the famous Christian Gonzales

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  Três meses se passaram desde que saí de casa e coloquei os pés de verdade no mundo. E olha, pode-se dizer que comecei com o pé direito. Na minha primeira semana consegui um emprego, com a ajuda de Maya (que parecia conhecer a cidade inteira), é claro, fiz um amigo novo e desde então não saímos um de perto do outro. Era até difícil porque morávamos na mesma rua e sua faculdade ficava quase ao lado o shopping em que eu trabalhava. Já era rotina irmos juntos de bicicleta pela manhã para nossos respectivos destinos e voltarmos alguns dias da semana juntos. Dave era um cara incrível, e mesmo com a Maya sempre desconfiando que tínhamos algo, eramos apenas bons amigos.

Como eu previa, meus pais não fizeram a mínima questão de saber como eu estava, com quem eu estava ou onde estava. No começo a angústia me consumia, eu tinha vontade de voltar só para jogar na cara da minha "família" que eu estava me saindo muito bem sem eles, mas depois de algumas semanas eu entendi que simplesmente não valia a pena. Maya me ajudou com isso, ela também não tinha a melhor relação com sua família, mas pelo menos eles pagavam o aluguel do apartamento em que morávamos. O resto era por nossa conta e por isso tratei de logo arrumar um trabalho.

— Você está cada dia melhor, Alexia. — meu chefe me observava com atenção enquanto eu fazia um cappuccino. E realmente eu tinha melhorado, agora conseguia preparar as bebidas sem demorar tanto tempo e fazendo cada vez menos sujeira.

—  Obrigada, sr. Albert! — Albert era um cara que já beirava seus 60 anos, tinha uma barriga de papai noel e os cabelos bem grisalhos. Às vezes eu me segurava para não chamá-lo de vovô.

— Apenas Al. — ele disse e me lançou uma piscadela. Céus, eu tinha vontade de apertar aquelas bochechas. — Agora vá para o caixa, cliente chegando.

Era uma cafeteria grande, mas quase nunca ficava cheia. Nossos clientes eram quase sempre os mesmo: homens e mulheres em seus intervalos de trabalho, ou antes de começá-los, idosos que iam pra conversar com outros idosos, alguns jovens da faculdade estudando e... ele. Ah, Christian Gonzales. O cara era conhecido por ser filho de uma das famílias mais famosas da cidade. E claro, por fazer merda. Mas ele era lindo, eu nunca conseguia parar de encará-lo quando ele vinha tomar o seu café expresso de sempre. Com canela por cima.

— Precisa de um babador, Aly? — era Dave o cliente que tiha chegado. — Ah não, esse cara de novo não.

Ele reclamou quando viu onde meu olhar estava focado. Fiz bico e ajeitei a postura.

— Vai falar que você não acha ele o maior gato? - baguncei os cachos que caíam sobre seus olhos esverdeados. — E o que você tá fazendo aqui a essa hora?

— O que ele tem de bonito tem de encrenca, então fica longe. — Dave me lançou seu olhar de cara protetor. — E minha aula da tarde foi cancelada, parece que a professora tava com uma diarreia monstruosa. — ele fez menção de que ia vomitar e eu ri.

— Que nojo! Agora faz logo algum pedido se não vou ser demitida por tanto papinho.

Ele me mostrou a língua e pediu um frappucino de morango, se sentou bem longe do amor da minha vid... digo, do Christian Gonzales e passou o resto do meu turno jogando alguma coisa no celular.

Voltamos pra casa juntos, pedalando e rindo de algumas meninas da sala de Dave, parece que elas davam em cima de um cara e depois descobriram que ele era gay. O pior é que uma delas não parou, alegando que pra ela ele poderia abrir uma exceção. Dave já tinha me dito que as garotas da cidade costumavam ser meio "atiradas", mas nunca achei que fosse nesse nível.

— Vem jantar com a gente. Maya vai fazer seu famoso macarrão a carbonara. —  eu disse quando paramos as nossas bicicletas em frente ao meu prédio. Dave morava do outro lado da rua, algumas casas a frente.

Maya fazia faculdade de gastronomia e portanto eu era a pessoa mais sortuda do mundo por poder provar todos os seus pratos. Dave não ficava para trás, já que quase sempre eu o chamava para jantar conosco. Depois de subirmos, tomei um bom banho e coloquei uma blusa larga do Harry Potter, um short jeans e meias compridas. Era meu look favorito.

— E aí, o que aconteceu de bom hoje? — Maya perguntou quando estávamos na mesa, saboreando aquela delícia de macarrão.

— Nada demais, só a Aly perdidamente apaixonada pelo Christian Gonzales. — arregalei os olhos para Dave, querendo voar por cima da mesa e estrangulá-lo. Já sabia que vinha sermão pela frente.

— Já disse que pra você esquecer esse cara, Grimmes. Ele não é coisa boa. — o tom de Maya era alarmante, como sempre de quando falava sobre ele.

— Mas nunca aconteceu nada. Quer dizer, uma vez ele sorriu pra mim quando eu lembrei de colocar canela no café dele sem ele pedir. E ah, que sorriso... — apoiei o resto na mão, sonhando acordada.

— É sério, Alex. Não quero que você seja outra vítima dele. — Maya respondeu, com a voz séria. A olhei confusa.

— Dizem por aí que ele espalhou uns boatos sobre uma ex-namorada dele. — dessa vez Dave respondeu, todo animado. Esse garoto adorava uma fofoca. — Falam que ela se mudou, outros falam que ela se matou. Só se sabe que ela nunca mais foi vista depois disso.

Terminamos de comer em silêncio. Eu sabia que ele fazia muita besteira, como arrumar brigas em bar ou dirigir bêbado de madrugada e quase atropelar muitas pessoas. Mas fazer uma pessoa se matar? Não, de jeito nenhum. Eu não o conhecia, nem um pouco, mas quis acreditar fortemente que ele não seria capaz de algo assim.

Uma Segunda Chance (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora