Eu perdi a virgindade com 15 anos. Nós, meninas, ou pelo menos a maioria, queremos que nossa primeira vez seja com um cara que a gente goste, que nos respeite, e se esse cara for nosso namorado seria melhor ainda. A minha primeira vez foi com meu melhor amigo da época e foi bom, mas se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria feito aquilo. Depois de alguns dias eu descobri que ele só tinha se passado por meu amigo porque queria transar comigo. Virei piada na escola, fui chamada de piranha e outros nomes nada legais por semanas. E em casa? Não que eu esperasse algo diferente, mas minha mãe ficou duas semanas sem falar comigo e meu pai me deu um tapa na cara. Foi a primeira e última vez que ele me bateu, mas as marcas na minha alma durariam para sempre.
Aquela experiência tinha se tornado quase um trauma, mas não me impediu de dormir com o meu melhor amigo atual. Eu tinha certeza que Dave nunca faria algo assim, se eu pedisse ele não falaria nem pro melhor amigo dele, Matthew, que nós fizemos algo. Mas se eu sabia daquilo tudo, por que a culpa me consumia daquele jeito? Ah, claro. Christian.
Soltei um longo suspiro entre as mãos que cobriam meu rosto, com medo que acordasse Dave, que dormia pesadamente ao meu lado. Suas costas ainda estavam vermelhas e marcadas pelas minhas unhas, que mesmo curtas conseguiram fazer um belo estrago. Eu não me orgulhava do que tinha feito, se fosse o contrário provavelmente eu nem perdoaria Christian, mas ele não estava aqui pra falar qualquer coisa.
E ontem, depois de ter todas as minhas esperanças de um novo amor destroçadas, eu só queria algo real. A boca de Dave na minha, nossas línguas dançando em um beijo ansioso, foi real. Suas mãos compridas e quentes explorando cada canto do meu corpo, me fazendo suspirar e pedir por mais, foi real. Meus dedos prendendo e puxando seu cabelo enquanto ele gemia meu nome foi real. Os orgasmos foram reais.
— Bom dia. — ele era real. — Dormiu bem?
Sua voz rouca e sua cara de sono me fizeram sorrir diante todos aqueles pensamentos, uma disputa de arrependimento e "porra, eu faria tudo de novo".
— Sim... claro. — Dave se espreguiçou e fez menção de me puxar para mais perto, mas eu me esquivei e sentei na beirada da cama. — Vamos comer algo?
— Espera. — mesmo de costas senti quando ele também se sentou e ficou com o rosto bem na minha nuca. Tentei ignorar os arrepios que correram por todo meu corpo. — Você... gostou de ontem?
— Eu... — senti toda a saliva escapar da minha boca e engoli em seco, ainda sem coragem de olhar para Dave. — vamos só ignorar, ok? Igual o beijo na festa do lago.
— Não, Aly, não é igual ao beijo. Você sabe disso. Não dá pra simplesmente fingir que nós não transamos.
— Por que não? — perguntei, finalmente me virando para ele. Seus olhos encararam os meus, como se procurassem uma resposta para a minha pergunta. — Nós conseguimos ignorar o beijo, nós continuamos amigos normalmente. Não mudou nada entre a gente, não foi?
Mas ele não respondeu. Aqueles olhos verdes ainda não tinham saído dos meus e pareciam tentar me dizer algo. E acho que depois de tanto tempo, eu finalmente entendi. Aquele "surto" quando ele viu a notificação de Christian no meu celular no dia depois da festa, ou quando eu fiquei doente e na hora que ele foi embora, aquele "eu te amo" foi diferente de todos os outros que já falamos um para o outro. E todas as vezes depois daquele dia que nós nos víamos, ele sempre fazia o que estava fazendo agora: me olhava como se me explorasse por inteiro. Não como ontem à noite, mas tentando me decifrar, saber se o que ele sentia também estava dentro de mim. E nesse momento, tudo que eu consegui sentir com clareza foi meu coração batendo como louco, querendo escapar do meu peito. Eu também queria escapar dali.
— Dave? Dave, não me diz que...
— Demorou pra perceber, hein, Aly. — e finalmente seus olhos saíram dos meus. Ele encarou os lençóis na cama e riu, mesmo sem eu entender a graça daquilo tudo. — Sim, Aly, eu gosto de você. Mais do que deveria. E as coisas mudaram pra mim depois do beijo, e por um tempo eu torci pra que tivessem mudado pra você também. Mas aquele cara... aquele imbecil do Christian, ele nunca saiu da sua cabeça, não é? Depois de um tempo eu já tinha desistido sabia? Mas depois de ontem, eu achei que... eu me permiti sonhar de novo, Aly. E agora você veio e pisou em mim de novo.
Seu sorriso já tinha sumido quando ele passou por mim como um furacão e se trancou no banheiro. Eu não consegui responder, minha boca estava entreaberta, mas não consegui fazer nada além de respirar. David MacKenzie gostava de mim.
Minhas mãos estavam trêmulas quando peguei minhas roupas pelo quarto, me vesti e saí antes que ele pudesse voltar. Não consegui segurar as lágrimas assim que entrei em casa e só tive forças para caminhar até o sofá. Maya ainda não tinha chegado, então pude fazer todo o barulho que precisava enquanto soluçava como um bebê.
Chorei por como minha vida tinha mudado tão rápido. Estava tudo indo bem: eu tinha um lugar em que eu gostava de morar, uma melhor amiga incrível, um melhor amigo que sempre estava ali por mim, um quase namorado. E metade disso se foi em menos de 24 horas.
Talvez Christian não voltasse mais para Portland, quem dirá pra mim. Talvez ele já tivesse esquecido de mim nessa hora. E Dave... quando eu teria coragem para olhá-lo de novo? Quem sabe se um dia ele ia querer olhar pra mim de novo?
Meu coração doía e todos os pedaços que se fizeram ontem quando Christian foi embora, se multiplicaram agora e todas as vezes que eu lembrava do olhar decepcionado de Dave para mim.
Eu já tinha parado de chorar e apenas olhava para a parede quando a campainha tocou. Esperei quieta até que quem quer que fosse desistisse, mas a pessoa era insistente. Ignorei que meu rosto ainda tinha linhas pretas pelo choro e abri a porta.
A essa hora já fazia bastante frio, mas não o suficiente para me congelar como agora.
— Sabrina?
A situação da garota era a mesma que a minha. Seu rosto também estava inchado pelo choro e parecia que ela não dormia a dias. Seus cabelos escuros estavam presos em um coque mal feito que não tinha nada a ver com seu jeito perfeitinho de ser e ela carregava uma mochila nos ombros. E por algum milagre, ela sorriu. Algo que fazia anos que minha irmã não fazia ao me ver.
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Uma Segunda Chance (PAUSADA)
RomanceAlexia precisava recomeçar. Cidade nova, amigos novos, vida nova. E tudo parecia correr bem até que um problema chegou para atrapalhar tudo. E esse problema tinha nome, sobrenome e endereço. E ele era lindo. Mas será que valia a pena colocar tudo q...