hangover

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Eu nunca fui atropelada por um caminhão, mas tenho certeza que aquela seria a sensação. Meu corpo todo doía e abrir os olhos foi a coisa mais difícil que já fiz desde que... nasci. Parecia que minha cabeça ia explodir e ter alguém falando não ajudou muito.

— Bom dia, flor do dia. Boa tarde, na verdade. — era Maya, sentada na beira da minha cama. Desde quando ela passou a falar gritando? — Como está?

— Como você acha? — grunhi. Então finalmente comecei a pensar: eu estava em casa. Na minha cama. De banho tomado e de pijamas. Mas eu não lembro de ter feito nada disso.

— Você deu trabalho, hein, Grimmes. — provavelmente a confusão estava estampada em meu semblante.

Sentei na cama e me curvei para a frente, colocando o rosto entre as mãos. Flashes da noite passada corriam como um filme na minha cabeça, tudo muito rápido e turvo. Bebida, piscina, ruivas, Dave. Dave. PUTA QUE PARIU!

— Maya! — choraminguei, agarrando seu braço e puxando-a para mais perto de mim. — Eu fiz uma besteira enorme!

— Eu sei.

— Você sabe?

— Todo mundo sabe.

Eu queria chorar, gritar e me espernear. Mas tudo doía e minha cabeça com certeza explodiria se eu fizesse qualquer movimento. Céus, o que eu foi aquilo? Eu e Dave? Nos beijando? Nem em um milhão de anos eu pensaria que aquilo poderia acontecer. Eu e Dave... O que falaria pra ele? O que aconteceria com a gente? Mudaria algo entre nós? Foi apenas um beijo né? Amigos fazem isso. Certo?

— Ele está na sala, esperando você acordar. — Maya soltou do nada, me fazendo engasgar com a minha própria saliva.

— O que diabos ele está fazendo aqui?! — tentei falar o mais baixo possível e ao mesmo tempo extravasar minha indignação. Eu estava um lixo e nem precisava de um espelho para comprovar.

— Ele não saiu daqui, Grimmes. Desde ontem a noite, quando ele me ligou quase infartando depois de você ter desmaiado lá na festa. Ele não podia te trazer de volta, estava tão bêbado quanto você. Mas ele não saiu daqui por nem um minuto e disse que não sairia até que você acordasse. — ela revirou os olhos. — Já tem um buraco no meu sofá com a marca da bunda dele. Agora vai lá antes que eu chame ele pra vir aqui.

— Você não se atreveria. — levantei o mais rápido que consegui sem desmaiar de dor e fui trocar de roupa, colocando a primeira coisa que vi pela frente.

E realmente, lá estava ele. Sua aparência era bem melhor que a minha, mas ainda sim tinha olheiras embaixo dos seus olhos e suas roupas eram as mesmas de ontem. Mas pelo menos tinha uma camisa. A lembrança me fez corar.

— Ei, Aly. Como está? — um sorriso se abriu em seu rosto quando me sentei ao seu lado. — Fora a dor de cabeça e o peso na consciência que com certeza você está sentindo.

— Vai se ferrar, Dave. — empurrei seu ombro e respirei fundo, tomando o resto de coragem que ainda tinha. — Sobre aquilo...

— Relaxa, vamos só esquecer ok? Eu estava bêbado, você também. Eu sou um gato, você também. Acontece. — ele disse com uma tranquilidade que até me assustou. Dave me puxou pra perto e deitei em seu peito. — Fiquei preocupado com você. Não passa mais dos limites assim, tá?

Afirmei com a cabeça. Realmente não era a minha intenção passar dos limites, nunca mais. Boa parte da noite tinha se apagado da minha memória, e eu estava realmente preocupada com o que eu poderia ter feito. Mas já que nenhum dos dois tinha falado mais nada, presumi que o único absurdo tinha sido o beijo.

Ficamos um tempo em silêncio naquela posição até que um "plim" do meu celular o cortou. Tentei não demonstrar que meu coração parou um segundo com aquele notificação. "Instagram: @christian_gonzales20" curtiu sua foto"

— Ca-ra-lho. — acabei soltando sem querer. Dave nem esperou e tomou o celular da minha mão.

— Tá de sacanagem? Você segue esse cara? — era nítido o incômodo em sua voz enquanto me devolvia o aparelho. Seus olhos não saíam dos meus, aguardando uma explicação. Mas nem tinha uma!

— Não! Eu achava que ele nem sabia da minha existência... — olhei aquela notificação várias e várias vezes, pra ter certeza que eu não estava delirando. Eu não queria ficar muito animada depois da conversa que nós três tivemos uns dias atrás, mas foi impossível. Eu sonhava acordada todos os dias com Christian Gonzales desde que me mudei.

— Ignora isso. É sério. Você sabe que ele não presta, Aly. — a voz de Dave era séria, alarmante. Ele se levantou, pegou suas coisas e foi em direção a porta, mas antes me de um beijo na testa. — Amanhã nos vemos, ok?

— Ok.

Eu ainda não tinha tirado os olhos do celular. Era diferente agora: ele sabia que eu existia e ainda tinha curtido minha foto! Respirei fundo e me decidi: eu iria descobrir o que tinha acontecido com a tal ex namorada e ver que Christian não era esse cara que todos pensavam. Eu sentia isso.

Dave bateu a porta ao sair, me fazendo dar um pulo. Ele tinha tentando esconder, mas era nítida o seu incômodo. Tudo bem, ele não gostava do cara. Mas esse não podia ser o único motivo para ter deixado-o assim.

Uma Segunda Chance (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora