Doença

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Harry poupou a si mesmo de assistir a execução, pois não queria olhar nos olhos dos traidores. Preferiu ficar no castelo e presenciar a manhã chuvosa de um lugar coberto.

Respirou fundo enquanto acompanhava do parapeito o treino dos guardas reais. Os olhos verdes focaram em Zayn, o que já não era mais uma novidade, e com isso o dono deles percebeu que muito provavelmente não havia sequer tentado focar em outra coisa desde que se colocara ali.

Sua visão desviou-se para os portões e isso o lembrou do quanto estava ansioso pela volta de seu pai e de Niall. Estava mais preocupado com o irmão do que com a execução em si.

Voltou a prestar atenção em Malik, que estava em um emaranhado de braços e pernas com outro guarda, fazendo o monarca estreitar os olhos para enxergá-los melhor.

O oponente de seu amigo escorregara no chão, perdendo a luta. Um sorriso orgulhoso brotou nos lábios rosados enquanto o  via cordialmente ajudar seu colega a se levantar, saudando-o com um abraço.

O sorriso desapareceu ao lembrar que a última vez em que abraçara o guarda fora dias antes, quando percebeu que tudo tinha dado certo. Depois não conseguiu se controlar e o beijou.

Aquele beijo que poderia ter se prolongado, que poderia ter sido intenso e de língua, que poderia ter dito o que seu coração queria gritar havia tempos. Aquele beijo tão silencioso que não voltaria a ser mencionado.

As pálpebras cobriram os olhos verdes por um momento e sua mente divagou por aquele pensamento que se tornava cada dia mais repetitivo. Seu corpo desejou que fosse ele no lugar do outro guarda, que fosse segurado, que recebesse um abraço.

– Esqueça, esqueça! – Batia em sua testa.

– Esquecer o que, Harry?

Styles se virou na direção da voz pacífica e cheia de sotaque. Jamila caminhava até ele com um sorriso brincalhão no rosto.

Diferente dos outros extravagantes que tinha, o vestido daquela manhã era cor-de-rosa num tom bem claro. Ela também usava uma estola de mesma cor e não estava maquiada. O cabelo estava preso em um coque firme e decorado com a costumeira coroa delicada de cristais.

– Está tudo bem? – ela perguntou.

– Sim, só... estou tentando espantar as sensações ruins de mim. As de medo, de insegurança...

Ela concordou e uniu as próprias mãos. Foi quando o rapaz percebeu que elas estavam cobertas por luvas felpudas e brancas. Olhou para o anelar esquerdo - ainda sem aquele famigerado objeto metálico - e imediatamente pensou em outra coisa que o deixava nervoso.

– Mila... posso perguntar uma coisa a você?

– Ora, é claro!

O cacheado umedeceu os lábios antes de efetivamente falar. Qualquer palavra errada e estaria se colocando em uma incrível encrenca.

– Como imagina o nosso casamento?

Ela pareceu confusa, Harry pôde ver a testa franzir um pouco. Pensou por um momento que a princesa não responderia, mas escutou sua voz:

– Imprevisível, mas sei que daremos um jeito de fazê-lo ficar divertido. Teremos uma família, cavalos para apostar corrida, dois reinos para governar...

– Por que seria imprevisível? – perguntou o príncipe.

– Porque somos duas peças fortes no jogo de nossos pais, mas somos muito mais do que um simples tratado. O problema é que não sabemos direito como agir.

Harry mordeu os lábios, tentando refletir. Enquanto isso, voltou a olhar Zayn, que terminava de fazer abdominais. Ao se levantar, virou-se na direção da sacada.

Peculiar - ZarryOnde histórias criam vida. Descubra agora