Acordei com um celular inquieto ao lado do meu travesseiro, vibrando sem parar. A cama estava tão quentinha, o cobertor abraçava todo meu corpo e me aquecia do frio que me consumia de uma forma descomunal. Só o simples movimento de pegar o celular e desligar o que tanto o fazia vibrar denunciou a dor que eu sentia pelo corpo inteiro. E minha cabeça... nossa, parecia que ia explodir. Fiz uma rápida análise ao me sentar com toda a calma do mundo na beirada da cama: dor no corpo, dor de cabeça, nariz escorrendo e frio que provavelmente vinha de uma febre. É, estava gripada.
Gritei por Maya e até minha garganta arranhou. Que dia. Pela demora, ela já tinha saído para sua aula, e então me toquei que tinha dormido três horas a mais do que devia. Quem tanto me ligava era sr. Al, meu chefe. Resolvi retornar.
— Sr. Al? 'Bil' desculpas, sr. Al. 'Bas' eu acordei com uma 'gribe' horrível... — nem tinha como mentir, minha voz esganiçada e as fungadas que eu dava a cada duas palavras me entregavam.
— É, pude perceber. Fiquei preocupado, dona Alexia. — sua voz não tinha um pingo de irritação. Céus, o que fiz pra merecer esse velhinho? — Se cuide e espero que já esteja melhor amanhã.
Despedi-me com um agradecimento e desliguei, bem a tempo de escutar a campainha na porta do apartamento. Me enrolei no cobertor e calcei minhas velhas pantufas rosas, que só saíam de debaixo da cama em dias muitos frios. Devia estar fazendo uns 25º graus lá fora, mas eu tremia como um pinscher.
— Aly! Finalmente, você... — a cara de nojo de Dave foi hilária, mas tive vontade de socá-lo. — está horrível!
Revirei os olhos e deixei a porta aberta, indicando que ele devia entrar. Não demorou muito e ele já estava me empurrando para o sofá, ajeitando as almofadas e pegando mais um cobertor para me cobrir. Acho que a última vez que cuidaram de mim assim foi da última vez que fiquei doente, isso já faz uns... 10 ou 11 anos. Tinha que admitir: gostei muito.
— O que 'bocê' tá fazendo aí? — perguntei da sala, depois de Dave passar uns 15 minutos da cozinha. Pude ouvi-lo gargalhar enquanto ele vinha em minha direção com uma bandeja nas mãos e em cima dela uma pequena tigela de sopa e um copo de suco.
— É a famosa sopa da minha mãe pra quando ficamos doentes. É tiro e queda, acredite. — ele piscou um dos olhos e depois de um beijo no topo da minha cabeça, disse que ia ao banheiro e já voltava.
Olhei ao meu redor e soltei uma risada, leve e muito agradecida. Quem mais cuidaria de mim assim? Acho que até Maya ficaria meio distante e só me jogaria umas aspirinas; ela odeia germes. Afastei um pouco as cobertas para conseguir comer e então me dei conta: estava usando a blusa de Christian.
Hoje era segunda, dois dias depois daquele nosso "encontro" bem imprevisível. Depois do chocolate quente eu tinha resolvido voltar para casa antes que Maya acordasse, e para minha sorte, ela nem tinha mudado de posição em sua cama. Então eu apenas troquei de roupa e segui o dia normal, sem levantar suspeitas ou comentar sobre o ocorrido naquela manhã. E eu pretendia manter assim, em segredo.
Já que Christian tinha conseguido meu número (por meio de um amigo de um amigo de outro amigo), começamos a trocar algumas mensagens, poucas. Eu perguntava se ele estava melhorando do machucado, ele respondia que sim, mas logo mudava de assunto. Parecia que escondia algo. E eu me pergunto: o quê mais ele poderia me esconder?
— Camisa maneira. — Dave exclamou, sentando ao meu lado e ligando a tv. — Nunca tinha visto antes.
— Ahn... ela é velha, só uso pra dormir... — nem tudo era mentira. Voltei a cobri-la com o cobertor para evitar mais perguntas. — Espera... — me virei para ele, as sobrancelhas franzidas. — você não deveria 'esdar' na aula?
— Talvez. — ele deu de ombros. — Mas minha melhor amiga está doente, eu não podia deixá-la sozinha e arriscar que ela assustasse outra pessoa.
Ele riu e eu soquei seu ombro com toda a força que eu tinha (que no caso era nenhuma). Terminei de comer a famosa sopa de sua mãe, que realmente era incrível, e deitei em seu colo, já me sentindo um pouco melhor.
Entre catarros e calafrios, o resto do dia tinha sido ótimo. Nós vimos alguns filmes, ele me fez uma massagem para aliviar a tensão em meus ombros e passamos a tarde quase toda agarrados. Claro, não muito perto do rosto pra que meus fluídos nojentos não caíssem sobre ele. Meu corpo às vezes ainda tremia de frio, mas meu coração estava aquecido.
Eu e Dave nos conhecíamos a tão pouco tempo, no máximo quatro meses, mas ele é uma pessoa por quem eu daria a minha vida, e tenho certeza que ele faria o mesmo.
Nós nos conhecemos na minha primeira semana aqui, logo depois na minha entrevista de emprego na cafeteria. Estava tão feliz por ter conseguido que fui para casa saltitante. Ou na verdade, tentei, já que entrei na rua errada e me vi totalmente perdida. Meu celular tinha acabado de descarregar e não tinha uma alma viva por perto, apenas algumas casas que pareciam estar abandonadas e árvores que me assustavam tremendamente. Eu realmente não fazia a mínima ideia de como cheguei ali ou de como voltar, então sentei na calçada e esperei um milagre acontecer. E poucos minutos depois ele aconteceu! Chegou numa bicicleta azul, os cabelos pareciam travar uma guerra entre si e tinha os olhos mais lindos que já vi. Sim, sim, era o Dave.
Ele parou ao meu lado e me encarou com uma cara engraçada.
— Já deu pra ver que você não é daqui. — ele riu enquanto estendia a mão e me ajudava a levantar. — Tá perdida, né? Ninguém é doido de vir por conta própria. Só eu, quando quero demorar pra chegar em casa.
Céus, como ele falava. Ajeitei os cabelos e limpei as roupas e tentei por no rosto minha expressão mais simpática. Estendi a mão para meu cavaleiro na armadura brilhante. Ou nesse caso, camisa de manga e calça jeans.
— Sim, sou Alexia. Acabei de chegar aqui na cidade, mas acho que você já percebeu isso...
— Alexia... vou te chamar de Aly, é mais legal.
Eu falei onde morava e ficamos surpresos por ser na mesma rua que ele. Eu subi na parte da frente da sua bicicleta e pelo resto do caminho não paramos de falar. Dave me parabenizou pelo emprego e disse que agora passaria a tomar café todos os dias só pra me visitar. Eu descobri que ele fazia faculdade de arquitetura porque desde criança gostava do desenho Bob, O Construtor. E a partir dali não nos separamos mais. Nós nos contávamos tudo, sobre o nosso dia, nossa família, nossas amizades, nossos segredos.
Bem, já fazia alguns dias que eu escondia algumas coisas dele, mais especificamente tudo relacionado a Christian. E como eu poderia falar? Ele não gostava nem um pouco do cara. Mas esse era o certo? Esconder coisas do meu melhor amigo? O cara que faltou um dia inteiro de aulas só pra me fazer companhia quando eu estava doente?
Meu peito apertou com a culpa. Dave não merecia isso. Christian realmente valia a pena?
— Ei, Terra para Aly, chamando. — saí do meu estado de transe com meu amigo me balançando. O filme tinha chegado ao fim. — Perdeu a melhor parte.
— 'Desculba', dei uma viajada.
— Já disse que você fica a coisa mais fofa de nariz entupido? — Dave pegou meu rosto entre suas mãos e esmagou minhas bochechas, fazendo um biquinho se formar em meus lábios. — Olha isso! Parece um bebêzinho...
— Cala a boca! — gargalhei e o afastei com um leve empurrão. — Já tá meio tarde né? Vai pra casa. — pontuei ao olhar as horas. — E ei, obrigada por ter ficado aqui. Mesmo não precisando...
— Eu sei que você faria o mesmo por mim, sua boba. — ele levantou, pegou suas coisas e me deu um beijo na testa. Seus lábios eram macios e mornos.
— Te amo!
Gritei antes de ele atravessar a porta. Dave se virou e me olhou nos olhos. Tinha algo diferente neles, algo que eu não sabia muito bem explicar... ele o sustentou por pouco tempo, logo voltando para o Dave divertido e bobo de sempre. Mas sua voz era baixa e séria.
— Eu também te amo.
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Uma Segunda Chance (PAUSADA)
RomanceAlexia precisava recomeçar. Cidade nova, amigos novos, vida nova. E tudo parecia correr bem até que um problema chegou para atrapalhar tudo. E esse problema tinha nome, sobrenome e endereço. E ele era lindo. Mas será que valia a pena colocar tudo q...