(Esse vai ser meio que um capítulo especial, do ponto de vista do Dave)
— Eu juro, só aconteceu. Não é como se eu tivesse planejado beijar a minha melhor amiga.
Tentei convencer Matthew pela quinta vez. Era quarta-feira, último tempo da faculdade e o cara ainda não tinha largado do meu pé. Ele estava na festa do lago e foi um dos curiosos que pegou eu e Aly no maior beijo dentro daquela despensa.
Realmente, só tinha acontecido. Eu estava bêbado, ainda não tinha beijado ninguém. E Aly estava linda pra cacete, com aquele bíquini vermelho e os lábios pintados da mesma cor. E aquele olhar que ela me lançou quando estávamos espremidos dentro daquele lugar apertado, com apenas as nossas respirações preenchendo o silêncio... ninguém em sã consciência teria aguentado.
— Tá vendo?! — não tive tempo de reagir aquele soco no meu braço, e minha testa foi direto na mesa. Xinguei aquele arrombado de mil e um nomes enquanto ele ria de mim. — Você tá caidinho nela, cara. Tá até babando.
— Você tem merda na cabeça? — esbravejei, prestes a partir pra cima dele. Na brotheragem, claro. Mas aquela porrada tinha doído de verdade.
Sorte a dele que o sinal tocou, indicando que a aula tinha acabado, se não teríamos um mano a mano ali mesmo. Enfiei minhas coisas na mochila e, depois de um belo pescotapa no meu amigo, fui embora.
Eu odiava admitir, mas ele tinha me feito pensar. Eu não estava caidinho pela Aly. Ela era bonita, óbvio. Eu poderia dedilhar seus cabelos loiros por horas sem cansar, eles eram tão macios... e seus olhos: eram exóticos, tinham uma cor que eu nunca tinha visto. Já os desenhei diversas vezes, tentando acertar, sem nunca conseguir, o tom deles: uma mistura de castanho escuro, com pitadas de verde. No sol ficavam mel, e dependendo do ângulo, brilhavam como duas esmeraldas. E ela ainda dizia que não gostava deles, falava que eram muito indecisos. E a risada dela... ah, parecia a de uma fumante, mas era linda, e ás vezes soltava aquelas fungadas que parecia de um porquinho. Era a coisa mais fofa do mundo vê-la ficar vermelha de vergonha depois disso.
Eu ficava muito mais bobo perto da Aly, só pra conseguir arrancar umas boas risadas dela. Mas todos os amigos fazem isso, né?
Pedalar para casa era uma das minhas atividades favoritas. Eu ainda não tinha carro, estava juntando minhas economias para comprar um futuramente. Quase todas as noites e em alguns finais de semana eu ajudava meu pai em sua oficina, e ele me dava uma parte dos pagamentos. Começou como uma forma de ganhar dinheiro, mas agora se tornou um jeito de passar mais tempo com ele. Depois do divórcio, ele e minha mãe só se falavam quando era coisas sobre trabalho ou que tinham o filho - euzinho - no meio.
Ser filho de pais separados não era um bicho de sete cabeças, mas para um adolescente de 15 anos tudo se tornava um drama descomunal. E esse drama se perpetuou até alguns meses atrás, quando... quando Aly chegou.
Eu tinha acabado de presenciar uma das inúmeras brigas de meus pais e tinha saído para esvaziar a cabeça, apenas pedalando sem rumo pela rua mais deserta do bairro, e ela apareceu como um raiozinho de sol num dia chuvoso. Com aqueles cabelos dourados e a expressão assustada, era um raio de sol com medo de sair para brilhar.
Não tinha como negar, nossa conexão foi imediata. Parecia que estávamos destinados a nos encontrar. E foi a melhor coisa que me aconteceu depois de muito tempo. Conversar com ela me trazia um bem estar enorme, era quase instantâneo.
E eu sabia que podia contar com ela para tudo. Se eu ligasse para ela pedindo ajuda para esconder um corpo, meia hora depois ela estaria na minha porta com uma pá na mão e máscaras preta estilo ninja.
Mas eu não estava caidinho por ela. Eu amava Aly, com certeza. Queria vê-la bem acima de qualquer coisa, e sua companhia era a melhor parte do meu dia. Esses dias que ela veio me ignorando foram uma tortura. Eu sabia que o beijo tinha mexido com ela, mas eu disse que estava tudo bem. E realmente estava, eu não seria capaz de fazer algo que acabasse nos afastando. Aly era uma das pessoas mais importantes pra mim e... merda.
Eu estava apaixonado pela minha melhor amiga.
E semanas depois, quando ela apareceu em minha porta, com a carinha mais triste e borrada do mundo, eu não tive mais dúvidas.
Não contei a ela sobre o que eu sentia, ainda era novo pra mim, e eu sabia que ela estava saindo com algum cara por aí. Ela não tinha me contado - me magoou um pouco, admito -, e isso só deixou claro que não era recíproco. Então eu engoli esse sentimento, enterrei-o num lugar bem fundo na minha cabeça e segui nossa amizade. Era o que mais importava pra mim naquele momento.
Mas ali, com ela chorando em meus braços por causa de um coração quebrado, esse sentimento criou vida de novo e acertou minha cara com um belo soco de direita. Aly podia não perceber ainda, e eu daria esse tempo a ela. Mas, um dia, ela veria que eu era o cara certo pra ela. E eu estava disposto a fazer possível para que isso acontecesse.
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Uma Segunda Chance (PAUSADA)
RomanceAlexia precisava recomeçar. Cidade nova, amigos novos, vida nova. E tudo parecia correr bem até que um problema chegou para atrapalhar tudo. E esse problema tinha nome, sobrenome e endereço. E ele era lindo. Mas será que valia a pena colocar tudo q...