Capítulo 25

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Eram duas e meia da manhã. A temperatura era amena e havia fraca brisa acariciando os rostos de Day e Carol, que montavam vigília no terraço da gigantesca mansão. Era surpreendente o quão aconchegante aquilo era para ambas, que mesmo com sono, trabalhando e sabendo que corriam perigo de ter o turno escolhido pelo assassino para retornar, levavam a situação de forma leve, mesmo com a confusão que os eventos recentes causara em sua amizade.

Carol: — Eu sinto saudades de tomar sorvete com você. — disse em meio a um suspiro, levantando o pescoço. — Não temos mais tempo pra isso, né?

DAY: — Não mesmo, mas bem que eu queria. Nós não fazemos um programa assim há uns bons meses. O Tofani nem estava na equipe ainda.

Carol: — Amiga, essa é a vida que aceitamos entrando nessa equipe, mas eu amo demais tudo que aprendi com vocês. Antes eu mal conseguia ir bem como vendedora na Fancy Flower. — fez uma imitação engraçada de suas maneiras desajeitadas ao atender clientes em seu emprego na loja de roupas. O choque que sentiu ao ser convocada e descobrir que havia uma agência secreta escondida há anos em seu local de trabalho foi grande.

DAY: — Ter você entre nós foi a melhor coisa que nos aconteceu, bebê.

A frase deixou a ruiva quase sem palavras. Estava acostumada a ouvir coisas do tipo vindas de Day, mas após uma declaração como a que recebeu da amiga, sentiu-se diferente. Apenas sorriu e encostou a cabeça no ombro da morena. Esqueceu ainda mais do perigo que o trabalho sendo executado oferecia para ela.

No terceiro quarto da casa não havia conversa. João Vitor tentava incansavelmente diversas técnicas que Francine ensinou-o para cair no sono, pois sabia que seu turno era o próximo e precisava estar atento. Entretanto, sem saber o porquê, não conseguia pregar os olhos. Queria conversar com Tofani pra entreter-se, porém constatou que o amigo dormia.

Mas Pedro também não estava nem perto de conseguir dormir. Escutava Romania contorcer-se na cama impacientemente, e só não puxava algum assunto com ele porque estava a ponto de desabar em lágrimas. Antes de dormir tentou conversar com os pais ao telefone, pois sentiu a falta deles como em toda noite. A ligação foi curta: sua mãe atendeu o telefone e desconversou sobre tudo que Tofani questionou, sem devolver perguntas como "você está bem?" ou "como foi seu dia?" para o filho.

Em algum ponto, foi inevitável que Pedro começasse a chorar. Espremeu os olhos para tentar contê-las, mas logo desistiu e seu choro foi audível.

João: — Tofani? — sentou-se na cama rapidamente. Pensava que era uma pessoa ruim por aquilo, mas deu glória a Deus por finalmente ter um motivo pra não ficar só deitado tentando desligar-se. — O que foi, garoto? Cê tá sonhando?

João se levantou e ficou de pé ao lado da cama do colega com o travesseiro na mão. Começou a balançá-lo, pensando que se tratava de um sonho ruim que o fazia chorar, como Pedro disse que acontecia às vezes. Entretanto, reparou pela movimentação dele que estava acordado. O garoto levantou a cabeça repentinamente, encarando-o em meio às lágrimas

João: — Não me assusta, Pedro, puta que pariu... — resmungou. Sentia-se preocupado com o amigo naquela situação. — Por que você tá chorando?

Pedro: — Não sei se quero falar, João.

Romania ficou em silêncio. Colocou a mão no ombro de Tofani e deu um sorriso disfarçado e sem graça, pois precisaria baixar a guarda mais uma vez para ele.

João: — Tudo bem. Você sabe, tô aqui pra tudo que precisar. Vem cá. — abraçou ele com força. — Infelizmente, quando aceitei ser seu tutor, a parte psicológica veio junto, pelo jeito. Então, se precisar gritar, chorar, me fazer pedidos estranhos do nada, tô aqui.

Pedro devolveu o abraço. Havia sido bem silencioso com João desde a ficada deles porque nada daquilo era fácil de digerir ou de aceitar, mas recebia apoio incondicional de alguém que mantinha levantada uma barreira muito resistente com qualquer pessoa.

Também abalada, Francine estava sentada na mesa de jantar principal da casa, rodeada pelos belos vasos de flores brancas e outras decorações belíssimas que ajudavam a embelezar o momento em que ligava para o melhor amigo.

Francine: — Você sabe que eu sinto sua falta aqui, né?

Renan: — Eu imagino, porque sinto a sua o tempo todo.

Ela respirou fundo, os olhos pesados. Era rotineiro que Renan acordasse no susto em plena madrugada, por conta das lembranças e sonhos que tinha com o sequestro que o traumatizou. Como Fran tinha os dias cheios, era geralmente naquele horário em que conseguiam conversar melhor, pois ela também não dormia com facilidade.

Francine: — Não se preocupe, assim que essa investigação acabar, vou tentar tirar um tempinho fora e te visitar bastante. — enrolou um fio de cabelo azul no dedo. — Podemos sair pra dançar se você se sentir bem.

Renan: — Talvez eu me sinta, você sabe, alguém tem que mandar na pista.

Fran riu alto, tapando a própria boca pra evitar acordar os outros da casa.

Francine: — É sério, Rê, vou ver isso com certeza. Preciso matar a saudade.

Sentiu o celular vibrar forte. Ao afastá-lo da orelha, percebeu que a bateria havia acabado, e sua risada foi completamente silenciada. O aperto que sentia no peito era enorme, mas não sentia vontade de chorar. Dessa vez, encontrou abrigo na conversa com Renan ao invés de entristecer-se por não tê-lo ali. Teve um motivo para sorrir sozinha, agradecendo por aquilo.

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