Passaram-se algumas semanas desde que fiquei doente. Naquele dia, eu fui dormir pensando no olhar que Dave me lançou antes de ir embora. Eu não consegui decifrar o que significava, ou talvez não quisesse ver o que estava bem debaixo do meu nariz. Mas nossa relação não tinha mudado, e eu nem me atrevi a perguntar se algo realmente estava diferente.
Já eu e Christian... parece que avançamos algumas fases. As mensagens se tornavam cada vez mais frequentes, as primeiras ao acordar e as últimas ao dormir. Nós marcávamos algumas vezes na semana de nos encontrarmos, quando meu intervalo batia com o seu tempo livre. Hoje nós tínhamos combinado de ir ao cinema depois do meu turno, ver algum filme de terror antigo que estava em cartaz. Eu sabia que não era realmente o filme que iríamos ver.
Faltavam 10 minutos e as borboletas na minha barriga estavam tão inquietas quanto eu. Tinha me arrumado o máximo que pude sem exagerar, pois ainda estava trabalhando. Uma calça jeans com alguns rasgos desenhavam a parte inferior do meu corpo e uma camisa branca básica deixava o look mais casual na parte de cima. Caprichei no gloss e deixei as madeixas loiras soltas; Christian disse que gostava de ver meus fios voarem.
— Tá pronta, loira? — ele indagou quando cheguei no lugar em que marcamos. Ele em cima de uma moto ficava mais atraente ainda. — Você está linda.
Senti minhas bochechas queimarem e subi na garupa, agarrando em sua cintura sem pestanejar. Morria de medo de motos, apesar de achar atraentes. Isso se devia exclusivamente ao meu pai.
Quando eu era criança, ele chegou de madrugada carregado por um de seus amigos. A moto destruída na frente de casa já explicava tudo. Sua perna estava pendurada do joelho para baixo por um fio, literalmente, e ele jorrava sangue como eu nunca tinha visto antes. Talvez tenha vindo daí meu nojo por sangue também. Aquele dia eu jurei que ficaria sem pai, mas ele saiu apenas com um mancar que duraria até o fim da sua vida.
Meu pai fazia muita besteira, saía quase todas as noites para suas aventuras (que depois descobri o que realmente eram) e bebia todo fim de semana, ele ficava insuportável e dizia tudo o que pensava sobre mim nesses momentos. Nunca tive dúvida de que eu era a filha que ele nunca quis ter.
Mas esse não era o momento para lembrar da vida passada. Eu estava no cinema com Christian Gonzales! O cara que eu me apaixonei desde o primeiro dia que o vi, atravessando o shopping em direção a cafeteria. Seu andar era firme e decidido, as mãos nos bolsos davam um charme a mais. Ele não perdeu essa mania, uma delas ainda estava no bolso quando entramos no local. A outra segurava a minha.
— É... — tentei agir normal com aquele ato, mas eu parecia flutuar. — vai querer pipoca?
— Claro.
Eu comprei pipoca, refrigerante, um docinho pro final e ele os ingressos. Alguns minutos depois e estávamos em poltronas umas ao lado da outra. A sala era grande e estava vazia, tornando o frio ainda mais evidente.
O filme era antigo, falava sobre uma família que abrigava um espírito e que era passado de geração em geração. Era meio bobo, mas vez ou outra me dava sustos que me faziam dar gritinhos e pular do assento. Podia ver pelo canto dos olhos que Christian se divertia com isso.
— Qualquer dia desses — sussurrei, chegando mais perto de seu rosto. — eu vou te dar um belo de um susto. E você não vai rir tanto assim.
— Ah é? — seu sorriso se alargou, um tom desafiador tomava conta de seu semblante. — E como você vai fazer isso?
— Não sei, preciso pensar... — fiz menção de me afastar, mas Christian pôs a mão em minha nuca e me trouxe para mais perto.
— Shh... você nunca vai conseguir me assustar.
Nossas respirações se misturavam e a distância entre nós diminuía até o ponto de nossos lábios se encontrarem. E que encontro. Nossas bocas dançavam num beijo lento, sem pressa alguma. Sua língua conhecia cada canto da minha enquanto arrepios corriam pelo meu corpo todo. Por tantas semanas desejei isso, desejei esse momento. E foi incrível. Parecia que estávamos predestinados a esse beijo, em cadeiras geladas de cinema e com gritos assustados ao fundo. Mas eu não estava nem aí pra eles, só queria o aqui e o agora.
E esse agora durou bastante pois ficamos nos amassos até o final do filme. Minha boca estava dormente e a de Christian brilhava com resquícios do meu gloss.
— Sabe, temos que repetir esse encontro mais vezes. — eu estava prestes a respondê-lo quando meus olhos se arregalaram. Há poucos metros de nós, saindo de outra sala, uma garota negra, alta, de cabelos cacheados e de mãos dadas com outra garota vinha em nossa direção. Maya.
Meu único pensamento foi voltar para o interior da sala de cinema e esperar tempo o suficiente para que as duas saíssem. Christian me olhava com a confusão estampada em seu rosto.
— O que foi isso?!
— Desculpa, é que... — esgueirei-me pela fresta da porta. As duas ainda estavam lá. — minha amiga. Ela não sabe que... estamos saindo.
— Por que não? — sua mão se soltou da minha. Eu pude ver a irritação passando por seus olhos. — Você tem vergonha de mim, Alexia?
— Não, não! É que... com tudo que falam... — gaguejei. Tinha alguma forma de falar aquilo sem soar como uma babaca?
— Como todo mundo fala que eu sou um otário você prefere acreditar né? — Christian estava irritado, sua voz se elevava a cada palavra. — E quem ia querer ser vista como a garota que o otário da cidade está saindo?
Não consegui responder. É claro que aquilo não era verdade, mas como eu poderia esperar que Maya, ou até mesmo Dave, me apoiassem sair com o cara que tem uma péssima reputação? Estava tudo correndo tão bem, éramos apenas nós dois, sem julgamentos ou amigos para atrapalhar. Por que não podia continuar assim?
Então eu percebi que tinha estragado tudo quando Christian saiu, irritado como nunca vi. Com passos fortes ele evitou Maya e foi embora pelo lado contrário. As lágrimas ameaçaram cair, mas segurei e fui de encontro com a minha amiga. Ela pareceu surpresa em me ver.
— Grimmes! Olha, essa é a Jade. — sua carinha de felicidade em me apresentar a garota ao seu lado era contagiante. Não podia estragar aquele momento. — Jade, essa é a famosa Alexia Grimmes.
Nos cumprimentamos. Jade era muito bonita; tinha pele branca, bem branca mesmo, e cabelos negros que batiam em sua cintura. Sua expressão não era lá a mais agradável, mas relevei.
— Você veio sozinha? — Maya indagou enquanto passava o braço pelos meus ombros e guiava nós três até seu carro.
— Não, mas... — olhei pra trás, onde Christian tinha ido embora instantes atrás. Um nó se formou em minha garganta. — Ele já foi embora.
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Uma Segunda Chance (PAUSADA)
Любовные романыAlexia precisava recomeçar. Cidade nova, amigos novos, vida nova. E tudo parecia correr bem até que um problema chegou para atrapalhar tudo. E esse problema tinha nome, sobrenome e endereço. E ele era lindo. Mas será que valia a pena colocar tudo q...