Pílula

288 29 200
                                    


– As áreas destinadas à mineração e ao garimpo estão em escassez. Granito, calcário, quartzo, cobre, diamante, ouro...

– Papai...

– Não, Harry, eu não vou falar mais devagar. Se estiver prestando atenção, saberá cada palavra dita.

As mãos rapidamente encheram a caneta no tinteiro, voltando a rabiscar as letras corridas pelo pergaminho. Aquilo era pior do que qualquer castigo, mas reconhecia que estaria da mesma forma dali a alguns anos.

– Como dizia, as atividades neste setor estão um pouco difíceis. Mineradores e garimpeiros reclamaram do trabalho árduo para pouquíssimos resultados. Jeael poderá cuidar disso para nós.

– Temos um acordo sobre tais importações, Majestade? – perguntou um dos conselheiros.

– Sim, e está com o traseiro sentado em minha poltrona.

– Tenho que escrever isso também? – questionou o príncipe.

Harry escutou alguns homens darem risadas, por mais baixas e discretas que estas fossem.

– E por que não escreveria?

– Porque o senhor acabou de admitir que tomaremos minerais e pedras preciosas de Jeael... e... meu traseiro não precisa de descrições, imagine só como...

– Não tomaremos nada!

– Pretendemos devolver?

– Essas coisas não se devolvem!

– Então tomaremos de Jeael... – insistiu o cacheado.

Mais risadas foram ouvidas. O rei estava explicitamente insatisfeito, sua barba e bigode não foram capazes de esconder a boca em linha reta.

Harry viu o pai respirar fundo e retomar a posição:

– Como anda o pagamento dos impostos?

Um conselheiro de feição alegre deu um passo à frente, abrindo um envelope e tirando dali algumas folhas.

– O conde de Linchfoster nos avisou que pelo menos sessenta por cento da população já quitou as dívidas anuais.

– Muito bom. O restante...

– Se não houver pagamento, os envolvidos não poderão usufruir de determinados serviços públicos. Isso mesmo, Majestade.

Harry bufou, odiava aquele sistema. Era doentio, desumano, segregava e deteriorava o povo.

– O que aconteceu agora?! – Henry questionou impaciente.

– Nada...

– Ótimo!

– Apenas acho que...

– Continuando!

O cacheado girou os olhos e voltou a se concentrar em escrever.

– Nossas atividades marítimas seguem como a principal alavanca para a economia neste ano, o que é curioso... nunca vendemos tantos peixes!

"Vendemos". Harry riu, sabia que o rei sequer conhecia aqueles que realmente vendiam.

– Todavia, o setor agropecuário está decaindo, Majestade – informou outro conselheiro. – As fazendas não estão mais garantindo lucros como antes. As carnes bovinas e suínas são as que mais ganhavam.

– E como deixaram isso acontecer?! – vociferou o rei. – O que há de errado com os animais?! Falta de alimento?! Falta de fertilização?!

– Pestes, Majestade – disse o mesmo conselheiro. – Algo que se alastrou pelo pasto.

Peculiar - ZarryOnde histórias criam vida. Descubra agora