CAPÍTULO 14

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A sensação que toma conta de mim nesse exato momento é como se todos os sensores do meu corpo se desligassem e tudo a minha volta desaparece. A única coisa que vejo é o professor Mathias, parado diante de mim, e mais nada. Talvez ele esteja carregando a mesma sensação, pois seus olhos grande e cinzas parecem assustados, como se ele estivesse diante de um fantasma.

- Por onde você esteve? – pergunto, sem ter certeza sobre o que falar. Talvez eu deva começar perguntando como ele está, ou o que aconteceu quando foi embora da minha casa naquela noite ou se realmente esteve no cemitério, no velório do meu pai, mas permaneço estático, o encarnado e esperando que diga algo.

- Estive ocupado. – é a única coisa que o professor diz e sua voz me faz despertar do meu transe, então rapidamente, apanho os livros que deixei cair no chão. Quando fico de pé outra vez, percebo que está observando cada movimento meu.

- Você vai embora? – pergunto, quase sussurrando. Olho em volta, temendo que alguém nos escute, mas todas as luzes estão apagadas. Quando encaro o professor Mathias novamente, percebo que ele está com a testa enrugada e sei na mesma hora que não entendeu a minha pergunta. – Não contei a ninguém sobre o que aconteceu.... como aconteceu. – digo, sentindo meu coração muito acelerado. Ainda com seus olhos atentos em mim, ele balança a cabeça lentamente, negando.

- Não tenho para onde ir, Mikael. – ele diz e penso no que isso significa.

- A polícia disse que o caso logo deve ser encerrado. – falo, para tranquilizá-lo, principalmente porque o Sr. Moretti ainda parece um pouco assustado. Pela primeira vez, percebo que diferente de todos os dias, ele está usando jeans em vez de uma calça social. Sua camisa branca de botões é um pouco mais larga do que as usadas por ele na escola e também não deixo de reparar no fato de que meu professor não está usando seu óculo.

- Como você está, Mikael? – ele pergunta, ignorando o que disse antes. Baixo os olhos para as minhas mãos e tento pensar no que dizer, mas então percebo que o professor Mathias é o único com quem posso realmente falar a verdade sobre aquela noite.

- Ainda tenho pesadelos com ele. – confesso, desviando os olhos para o fim do corredor. Minha pele inteira fica arrepiada e cruzo meus braços para tentar amenizar a sensação estranha que sinto.

- Contou isso para o psicólogo? – Mathias pergunta e o encaro.

- Que psicólogo? – pergunto e ele parece momentaneamente assustado com a minha pergunta.

- Achei que... achei que estivesse indo ao psicólogo. – ele diz e nego lentamente com a cabeça, ainda desconfiado. Para a minha surpresa, Mathias leva suas mãos até o rosto, o que o faz parecer preocupado e até um pouco desesperado.

- Você precisa procurar um psicólogo, ok Mikael?

- Estou bem, não se preocupe. – garanto.

- Você tem que me prometer que vai procurar um psicólogo! – prendo minha respiração quando o professor Mathias se aproxima de mim, mas ele trava antes que a distância entre nós seja mínima. – Por favor, Mikael. – ele diz, sussurrando. Olho para os lados, me certificando novamente que estamos sozinhos.

- Estou falando sério, professor. Eu estou bem! – falo, tentando parecer mais seguro dessa vez, mas ele claramente não acredita e mim e então se vira, começando a caminhar de um lado para o outro, devagar. – Na verdade... estou me sentindo um até um pouco aliviado... – começo, talvez me sentindo culpado, mas expulso essa sensação para longe. O professor Mathias para quando me ouve e olha com atenção. – O senhor acha que é muito errado estar me sentindo assim? – pergunto, mordendo meu lábio com força. Ele parece pensar numa resposta.

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