CAPÍTULO 25

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Mikael e eu nos conhecemos na faculdade, no segundo ano. Era estudante de física, enquanto ele, cursava letras. Nossos blocos eram de lados opostos da faculdade e a probabilidade de nos esbarrar dentro daquele lugar era mínima, mas aconteceu, só porque um dia qualquer decidi cortar caminho para chegar mais rápido a cantina. Mikael estava sentado embaixo de uma árvore, com as pernas cruzadas em cima de um banco, fumando um cigarro enquanto lia uma apostilha. Não sei dizer exatamente o que chamou minha atenção para ele naquele momento, talvez tenha sido o fato dele parecer tão absorto nas coisas a sua volta, ou como sua testa se enrugava enquanto ele tragava o cigarro e parecia tentar entender o que estava lendo, ao mesmo tempo. Mas o fato, é que ele nem mesmo percebeu a minha aproximação até que eu sentasse ao seu lado. Não falei nada, não achei que precisava, apenas fiquei ali, do seu lado, observando quando ele ergueu os olhos apenas por um momento antes de voltar sua atenção para o que fazia. Não sei por quanto tempo ficamos em silêncio, lado a lado. Eu nem mesmo sabia por que estava fazendo aquilo, mas permaneci ali, pacientemente, até que ele cedesse aquilo e finalmente erguesse os olhos para mim outra vez, agora sustentando o olhar.

- O que foi? – ele perguntou, com uma das sobrancelhas erguidas, passando seus olhos por mim, de cima a baixo.

- Nada. – eu disse e ele sorriu de um jeito que fez o meu estômago embrulhar. Era a primeira vez que acontecia comigo e tinha estranhamente gostado da sensação.

- Você estuda aqui? – Mikael perguntou e afirmei cautelosamente com a cabeça, ainda sem conseguir tirar meus olhos dele, que não pareceu nenhum pouco intimidado. Na verdade, ele parecia muito ciente do que eu estava fazendo e retribuiu o gesto, sem desviar os olhos um momento sequer.

- Noah. Matemática. – eu disse, oferecendo minha mão para ele que, sem pestanejar, apertou com sua mão livre e sorriu.

- Mikael. Letras. – ele falou após dar o último sopro de fumaça e jogar o resto do cigarro fora. – Você está longe de casa. – Mikael disse, me fazendo rir.

- Estou bem feliz de ter vindo parar aqui. – falei, sem me importar muito em parecer um pouco idiota, pois foi o que ele certamente achou, já que revirou seus olhos, como se a minha cantada tivesse sido horrível. Mas isso não acabou com a nossa conversa naquele dia. Na verdade, essa foi apenas a primeira vez que nós nos encontramos. Foi a semente plantada de algo muito maior.

Levou algum tempo para que Mikael e eu nos beijássemos pela primeira vez. Ele não era um jovem nenhum pouco fácil e tive que ralar um pouco para conseguir fazer com que ele cedesse. Talvez devesse ter percebido naquela época que esse foi o primeiro sinal. Mikael não confiava nas pessoas, em ninguém e sempre deixou isso muito claro desde que nos conhecemos. Ele não tinha amigos e nunca falava sobre a sua família. Custou até que ele me contasse que morava na cidade sozinho, sem família. Era um lobo solitário e de alguma forma, isso parecia deixá-lo confortável. É como se a solidão fosse a sua melhor amiga e talvez tenha sido isso que fez com que eu quisesse conhecê-lo melhor.

O primeiro beijo aconteceu numa festa de universitários que o convenci a ir comigo. Ele odiava festas e isso ficou muito claro quando chegamos até lá, mas em vez de me sentir frustrado, eu estava feliz, pois aquele foi o primeiro sinal de que ele estava gostando de mim a ponto de ter ido aquela festa comigo. Nós não ficamos muito tempo. Na verdade, nossa presença naquela festa não durou nem meia hora antes de darmos o fora e irmos para o apartamento que eu dividia com um amigo, que tinha ficado na festa. Não houve enrolação, pois Mikael detestava isso. Ambos sabíamos muito bem o que queríamos quando partimos daquele lugar. A única coisa que "eu" não sabia, era que estava prestes a descobrir naquela noite, que eu estava me apaixonando pela pessoa que mudaria minha vida completamente.

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