stuck with u

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Quinta-feira e tudo já estava de volta ao normal. Na verdade nem tanto. Depois da festa do lago fiquei conhecida como "a garota que deu pt", mas por incrível que pareça foi uma coisa boa. Ganhei uma boa quantidade de seguidores e já tinha ganhado convite para outras festas, com a promessa de que eu não desmaiasse, mas ficasse tão louca quanto fiquei.

Sr. Albert me pediu para cobrir o turno de um dos funcionários que estava doente hoje, isso significa que eu teria que fechar a cafeteria. Que ótimo. Mas até que foi uma coisa boa, já que eu voltaria sozinha para casa e não com Dave. Eu estava evitando vê-lo pessoalmente sempre que podia, mesmo depois dele ter falado que estava tudo bem e não mudava nada entre nós. O problema é que sempre que olhava pra ele eu lembrava do que aconteceu na festa. Seu beijo, suas mãos percorrendo meu corpo, sua respiração ofegante quando nos afastamos. Céus... eu só precisava de um tempo para digerir tudo e tentar esquecer que eu beijei meu melhor amigo.

— Senhorita Alexia, posso dar uma palavrinha com você um instante? — Albert me chamou para um canto da cafeteria. Meu turno já estava quase acabando. — Sabe, é uma cidade pequena... as notícias correm rápido.

Ele não precisou falar muito mais pra eu saber do que se tratava: meu episódio na festa do lago. Nunca tive tanta vontade de ser um avestruz para poder enfiar minha cabeça num buraco como agora.

— Desculpa, sr. Al. Não vai se repetir. — tentei falar com a maior profissionalidade possível.

— Pode ficar tranquila, continuar indo para suas festas e bebendo a vontade, desde que não a atrapalhe no trabalho. — Albert me olhou como se fosse um pai me dando um sermão. Confesso que meu coração apertou um pouquinho, conselhos paternais eram uma das coisas que eu nunca tive a chance de experimentar. — Mas tome cuidado, tem muitas pessoas ruins por aí.

E com um tapinha no ombro meu chefe foi embora, me deixando sozinha para fechar a cafeteria. Foi automático eu ter pensando em Christian, mas como não pensar? Se todos sempre o relacionavam a essa pessoa perigosa e sem coração? Eu poderia estar sendo muito trouxa por pensar que ele não era tudo isso, e eu nunca tive um dedo muito bom para relacionamentos, mas não sei. Eu só... sentia.

— Desculpe, já estamos fechando. — respondi ainda de costas para a entrada quando o sininho da porta indicou que alguém tinha entrado, enquanto amontoava algumas caixas uma em cima da outra.

— Ah, certo. — não podia ser. — Quer ajuda aí, loira?

Sim, era ele. Virei-me na velocidade da luz para ter certeza que não estava alucinando e escutando a voz de Christian Gonzales. Mas era ele, em carne e osso, jaqueta e tênis e all-star. Engoli em seco e sorri nervosa.

— Ahn... não! Não precisa. São só algumas coisas para reciclagem. Ajudar o meio ambiente, sabe? Iuhul. — cala a boca, cala a boca, cala a boca. — Mas obrigada mesmo assim.

O cara simplesmente ignorou tudo o que eu disse e veio na minha direção, pegou metade das coisas e voltou para a porta. Seu aroma era de cigarro e algo que parecia hortelã, uma mistura terrivelmente boa. Poderia ficar horas ali apenas sentindo aquele cheiro, mas saí do meu estupor e peguei o resto das caixas, a chave do local e fui atrás dele. Andamos em silêncio até o elevador do shopping e aproveitei para olhá-lo melhor. Ele não era tão alto, tinha cabelos bem escuros e algumas marcas no rosto, no queixo e abaixo de um dos olhos. Cicatrizes? A falta de luz me impedia de afirmar qualquer coisa.

— Você trabalha por aqui? — perguntei assim que entramos no elevador, cortando o silêncio que já estava ficando meio constrangedor. — Digo... você está sempre por aqui. Na cafeteria.

— Pode-se dizer que sim. Eu... — fomos interrompidos por um estrondo e uma chacoalhada que derrubou todas as coisas em nossas mãos. Tudo ficou escuro e uma luz vermelha no alto da cabine se acendeu. Merda. — Acho que estamos presos.

— Você acha?! — gritei em desespero, começando a hiperventilar. Já tinha mencionado que eu era claustrofóbica?

Comecei a suar frio, meus pulmões procuravam o ar que parecia estar se esgotando ao passo que eu inspirava cada vez mais forte. Meu peito doía e tudo o que consegui fazer foi deslizar pela parede até o chão e agarrar meus joelhos, algumas lágrimas já ameaçavam sair. Minha boca seca me impedia de tentar falar qualquer coisa.

— Puta merda! Certo, ela está surtando. — o desespero nos olhos de Christian era claro. Eu teria achado fofo se não estivesse prestes a morrer. Ele se ajoelhou na minha frente e pegou minhas mãos trêmulas entre as suas, eram extremamente frias. — Olha pra mim, só pra mim. Você está tendo uma crise de pânico, ok? Você já teve outras? — confirmei com a cabeça. — E você está aqui agora. Você já passou por isso e conseguiu sair. Você vai conseguir de novo.

Sua voz era tranquila apesar do medo estar estampado em seus olhos. Eu ainda sentia que meu coração ia explodir de tão forte que batia, mas consegui o acompanhar quando me pediu para respirar com ele. Inspirar fundo e soltar pela boca. Demorou alguns minutos, mas logo eu parei de tremer e o elevador não parecia se fechar ao meu redor.

— Como você fez isso? — perguntei, minha voz baixa e ainda meio trêmula.

— Eu tinha essas crises quando era pequeno, depois de acordar de um pesadelo. — Christian soltou minhas mãos e sentou ao meu lado, depois de checar se eu realmente estava bem. — Eu sei como é ruim. Minha mãe depois de uns episódios pegou o jeito de como me acalmar. Hoje em dia ainda funciona para algumas coisas.

— Obrigada. De verdade. Se eu estivesse sozinha provavelmente teria apagado há muito tempo. — Tentei rir com aquela situação, mas toda vez que eu lembrava que estávamos presos eu me controlava para não pirar de novo.

— Não foi nada. — ele ficou de joelhos e tentou apertar os botões do painel. Nada. — Acho que acabou a energia. Vamos ficar um bom tempo aqui...

Uma Segunda Chance (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora