhã cedo. Ela não diz isso apenas pela minha cara de empolgação, mas também porque estou usando o meu odiado par de tênis de corrida.

- A senhora ainda tem aqueles relaxantes musculares, certo? – pergunto, observando minha mãe terminar de preparar o café da manhã às pressas. Ela está usando o seu uniforme verde de enfermeira e seu cabelo longo e cacheado está preso num coque. Helena, a minha mãe, é uma mulher alta e muito vaidosa, o que sempre faz com que me pergunte o que ela viu no desgraçado do meu pai.

- Você devia tentar se exercitar com mais frequência. Garanto que isso não é tão ruim e, além disso, é ótimo para a saúde. – ela diz, bebendo o seu café na sua caneca de sempre. Estou sentado na mesa, revirando os olhos enquanto belisco os ovos mexidos.

- Isso é coisa pro Rafa. Prefiro uma amizade sincera com meus livros. – falo e minha mãe sorri, me encarando daquele seu jeito divertido. Ela é uma mulher um pouco elétrica, por isso está sempre se movimentando de um lado para o outro. – Você não disse que o velho chegava ontem. – falei, tentando parecer casual. Não deixei de notar quando mamãe evitou me olhar.

- Também não sabia que ele estava aqui até chegar. E não o chame dessa forma, por favor. – ela diz e sei que está falando isso não porque quer que eu seja um garoto mais educado, mas porque teme a reação do babaca. Ele é um homem que se irrita facilmente com qualquer coisa a sua volta.

- Ele estava bêbado quando cheguei do trabalho. – eu disse.

- Ele só estava relaxando depois de dias na estrada, Mika. – ela o defende e isso não me surpreende nenhum pouco. – Você não vai perder o ônibus? – minha mãe diz, olhando para o relógio na parede e sei que isso é apenas uma desculpa para se livrar de mim. Estou prestes a dizer que não, que não vou deixá-la escapar da nossa conversa e que não entendo como ela o suporta, mas mudo de ideia assim que meu pai entra na cozinha, com os cabeços desgrenhados, usando apenas uma cueca. A visão é quase perturbadora.

- Estou indo! – falei, levantando rapidamente da cadeira, pegando minha mochila e saindo apressado da cozinha.

- Bom dia pra você também, garoto mal educado! – meu pai grita antes que eu passe pela porta, mas o ignoro disparo em direção a parada de ônibus.

Quando chego na escola, ainda é um pouco cedo, mas vários alunos já estão no estacionamento. O lugar é a concentração para que as panelinhas se reúnam antes das aulas começarem. Quando Alex chega, estou sentado em baixo de uma das árvores, lendo um dos meus livros. Vejo quando meu melhor amigo desce do carro do seu pai e caminha na minha direção com aquele seu jeito seguro e engraçado. Alex fala com todos por quem passa durante o percurso, como se fosse algum tipo de político, apesar do fato de que ele é ignorado por todos, principalmente pelo grupo das garotas populares, comandado por Rayssa.

- E aí, preparado para seduzir uns gatinhos com essas perninhas sexy? – Alex zomba e o fuzilo com o olhar.

- E você, preparado para ser a cobaia do professor de novo? – provoco, para lembrá-lo da última aula que tivemos, onde ele foi o parceiro de alongamentos do professor de educação física, fazendo todas aquelas posições estranhas que virou motivo de chacota para todos.

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