Stay

CAPÍTULO 18

São quase nove da manhã quando saio do quarto sorrateiramente, olhando para os dois lados quando coloco a cabeça para fora primeiro. A mochila nas minhas costas pesa, por isso é difícil planejar uma fuga com ela. Agradeço silenciosamente por Rafa milagrosamente ter acordado cedo num sábado para correr, o que me deu a oportunidade de jogar minhas roupas e produtos e higiene dentro da minha velha mochila. Então avanço pelo corredor calmamente, sem ter certeza de que minha mãe está no trabalho, pois a casa parece estranhamente silenciosa, por isso fecho os olhos quando passo direto pela entrada da cozinha, em direção a porta da frente da casa.

- Por que está saindo de fininho? – fecho meus olhos com mais força e fico imóvel quando escuto a voz do meu irmão. Bufo e respiro fundo antes de voltar alguns passos e parar na porta da cozinha. Meu irmão está sentado numa cadeira diante da mesa, sem camisa, usando seu short de corrida. Seus tênis estão jogados em baixo da mesa e ele tem uma das pernas em cima da cadeira. Rafael está devorando o que parece ser um pão com mortadela e um copo de café com leite. Mamãe também está na cozinha e não usa o seu uniforme do hospital, o que me dá a certeza de que está de folga. Ela está com o quadril apoiado na pia, com uma caneca na mão, soprando seu café enquanto apenas olha para mim.

- Alex me chamou para uma viagem esse final de semana. – a mentira sai sem ser planejada. Na verdade, a minha ideia era apenas desaparecer e só dar notícias quando já estivesse longe. É um método que aprendi a usar quando tinha que lidar com meu pai. Se planejasse algo e avisasse minha mãe sobre isso, ele sempre dava um jeito de ferrar tudo, por isso ela já está acostumada com minhas fugas, principalmente porque todas elas envolviam o Alex. A prova disso é que diferente do meu irmão, que me olha com desconfiança, minha mãe não parece nenhum pouco preocupada.

- E a fuga? – Rafael pergunta, erguendo as sobrancelhas.

- Não estava fugindo! – falo, tentando parecer seguro, apensar de não conseguir manter minhas pernas paradas.

- Aonde vocês vão? – ele pergunta e respiro fundo, dramaticamente.

- Mãe! – falo, encarando-a. Ela ri da minha falta de paciência com meu irmão e então afirmo com a cabeça.

- Tudo bem, amor. Tome cuidado e dê notícias, você e Alex. – ela diz e na mesma hora encaro o meu irmão, com um largo sorriso de vitória no meu rosto.

- Tchau! – cuspo a palavra na cara dele e antes de sair, vejo Rafael dar uma enorme mordida no seu pão enquanto me lança seu olhar desconfiado. Além disso, acho que meu melhor amigo teve ter sentido que estava sendo mencionado em algum lugar, pois assim que saio de casa e chego a calçada, meu celular vibra e leio a mensagem que Alex acabou de enviar.

Piscina. Hoje?

Olho para trás, em direção a minha casa assim que atravesso a rua, indo em direção aonde o professor Mathias e eu combinamos. Durante a pequena caminhada, digito uma mensagem de resposta para Alex.

Mamãe resolveu visitar alguns parentes. Estamos saindo da cidade agora. Foi mal!

Aperto enviar e tento reprimir a culpa que vem na mesma hora, mas digo a mim mesmo que não é a escolha certa contar tudo para Alex. Não sei bem como meu melhor amigo reagiria ao descobrir que ando tendo um caso com o nosso professor de matemática e toda vez que penso na em como seria sua reação, apenas imagino Alex tentando me prender com uma camisa de força, por isso prefiro manter esse segredo ainda protegido de qualquer um.

Vacilão!

Estou lendo a mensagem que Alex me mandou de volta quando me aproximo do estacionamento onde o carro de Mathias já está parado. Enfio o celular no bolso quando chego até ele e tento conter o sorriso idiota que carrego no rosto quando abro a porta de trás do carro e jogo minha mochila ali dentro. Em seguida, entro no banco do carona e tento não ficar chocado demais pelo fato do meu professor estar usando camiseta, bermuda e tênis, parecendo estranhamente... casual demais! Até me sinto um pouco envergonhado por estar usando calça jeans.